Assine VEJA SAÚDE por R$2,00/semana
Imagem Blog

Com a Palavra Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

Injustiça psíquica: o SUS está pronto para os avanços da psiquiatria?

Novos exames e tratamentos despontam na psiquiatria, mas será que brasileiros que dependem da rede pública terão acesso a eles?

Por Alexandre Valverde, psiquiatra*
24 ago 2022, 10h12

No início dos anos 2000, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançava o aviso de que o século 21 seria o período da psiquiatria para a medicina. Vinte anos após a predição, jamais houve tantos casos de pessoas em tratamento psiquiátrico. Por outra via, novos campos de atuação na área se abriram, desde mudanças nas definições diagnósticas até a adoção de instrumentos científicos, testes genéticos e marcadores biológicos para determinadas condições.

O Brasil sustenta um dos maiores complexos de saúde do mundo, o SUS. Esse colosso garante cuidados para 80% da população do país, mesmo que combalido pelo desinvestimento do setor público nos últimos seis anos. Considerando o cenário pós-pandemia, como esse sistema dará acesso às novas tecnologias de diagnóstico e tratamento?

Hoje a comunidade médica sabe que a refratariedade aos medicamentos está ligada ao modo como o organismo do paciente absorve, metaboliza e reage a cada fármaco. Se o indivíduo nasce produzindo mais enzimas que degradam determinado remédio, ele durará menos tempo no organismo e terá um efeito menos intenso. Trata-se de algo relativamente comum na psiquiatria.

Atualmente já é possível fazer um mapa genético que fornece informações sobre como cada medicação produzirá efeito e será eliminada do organismo. O recurso pode poupar muitos insucessos e economizar tempo no tratamento psiquiátrico.

+ LEIA TAMBÉM: Nova era no combate à depressão

Outra descoberta recente é a relação do surgimento de quadros como depressão e ansiedade (e a dificuldade em obter sucesso em seus tratamentos) com a produção deficitária da vitamina metilfolato, a forma ativa da vitamina B9. Isso ocorre devido a uma variação genética comum que atinge 10% da população em sua forma mais intensa e até 39%, em sua forma mais atenuada.

Continua após a publicidade

Essa variação ocorre na produção de uma enzima responsável pela transformação da vitamina B9 no metilfolato dentro do corpo humano. Com pouco metilfolato, o cérebro demora mais para sintetizar os principais neurotransmissores (serotonina, dopamina e noradrenalina), ficando com menos dessas substâncias disponíveis para recrutar em caso de necessidade. Isso impacta, portanto, o tratamento de algumas condições.

Apesar de atingir uma parcela significativa da população, ainda não há pesquisas indicando que o exame de detecção dessa mutação tenha de ser feito de forma irrestrita. Na realidade, hoje somente pessoas que têm condições financeiras têm acesso ao recurso. Considerando o custo elevado da tecnologia para a maioria da população, algo que não se restringe a esse exame, seria exagero perguntar se estamos diante de uma situação de injustiça biopsíquica?

BUSCA DE MEDICAMENTOS Informações Legais

DISTRIBUÍDO POR

Consulte remédios com os melhores preços

Favor usar palavras com mais de dois caracteres
DISTRIBUÍDO POR

Não podemos nos furtar mais a esse tipo de questão. A história psiquiátrica de cada um não é somente reflexo das derivas biográficas individuais, mas depende também das raízes genéticas, biológicas, e suas complexas interações com os contextos sociais, ambientais, culturais e políticos.

A descoberta de novos exames e tratamentos demanda uma compreensão à altura da complexidade de como esses elementos estão intrincados. E uma reflexão sobre quem, de fato, terá acesso a essas inovações da medicina.

Continua após a publicidade

Como faremos uma política de saúde mental sem fecharmos os olhos para o que desponta em novos horizontes? Estamos atentos a eles?

Compartilhe essa matéria via:

* Alexandre Valverde é psiquiatra, com master em Filosofia Contemporânea, e autor do livro Ruptura, Solidão e Desordem – Ensaio sobre Fenomenologia do Delírio (FAP-Unifesp)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.