O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença crônica, inflamatória e autoimune.
Em resumo, o quadro é caracterizado por um desequilíbrio do sistema imunológico (exatamente o sistema de defesa do corpo), gerando uma produção aumentada de autoanticorpos e reação inflamatória em um ou mais órgãos.
A doença autoimune, portanto, é aquela na qual o organismo produz anticorpos que reagem contra estruturas do próprio organismo.
É importante ressaltar que a inflamação é um mecanismo natural do nosso sistema de defesa, disparada sempre que há algum tipo de agressão, como a causada por um trauma físico, um corte na pele ou por uma infecção, a exemplo da Covid-19.
Mas, nas doenças autoimunes, a inflamação surge sem que qualquer infecção ou trauma tenha acontecido.
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De onde vem o nome lúpus e quem está em maior risco
Ele tem origem na palavra em latim lupus, que significa “lobo”, pois, quando a condição foi descrita, estava relacionada à mancha que surge no rosto de algumas pessoas, que tem aspecto parecido com a observada na face de alguns desses animais.
Já o termo “eritematoso” remete ao aspecto avermelhado das lesões, e o “sistêmico” significa o envolvimento de todo o corpo.
É uma doença muito comum em mulheres na idade reprodutiva, entre 15 e 45 anos, na proporção de 10 a 13 mulheres para cada homem.
Mas o quadro acomete também crianças e pessoas mais idosas.
No Brasil, a doença atinge de 150 a 300 mil pessoas, e a incidência aproximada é de 4,8 a 8,7 casos por 100 mil habitantes/ano.
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As formas da doença e seus principais sintomas
Os primeiros sinais e sintomas do lúpus têm início, geralmente, entre os 20 e 30 anos. A condição pode se apresentar de duas formas: sistêmica ou localizada.
A forma sistêmica, nosso foco aqui neste texto, atinge vários órgãos, como pele, articulações, pulmões, coração, rins, vasos, nervos, entre outros. E os graus de gravidade são variados.
A forma localizada só afeta a pele, ou seja, não há qualquer manifestação nos outros órgãos – daí porque é chamado de lúpus cutâneo.
O que causa o lúpus
Não existe um motivo específico por trás do lúpus, mas sabe-se que há vários fatores que desencadeiam a doença, especialmente aspectos genéticos, hormonais, ambientais e imunológicos.
Entre os fatores ambientais, aqueles que mais contribuem para o surgimento da doença ou sua exacerbação são: exposição solar, infecções, tabagismo e estresse.
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Repercussões do lúpus sistêmico
Na fase inicial do lúpus eritematoso sistêmico, os pacientes apresentam sintomas gerais, como falta de apetite, emagrecimento, cansaço, febre e queda de cabelo.
A maioria também terá dor nas juntas e, às vezes, inchaço, o que chamamos de artrite.
Cerca de metade dos pacientes com lúpus vai ter, em algum momento da doença, inflamação na pleura (membrana que recobre os pulmões) ou no pericárdio (membrana que recobre o coração).
Aproximadamente 50% a 70% dos pacientes apresentam inflamação nos rins e evoluem com perda de proteínas na urina (urina com espuma), inchaço nas pernas e no rosto, hipertensão arterial e, nos casos mais graves, insuficiência renal com necessidade de hemodiálise.
A maioria dos pacientes também pode ter lesões das mais variadas formas na pele. A principal é o rash malar, vermelhidão na região acima das bochechas e no nariz, que imita uma “asa de borboleta”.
As lesões de pele ocorrem sobretudo em áreas de exposição solar, como face, couro cabeludo, área do decote e braços.
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Alterações nas células do sangue são frequentes e ocorrem devido aos anticorpos contra as hemácias (causando anemia), glóbulos brancos (levando a leucopenia ou linfopenia) e plaquetas (ocasionando plaquetopenia).
Sintomas neuropsiquiátricos são menos frequentes, mas podem ocorrer convulsões, alterações de humor ou comportamento (psicoses), depressão e alterações dos nervos periféricos e da medula espinhal.
O diagnóstico e o tratamento
O diagnóstico é feito através da presença dos sintomas clínicos e por alterações nos exames de sangue, urina e de imagem.
A presença do exame chamado FAN (fator antinuclear) em uma pessoa com sinais e sintomas característicos de lúpus eritematoso sistêmico permite o diagnóstico com muita certeza.
O tratamento depende do tipo de manifestação apresentada, devendo ser individualizado.
Os remédios utilizados incluem os usados para regular o sistema imunológico, como corticoides, antimaláricos, imunossupressores e imunobiológicos.
É de fundamental importância o uso diário de protetor solar, que deve ser aplicado e reaplicado ao longo dia em todas as áreas expostas à claridade.
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Além do tratamento medicamentoso, a pessoa com lúpus deve prestar atenção em questões como alimentação, sono, situações de estresse, manutenção de uma atividade física e redução do risco de infecção, que inclui vacinação (com vacinas de vírus inativado) e medidas de higiene.
O lúpus eritematoso sistêmico não tem cura. Entretanto, ao longo dos anos, novos medicamentos têm sido incorporados ao tratamento, permitindo que a doença seja considerada crônica – ou seja, é possível passar períodos sem sintomas, mas é fundamental contar com acompanhamento médico especializado contínuo.
Quando o diagnóstico e o tratamento correto são realizados de forma precoce, a pessoa com lúpus pode controlar bem quadro e, assim, viver de uma maneira plena.
*Nafice Costa Araújo é reumatologista, presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia, médica responsável pelo ambulatório de Lúpus do Serviço de Reumatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.