As leucemias são um grupo de neoplasias já conhecidas desde o século XIX, classificadas conforme o tipo de célula, e de acordo com a velocidade do seu desenvolvimento.
Elas são divididas em quatro tipos: as leucemias linfoides aguda e crônica e as mieloides aguda e crônica.
Vamos focar na leucemia linfoide (também chamada de linfocítica ou linfoblástica) aguda, mais facilmente denominada LLA.
No Brasil, estimamos 4 500 novos casos por ano, sendo que metade desses acomete menores de 19 anos, com concentração por volta dos 5 anos de idade.
A LLA é uma doença de evolução rápida e os pacientes podem apresentar episódios de infecção recorrente, febre sem causa aparente, anemia, sangramento e aumento do fígado e baço.
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Temos dois grandes grupos: a LLA B e a LLA T e, dentro dessas, subclassificações conforme características clínicas e moleculares.
O hemograma é suficiente para a suspeita diagnóstica. O mielograma é um exame coletado com uma agulha, de dentro de um osso, geralmente da bacia e, junto com outras análises laboratoriais, consolida o diagnóstico completo.
A LLA pediátrica foi um dos primeiros tipos de câncer a ser tratado com sucesso quando, em 1947, uma publicação mostrou uma criança com controle temporário da doença por meio do uso de quimioterapia.
A partir dos anos 60, alguns pacientes no exterior passaram a ser curados e sobreviver por longo tempo.
Porém, foi nos anos 70 e 80 que esses índices tiveram um crescimento expressivo.
No Brasil, o Grupo Brasileiro para Tratamento de Leucemias na Infância (GBTLI) tem dados publicados desde os anos 80 e, até hoje, segue ativo na geração de novos estudos e publicações.
Com a quimioterapia convencional atingimos um platô de cura (estabilização no número de novos casos) entre 70 e 85%, dependendo do estudo.
O transplante de medula óssea, usado para pacientes de alto risco, também contribuiu para curar milhares de indivíduos. Depois desse procedimento, não tivemos nenhum tratamento realmente novo até perto de 2007.
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Medicamentos em destaque
Os linfócitos T são importantes células de defesa do nosso organismo, existindo subtipos para funções específicas.
Eles são capazes de destruir organismos invasores e células doentes. Ocorre que, em alguns tipos de câncer, como é o caso da LLA, eles conseguem se “esconder” dessa linha de defesa.
O blinatumomabe é um medicamento curioso, denominado Bite. Ele é um anticorpo que tem duas pontas, e cada uma delas têm uma “cola” diferente – uma que se “gruda” ao linfócito T, e outra ao linfócito doente do tipo B.
Sem esse produto, o linfócito T simplesmente não “enxerga” a célula doente. Assim, o blinatumomabe é capaz de fazer com que os próprios linfócitos de defesa do paciente destruam as células doentes, aproximando uma da outra.
Os dados mostram que o medicamento é útil em crianças e adultos, onde houve o retorno da doença (recidiva), permitindo que muitos cheguem ao transplante de medula óssea.
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Essa terapia foi superior ao tratamento com quimioterapia, sendo, inclusive, menos tóxica.
No Brasil, por muito tempo o blinatumomabe só foi usado por pacientes com plano de saúde ou através de judicialização.
Recentemente, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) aprovou o uso do blinatumomabe em LLA pediátrica recidivada, mas ainda faltam passos até a definitiva disponibilização para os pacientes do SUS.
Isso vai permitir um aumento nas chances de cura de muitos brasileiros.
Vale ressaltar que o medicamento também é bem-vindo a outros grupos: estudos em lactentes, adultos e idosos têm mostrado resultados positivos, inclusive em primeiro tratamento.
A consolidação dos dados e a inclusão dessas indicações em bula são aguardadas ansiosamente.
Outra terapia em destaque são as células CAR-T geneticamente modificadas para atacar as células doentes. Esse tratamento é usado quando os outros falham, e tem obtido resultados muito bons para as LLAs de difícil manejo.
Entretanto, o acesso ao medicamento, que é de alto custo, tem sido alvo de debate tanto no SUS quanto na rede privada.
Vivemos um novo momento no tratamento das LLAs em todas as faixas etárias com significativa melhora nos índices de cura. Porém, o acesso e os custos devem ser amplamente discutidos com a sociedade.
*Cláudio Galvão de Castro Junior é médico hematologista com atuação em oncologia pediátrica e transplante de medula óssea da Hemomed – Instituto de Oncologia e Hematologia São Paulo e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE)