Enquanto travamos uma batalha contra o novo coronavírus, outro inimigo continua sendo uma ameaça à nossa saúde pública: a dengue.
Os primeiros casos no país foram registrados no final dos anos de 1800. Tempos depois, o Brasil, que chegou a erradicar a doença entre 1955 e o fim da década de 1960, voltou a enfrentar esse desafio, que segue se multiplicando, tal como se alastra o vetor do vírus, o mosquito Aedes aegypti.
Considerando que não existe tratamento específico e que o controle do vetor tem se mostrado uma medida insuficiente, a chegada de uma nova vacina seria uma das únicas maneiras eficazes de prevenir e controlar a dengue.
Os números dão uma ideia do tamanho do problema e da importância da prevenção em nosso país. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o Brasil registrou cerca de 1,5 milhão de casos em 2020. Na avaliação da entidade, os números são considerados “acima do esperado” nas Américas para um ano de isolamento social imposto pela Covid-19, quando caiu a circulação das pessoas e, assim, diminuíram algumas condições favoráveis à proliferação dos focos de transmissão, como acúmulo de lixo em lugares públicos.
Por outro lado, a organização considera a possibilidade de a pandemia ter contribuído para uma subnotificação de casos de dengue nas regiões endêmicas, incluindo o Brasil. Há ainda o impacto econômico da doença. O custo associado ao manejo da dengue por aqui é o maior das Américas, correspondendo a 42% dos gastos totais no continente. O investimento total no combate ao vetor atingiu 1,5 bilhão de reais em 2016, segundo estudo sobre o impacto das arboviroses.
Muito além das estatísticas, a dengue é uma doença que pode desde passar despercebida até apresentar complicações e levar à morte, caso não haja atendimento médico ágil e especializado. Embora a maioria dos casos seja assintomático (75%), infecções secundárias por sorotipos virais diferentes aumentam consideravelmente o risco de formas graves da doença, uma vez que cada infecção por um dado sorotipo só irá conferir proteção vitalícia para o mesmo sorotipo.
Assim, não é de hoje que se busca um imunizante efetivo contra a dengue. E, felizmente, chegamos ao desenvolvimento de uma nova vacina capaz de conferir proteção a pessoas de 4 a 60 anos, expostas ou não ao vírus previamente. Essa vacina foi construída a partir do próprio vírus, que foi enfraquecido e modificado para que, ao entrar em nosso organismo, promova proteção sem provocar sintomas.
De acordo com os estudos clínicos, a eficácia geral contra casos de dengue confirmados foi de 80,2%, doze meses após a aplicação da segunda dose. Ainda mais expressiva foi a a eficácia de 90,4% contra hospitalizações e de 85,9% contra a dengue hemorrágica, em acompanhamento de 18 meses. Todos esses dados estão sendo analisados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para registro do imunizante.
Avaliando o impacto na saúde dos brasileiros e o investimento necessário para ações de controle e tratamento dos doentes, não há dúvidas sobre quanto uma vacina disponível de forma abrangente traria um potencial benefício para nossa sociedade, tanto do ponto de vista sanitário como social e econômico. Afinal, como diz o ditado: melhor prevenir do que remediar. Sempre!
* Abner Lobão é diretor médico da Takeda no Brasil
C-ANPROM/BR/DENV/0004 – junho/21 – material destinado ao público geral