Libido é um substantivo feminino que significa procura instintiva do prazer sexual; desejo.
Pois as questões relacionadas à sexualidade da mulher ainda são alvo de muitos tabus, que acabam dificultando que ela fale sobre seus problemas e também que busque ajuda.
Dois exemplos bem comuns são a falta de desejo sexual e também a dificuldade em obter o orgasmo. Acreditem: muitas mulheres nunca chegaram à famosa “hora H” e simplesmente não têm coragem de conversar sobre o assunto com seus parceiros.
E por que, na maioria das vezes, é tudo tão diferente para o homem? Mais vontade, mais prazer, mais orgasmo…
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A psiquiatra canadense Rosemary Basson propôs um modelo, nos anos 2000, que reconhece que o funcionamento sexual feminino ocorre de maneira mais complexa do que o masculino. E isso devido a inúmeras questões psicológicas e sociais, como:
1) Satisfação com o relacionamento: intimidade, conexão emocional, segurança, comunicação aberta e honesta com o parceiro sobre sexo.
2) Autoimagem e autoconfiança: como se sente em relação ao seu corpo, à sua aparência, ao empoderamento.
3) Relações sexuais ou experiências negativas anteriores: traumas, tabus, e crenças limitantes (“o sexo é para agradar o homem”).
4) Sobrecarga e estresse do dia a dia: a mulher muitas vezes está com a cabeça em outro lugar (filhos, casa, trabalho) na hora do sexo.
Ou seja, existem aspectos que fazem com que a libido da mulher seja um quebra-cabeça de muitas peças que precisam se encaixar perfeitamente.
A libido do homem geralmente é como um carrinho de controle remoto, cujo combustível é a testosterona: é só apertar um botão e já está pronto para funcionar.
Já a libido da mulher é como pilotar um avião: depende de um plano de voo, das condições climáticas, enfim, é bem diferente.
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Mas o que fazer?
Como lidar com essas questões e buscar soluções? Afinal, as mulheres merecem estar bem com sua sexualidade e sentir os prazeres da vida.
Como saber o que está “errado” para solucionar o quebra-cabeça?
Nesse processo, existe um ponto chave que é o melhor remédio para a sexualidade feminina: o autoconhecimento.
Mais do que qualquer tipo de medicamento, suplemento ou fórmula mágica, um dos recursos com maior capacidade de melhorar a função sexual é o autoconhecimento.
Por meio dele, é possível aprender mais sobre como funciona a sexualidade feminina, entender suas diferenças em relação ao padrão masculino e também encontrar estratégias para lidar e superar as dificuldades que se apresentam no dia a dia – como a famosa rotina, que acaba sendo a vilã da falta de prazer, do erotismo e do encantamento.
Para buscar esse conhecimento, existem muitas opções: conteúdos e aulas online com especialistas, filmes e livros.
Muitas mulheres vivem em busca de um “normal”, e se questionam sobre quantas vezes por semana devem transar com seu parceiro. Em vez disso, é importante mudar o foco para si mesma e para o companheiro, descobrindo o que é normal para vocês, como casal.
Além disso, é fundamental comunicar as reais necessidades de cada um – dentro e fora do quarto.
Desejo responsivo x espontâneo
O desejo das mulheres, especialmente após os primeiros seis a 12 meses de relacionamento, tende a ser responsivo, e não espontâneo.
Desejo responsivo significa que a mulher, em geral, não tem desejo “do nada” durante o dia. Ela não fica pensando em sexo e cenas quentes enquanto está trabalhando ou cuidando dos filhos.
Mas, quando começa a interagir com seu parceiro, o desejo vem como resposta a essa interação.
Isso é totalmente normal – mas é essencial estar aberta para entrar nessa conexão.
Vou dar um exemplo para as mulheres que estão lendo este texto: imagine que hoje à noite é a festa de aniversário de uma amiga e você chega muito cansada em casa e diz “eu não vou, não consigo, não tenho forças”.
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Mas, em seguida, você se lembra de como essa amiga é importante e querida. Aí, não só se arruma e vai, como encontra várias pessoas, se diverte e, no final da noite, reflete que ter saído de casa foi a melhor escolha.
Muitas vezes é preciso encarar o sexo assim, ou seja, como deixar a preguiça de lado e ir a uma festa. Ao se permitir começar, a sensação ao final tende a ser de que valeu a pena.
Rotina de cuidados é aliada da libido
E como a Medicina do Estilo de Vida pode ajudar neste processo?
Vários estudos mostram que ter uma boa noite de sono (durante o descanso são produzidos os hormônios sexuais, como a testosterona), praticar atividade física com regularidade e se alimentar bem são importantes para a saúde sexual e para a libido.
No quesito dieta, destaco o seguinte:
- Itens ricos em zinco, como carne, frango, lentilha e semente de abóbora
- Alimentos ricos em vitamina B, como ovos, peixe, carne, legumes e grãos integrais
- Variedade de frutas e vegetais
- Chocolate amargo, que é rico em flavonoides
E, mais uma vez, reforço a relevância do autoconhecimento, que é o verdadeiro Viagra da mulher.
Se conhecer é uma licença poética para se permitir e se entregar. Lembre-se: libido não é só sobre sexo, é sobre viver a vida. Vamos para a festa?
*Tassiane Alvarenga é médica endocrinologista pela Universidade de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem)