Cerca de 8% dos pacientes acometidos por uma infecção viral estão propensos a desenvolver a síndrome da fadiga crônica, também chamada de neuromielite miálgica. A condição se caracteriza por sintomas como cansaço, dores musculares e articulares, febre baixa e perda de memória. E vem sendo identificada após um quadro infeccioso grave provocado pelo novo coronavírus, principalmente em pacientes que foram hospitalizados e tiveram comprometimento no coração.
Os estudos mostram que essas pessoas podem apresentar uma alteração imunológica associada à produção de anticorpos que, em última instância, afeta a frequência cardíaca e a pressão arterial, assim como a força muscular. Em razão da formação e atuação anormal desses anticorpos, ocorrem mudanças na circulação do sangue para o cérebro e os músculos — daí os sintomas relatados.
O diagnóstico da síndrome da fadiga crônica é 100% clínico, porque não há marcadores e exames específicos para detectar a doença. É por isso que ela pode ser confundida com a fibromialgia. Mas os sintomas associados à infecção viral e o surgimento de gânglios no pescoço, axilas e na região inguinal ajudam a diferenciar a síndrome da fadiga crônica da fibromialgia. Além disso, a duração dessas duas enfermidades é diferente. A fadiga crônica se estende, em média, entre oito e 12 meses. Já pessoas com fibromialgia têm de conviver anos ou mesmo a vida toda com a doença.
O tratamento da síndrome da fadiga crônica é feito com analgésicos como paracetamol e dipirona. Como a dor crônica traz problemas emocionais, os médicos podem prescrever medicamentos antidepressivos classificados de inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina. Esses remédios melhoram o humor do paciente e sua percepção da dor.
Paralelamente, o paciente deve fazer atividade física. Exercícios aquáticos, pilates, caminhada e alongamento são bem-vindos. Devido ao cansaço, aconselhamos que o indivíduo comece com atividades de baixa intensidade e aumente o ritmo ao longo do tempo.
A síndrome da fadiga crônica não acomete apenas quem foi infectado pelo coronavírus. Pode se manifestar em pessoas que tiveram hepatite, gripe H1N1, mononucleose, toxoplasmose ou foram infectadas pelo citomegalovírus. O grupo mais suscetível à doença é formado por pessoas entre 35 e 60 anos. Em idosos, principalmente a partir dos 70, o médico precisa avaliar se a queixa de fadiga está associada à perda rápida de peso, falta de apetite e queda de energia, o que pode indicar a existência de outra doença, como um câncer.
Nesses tempos de Covid-19, o recado a reforçar é: em caso de fadiga e dor persistentes, consulte um médico.
* José Roberto Provenza é presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR)