Gastrite não tratada pode virar câncer de estômago?
Quando causada pela bactéria Helicobacter pylori, a gastrite pode levar a alterações celulares em um estágio pré-cancerígeno

A preocupação com dores no estômago, queimação e desconforto após as refeições é comum entre os brasileiros. Esses sintomas são atribuídos à gastrite, uma inflamação da mucosa do estômago. Como quase todo mundo tem, muitos brasileiros negligenciam o cuidado e tratamento com a doença.
Mas isso pode ser perigoso. O câncer gástrico, também chamado de adenocarcinoma gástrico, se origina nas células que revestem o estômago. Seu desenvolvimento é multifatorial, envolvendo fatores genéticos e ambientais, como hábitos alimentares, infecção por Helicobacter pylori e doenças pré-existentes, como a gastrite crônica atrófica.
Nem toda gastrite evolui para câncer, mas, quando causada pela bactéria H. pylori, a inflamação crônica pode levar a alterações celulares e, em longo prazo, ao desenvolvimento de uma condição chamada metaplasia intestinal, um estágio pré-cancerígeno.
Outros fatores como consumo excessivo de alimentos processados, fumo, alcoolismo e histórico familiar, também aumentam o risco de câncer no estômago.
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Os sintomas iniciais do câncer de estômago são muitas vezes inespecíficos e podem ser confundidos com uma gastrite comum: dor ou desconforto abdominal persistente, sensação de saciedade precoce, perda de peso inexplicada, a fadiga constante, os vômitos e/ou presença de sangue nas fezes, além de anemia sem causa aparente.
É necessário controlar a gastrite e evitar fatores de risco para reduzir a possibilidade de desenvolvimento do câncer gástrico.
Diagnosticar e tratar a infecção por H. pylori, reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em conservantes, manter uma dieta equilibrada, rica em frutas e vegetais, evitar cigarro e álcool em excesso, além de realizar exames de rotina, especialmente para quem tem histórico familiar da doença, estão entre as atitudes preventivas.
O prognóstico do câncer gástrico depende do estágio em que a doença é diagnosticada, da localização do tumor e das condições gerais do paciente.
Nos casos em que é tratado antes de se espalhar para linfonodos ou outros órgãos, a taxa de sobrevida em cinco anos pode ultrapassar 70% a 90%.
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No estágio avançado, quando o câncer já se espalhou para linfonodos próximos, a taxa de sobrevida cai para 30% a 50%. E, em caso de metástase, se o câncer já atingiu órgãos distantes, como fígado ou pulmões, a taxa de sobrevida em cinco anos é inferior a 10%.
Entre os tratamentos disponíveis para o câncer de estômago estão a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia e as terapias-alvo. A escolha do tratamento é individualizada e depende de fatores como idade, estado de saúde e extensão do câncer.
A presença prolongada e sem tratamento da gastrite pode contribuir para alterações no estômago que favorecem o desenvolvimento da doença. Manter um acompanhamento médico, adotar hábitos saudáveis e tratar infecções por H. pylori são medidas fundamentais para reduzir os riscos.
*Ramon Andrade de Mello, é médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.