A estratégia que pode ajudar a tratar o câncer infantil
Medicina de precisão leva a condutas mais específicas, como o uso de medicamentos alvo após uma análise detalhada do DNA tumoral
Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que quase oito mil novos casos de câncer infantojuvenil devem ocorrer no triênio de 2023 a 2025, por ano, no Brasil. A detecção precoce e o tratamento adequado em centros especializados, podem levar as chances de cura na casa dos 85%.
O que difere a doença nos mais novos dos casos que ocorrem em adultos é sua imprevisibilidade. Isso significa que o foco não é a prevenção, mas sim o diagnóstico precoce e preciso. Porém, para um grupo específico de indivíduos que têm condições genéticas que predispõem ao câncer, intervenções prematuras fazem toda a diferença.
É aí que entra a medicina de precisão, que permite fazer uma avaliação ampla do paciente, utilizando como base a análise detalhada do DNA.
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Por que estudar a população pediátrica?
O câncer infantojuvenil apresenta características genéticas singulares, distintas da doença em adultos. Com a análise molecular tumoral, pode-se identificar mutações que levam a um diagnóstico mais preciso, além de direcionar melhor tratamentos mais específicos e eficazes.
A pesquisa Tratamento guiado com precisão em cânceres pediátricos de alto risco, publicada ano passado na revista científica Nature aponta que a medicina de precisão pode encontrar novas estratégias terapêuticas para os pacientes pediátricos.
Nesse estudo, 384 pacientes com tumores de alto risco foram acompanhados por 18 meses após o tratamento; 256 receberam recomendações guiadas a partir de sequenciamento genético e tiveram melhores taxas de sobrevida, quando comparados a paciente que receberam a abordagem padrão ou terapia-alvo não norteada por avaliação molecular.
Aqui, no Brasil, existem iniciativas que visam incorporar a medicina de precisão na prática clínica do oncologista pediátrico. Um bom exemplo é o projeto Identificação de Mutações de Predisposição ao Câncer Infantojuvenil, idealizado pelo Comitê de Medicina de Precisão da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), do qual o Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci) participa.
O objetivo do trabalho é implementar um painel de avaliação molecular para identificar alterações gênicas de predisposição ao câncer pediátrico, trazendo para pacientes e suas famílias a oportunidade de reconhecer uma condição que requer intervenções e manejo detalhados.
É importante discutirmos a medicina de precisão como um caminho possível e necessário em nosso país para atingirmos taxas de sobrevida equivalentes a países de alta renda. A incorporação de algumas tecnologias, como esta, é crucial.
*Carolina Vince é oncopediatra do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci) e membro do Comitê de Medicina de Precisão da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope).