A população brasileira de idosos vem crescendo nas últimas décadas. É o que mostram os dados do IBGE: de 2012 a 2018, o número de habitantes com 65 anos ou mais cresceu 26%. Diante desse cenário, os profissionais de saúde buscam cada vez mais capacitação e conhecimentos específicos para tratar e manter a qualidade de vida desse público. Algo que não pode deixar de fora a saúde bucal.
Foi nesse movimento que o Conselho Federal de Odontologia (CFO) reconheceu a odontogeriatria como especialidade em 2002, acolhendo as características próprias do envelhecimento no cuidado com a boca.
Hoje sabemos que a perda de dentes não é um fator somente do envelhecimento, mas que está muito mais vinculada à história de vida do indivíduo, sua condição econômica e seus hábitos alimentares e de higiene. Muitos idosos com idade superior a 90 anos encontram-se desdentados, em sua grande maioria necessitando de próteses totais.
Mesmo entre os idosos que conseguiram preservar os dentes vemos uma alta prevalência de cárie e doença periodontal. Com frequência eles precisam recorrer a próteses parciais. Isso tudo pode ser ocasionado pela falta de ações preventivas, com acompanhamento periódico do cirurgião-dentista, e pela carência de conhecimento quanto à higiene oral.
Um dos principais desafios para os odontogeriatras no Brasil é o controle da doença periodontal. Por se tratar de um problema inflamatório e infeccioso indolor, ele pode passar despercebido e levar ao descontrole de doenças sistêmicas, além da perda dos dentes.
A manutenção da saúde da boca dos idosos é a soma da higiene diária dos dentes e das próteses, lembrando que a escovação mecânica com creme dental é responsável por 95% do processo. Também devem entrar em cena o uso de fio dental e as visitas regulares ao dentista. Ele poderá avaliar as mucosas da boca (pensando na prevenção do câncer), avaliar as próteses e os reflexos de medicamentos de uso contínuo na cavidade bucal.
A boca seca é, inclusive, uma das principais queixas dos idosos, e o especialista pode e deve melhorar essa situação, já que a falta de saliva compromete o uso das próteses e é um risco para doenças periodontais e cárie.
Na faixa dos 60 aos 80 anos, até como solução para as situações anteriormente descritas, os implantes são muito bem indicados pensando em conforto, estética, fonação e nutrição. Porém, há necessidade de manutenção e prevenção da doença periodontal ao redor dos implantes, quadro conhecido como peri-implantite.
Certamente, os idosos do futuro terão outra situação bucal. Ações preventivas como acesso à água fluoretada, conscientização da importância da higiene e produtos com tecnologia avançada estão tornando os dentes mais resistentes à cárie. Ainda assim, a doença periodontal está em nosso horizonte: um estudo brasileiro mostra que ela se inicia por aqui por volta dos 15 anos de idade.
Infelizmente, no nosso país, envelhecer ainda é visto como sinônimo de adoecer. Daí a importância de uma visão ampla e multidisciplinar, que inclua a gerontologia (ciência que estuda o envelhecimento) e a odontologia. Qualquer que seja a situação bucal — dentes naturais, próteses, implantes, restaurações etc. —, o idoso deve fazer um trabalho de prevenção em sua saúde bucal para ter um maior controle de sua saúde geral.
* Denise Tibério é cirugiã-dentista e presidente da Câmara Técnica de Odontogeriatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp)