O amálgama, usado na restauração de dentes, é tóxico para o organismo?
Boatos de intoxicação e elo com doenças devem ser interpretados com cautela, afirma colunista
A cárie é, sem dúvida, um dos maiores inimigos da saúde bucal. A doença danifica o dente causando pequenos buracos no esmalte e na dentina, tecido que forma o “recheio” do dente.
Seu tratamento consiste, basicamente, no cuidado do tecido cariado e na restauração desta cavidade, que é feita com resina nos dentes anteriores (da frente), e resina ou amálgama para os dentes posteriores (de trás).
Por uma questão estética e de evolução dos materiais odontológicos, hoje a maioria das restaurações são feitas com resina. Porém o amálgama ainda é usado, principalmente no setor público, e garante boa eficácia e longevidade das restaurações de dentes cariados.
Partimos do princípio que esse material é eficaz e seguro. Mas recentemente tem se propagado informações inverídicas sobre as restaurações de amálgama, dizendo que estas fazem mal à saúde do paciente e que deve ser retirada imediatamente, alegando haver risco de intoxicação por mercúrio, o que não é verdade.
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Mas de fato, o que é o amálgama?
O amálgama, também chamado de amálgama de prata, é uma liga de mercúrio, prata e estanho, resistente e estável, que tem boa aplicabilidade nas restaurações dentárias. Para ter ideia, existem relatos da literatura de restaurações deste tipo que estão em uso há mais de 30 anos, em excelentes condições.
Na odontologia, de acordo com a literatura chinesa, o amálgama foi usado pela primeira vez no ano de 659. Já na história moderna, o material tem auxiliado os cirurgiões-dentistas em restaurações por mais de 200 anos.
As polêmicas sobre o amálgama não são novas
Esta não é a primeira vez que ele é o foco de uma “guerra”. No ano de 1845, o material enfrentou sua primeira batalha, quando a Sociedade Americana de Cirurgiões-Dentistas emitiu um alerta sobre os supostos perigos do amálgama, declarando todos os materiais utilizados em restaurações como tóxicos, exceto o ouro.
Este movimento desencadeou um embate entre os profissionais da época: os que defendiam o ouro e os que defendiam o amálgama. Tanto que o período ficou conhecido como “A guerra do amálgama”. Anos depois, em 1856, a Sociedade Americana de Cirurgiões-Dentistas foi dissolvida e a American Dental Association (ADA) foi criada, e esta já defendia o uso do material.
Durante muitos anos, o amálgama foi considerado o material padrão para restaurações. Antes dos anos 1970, quase 80% do total desses procedimentos eram com amálgama e muitos permaneceram na boca dessas pessoas por mais de 20 anos.
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Segurança do amálgama
O Grupo Brasileiro de Professores de Dentística (GBPD), que há mais de 50 anos representa os professores de dentística no Brasil, e a Asociación Latinoamericana de Operatoria Dental (ALODyB) y Biomateriales, se posicionam a favor do uso do amálgama de prata.
A posição é corroborada nos Estados Unidos pela American Dental Association (ADA) e pela Food and Drug Administration (FDA), que reafirmaram que o amálgama dentário libera baixíssimos níveis de vapor de mercúrio, sendo considerado um material seguro e durável.
Por mais que as resinas se aperfeiçoem a cada ano, no setor público em especial o uso do amálgama ainda é uma opção, por conta de sua eficácia, em condições adversas de equipamentos e do meio bucal, e pelo do custo deste material.
Há muitos grupos que acreditam no fim imediato do amálgama, e realmente seu uso está mais restrito, porém o material ainda tem indicação em algumas situações.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppPreciso remover minhas restauração com amálgama?
Com a viralização de informações falsas sobre uma possível toxicidade do amálgama, houve preocupação por parte da população sobre a necessidade de remover este material do dente, o que não passa de informação errônea e não baseada em evidências.
Ainda assim, se o indivíduo quiser substituir a restauração de amálgama pela de resina, é importante que busque um profissional experiente, que vai explicar quais são as reais necessidades e realizar o procedimento de forma simples, segura e minimamente invasiva, evitando o desgaste maior do dente.
Além disso, vale ressaltar que a classe odontológico, no geral, está mais preocupada em informar e educar a população sobre a prevenção das cáries e outras doenças bucais, por meio da correta higiene bucal e de consultas regulares com o cirurgião-dentista.
*Camillo Anauate Netto é cirurgião-dentista especialista mestre e doutor em Dentística Restauradora e membro da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).