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Lúpus: quando o organismo luta contra ele próprio

Doença é causada por um desequilíbrio no sistema imunológico e pode afetar o corpo todo. Mas, com o diagnóstico e tratamento corretos, dá para viver bem

Por Nafice Costa Araújo, reumatologista*
10 Maio 2023, 09h38
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Lúpus eritematoso sistêmico não tem cura, mas é possível controlá-lo e ter qualidade de vida. (Foto: Eduardo Svezia/SAÚDE é Vital)
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O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença crônica, inflamatória e autoimune.

Em resumo, o quadro é caracterizado por um desequilíbrio do sistema imunológico (exatamente o sistema de defesa do corpo), gerando uma produção aumentada de autoanticorpos e reação inflamatória em um ou mais órgãos.

A doença autoimune, portanto, é aquela na qual o organismo produz anticorpos que reagem contra estruturas do próprio organismo.

É importante ressaltar que a inflamação é um mecanismo natural do nosso sistema de defesa, disparada sempre que há algum tipo de agressão, como a causada por um trauma físico, um corte na pele ou por uma infecção, a exemplo da Covid-19.

Mas, nas doenças autoimunes, a inflamação surge sem que qualquer infecção ou trauma tenha acontecido.

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De onde vem o nome lúpus e quem está em maior risco

Ele tem origem na palavra em latim lupus, que significa “lobo”, pois, quando a condição foi descrita, estava relacionada à mancha que surge no rosto de algumas pessoas, que tem aspecto parecido com a observada na face de alguns desses animais.

Já o termo “eritematoso” remete ao aspecto avermelhado das lesões, e o “sistêmico” significa o envolvimento de todo o corpo.

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É uma doença muito comum em mulheres na idade reprodutiva, entre 15 e 45 anos, na proporção de 10 a 13 mulheres para cada homem.

Mas o quadro acomete também crianças e pessoas mais idosas.

No Brasil, a doença atinge de 150 a 300 mil pessoas, e a incidência aproximada é de 4,8 a 8,7 casos por 100 mil habitantes/ano.

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As formas da doença e seus principais sintomas

Os primeiros sinais e sintomas do lúpus têm início, geralmente, entre os 20 e 30 anos. A condição pode se apresentar de duas formas: sistêmica ou localizada.

A forma sistêmica, nosso foco aqui neste texto, atinge vários órgãos, como pele, articulações, pulmões, coração, rins, vasos, nervos, entre outros. E os graus de gravidade são variados.

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A forma localizada só afeta a pele, ou seja, não há qualquer manifestação nos outros órgãos – daí porque é chamado de lúpus cutâneo.

O que causa o lúpus

Não existe um motivo específico por trás do lúpus, mas sabe-se que há vários fatores que desencadeiam a doença, especialmente aspectos genéticos, hormonais, ambientais e imunológicos.

Entre os fatores ambientais, aqueles que mais contribuem para o surgimento da doença ou sua exacerbação são: exposição solar, infecções, tabagismo e estresse.

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Repercussões do lúpus sistêmico

Na fase inicial do lúpus eritematoso sistêmico, os pacientes apresentam sintomas gerais, como falta de apetite, emagrecimento, cansaço, febre e queda de cabelo.

A maioria também terá dor nas juntas e, às vezes, inchaço, o que chamamos de artrite.

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Cerca de metade dos pacientes com lúpus vai ter, em algum momento da doença, inflamação na pleura (membrana que recobre os pulmões) ou no pericárdio (membrana que recobre o coração).

Aproximadamente 50% a 70% dos pacientes apresentam inflamação nos rins e evoluem com perda de proteínas na urina (urina com espuma), inchaço nas pernas e no rosto, hipertensão arterial e, nos casos mais graves, insuficiência renal com necessidade de hemodiálise.

A maioria dos pacientes também pode ter lesões das mais variadas formas na pele. A principal é o rash malar, vermelhidão na região acima das bochechas e no nariz, que imita uma “asa de borboleta”.

As lesões de pele ocorrem sobretudo em áreas de exposição solar, como face, couro cabeludo, área do decote e braços.

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Alterações nas células do sangue são frequentes e ocorrem devido aos anticorpos contra as hemácias (causando anemia), glóbulos brancos (levando a leucopenia ou linfopenia) e plaquetas (ocasionando plaquetopenia).

Sintomas neuropsiquiátricos são menos frequentes, mas podem ocorrer convulsões, alterações de humor ou comportamento (psicoses), depressão e alterações dos nervos periféricos e da medula espinhal.

O diagnóstico e o tratamento

O diagnóstico é feito através da presença dos sintomas clínicos e por alterações nos exames de sangue, urina e de imagem.

A presença do exame chamado FAN (fator antinuclear) em uma pessoa com sinais e sintomas característicos de lúpus eritematoso sistêmico permite o diagnóstico com muita certeza.

O tratamento depende do tipo de manifestação apresentada, devendo ser individualizado.

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Os remédios utilizados incluem os usados para regular o sistema imunológico, como corticoides, antimaláricos, imunossupressores e imunobiológicos.

É de fundamental importância o uso diário de protetor solar, que deve ser aplicado e reaplicado ao longo dia em todas as áreas expostas à claridade.

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Além do tratamento medicamentoso, a pessoa com lúpus deve prestar atenção em questões como alimentação, sono, situações de estresse, manutenção de uma atividade física e redução do risco de infecção, que inclui vacinação (com vacinas de vírus inativado) e medidas de higiene.

O lúpus eritematoso sistêmico não tem cura. Entretanto, ao longo dos anos, novos medicamentos têm sido incorporados ao tratamento, permitindo que a doença seja considerada crônica – ou seja, é possível passar períodos sem sintomas, mas é fundamental contar com acompanhamento médico especializado contínuo.

Quando o diagnóstico e o tratamento correto são realizados de forma precoce, a pessoa com lúpus pode controlar bem quadro e, assim, viver de uma maneira plena.

*Nafice Costa Araújo é reumatologista, presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia, médica responsável pelo ambulatório de Lúpus do Serviço de Reumatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.

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