Com uma rotina agitada, eu e minha esposa costumávamos comer fora de casa todos os dias. Tudo mudou quando ela foi diagnosticada com a doença celíaca – quadro que demanda uma restrição em relação ao glúten.
É que o contato com essa proteína pode disparar sintomas como barriga estufada, gases, diarreia, etc. Em longo prazo, podem ocorrer lesões no intestino, perda de peso, osteoporose e até câncer.
O médico brincou: “Amigo, se separe”. Na hora, fiquei confuso. Mas não demorou para entender o quão difícil é a vida de uma pessoa celíaca.
Afinal, o glúten está presente em cereais como o trigo, o centeio, a cevada e o malte. Em resumo, ele se encontra em uma infinidade de alimentos.
O choque de realidade aconteceu na primeira visita ao supermercado. Além de encontrar poucos produtos adequados, os preços eram absurdos. Como é possível um único pão francês custar R$ 5?
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E comer fora de casa não era mais uma opção viável. Não tinha local apropriado!
Aos poucos, entendi o cruel conselho do médico, mas encarei essa mudança de vida como um sinal.
A partir daquele momento, senti que precisava fazer algo para construir um futuro diferente.
Ora, e se meus filhos ou netos fossem diagnosticados com essa doença dali alguns anos e a situação continuasse a mesma? Não podia ficar de braços cruzados.
Durante uma viagem à Itália, percebi o quão avançados eles estavam na inclusão de pessoas celíacas. Para ter ideia, pequenas cidades italianas ofereciam mais opções seguras de alimentos do que São Paulo.
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E se em São Paulo havia essa dificuldade, imagine em cidades menores! Então, retornei determinado a pensar em alguma iniciativa em meu país.
Pesquisei sobre projetos de lei e as ações do governo em relação à comunidade celíaca, mas não encontrei absolutamente nada.
Minha esposa levou 36 anos para receber o diagnóstico. Como isso é possível?
Daí criei o Movimento Celíacos do Brasil. O objetivo é dar voz às pessoas celíacas junto ao governo e exigir ações que promovam a inclusão desse grupo na sociedade.
Buscamos levar informações sobre alergias alimentares para as escolas, por exemplo.
Queremos que as crianças celíacas possam frequentar esse ambiente com segurança, sem preocupação em ter contato com tintas, massinhas de modelar e outros itens diários. Pois é: o glúten não está só no pão e na massa.
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Queremos garantir também que elas tenham uma alimentação segura e que os professores estejam cientes de que esses meninos e essas meninas não podem comer o mesmo que os colegas – nem mesmo um pouco, pois a reação ao glúten não depende de quantidade.
Nosso sonho é que essas crianças sejam convidadas para festinhas de amigos, mesmo que precisem levar seus próprios doces.
Queremos que as pessoas de baixa renda que convivem com a doença recebam apoio do governo para se alimentarem de forma segura e saudável.
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Queremos que o diagnóstico seja rápido e realizado no início da vida.
Desejamos que as pessoas celíacas tenham acesso às mesmas oportunidades que todos os outros, sem exceção.
Não podemos aceitar que alguém passe o resto da vida entrando em contato com empresas para saber sobre a composição dos produtos, já que nem sempre os rótulos são claros.
Maio é o mês mundial de conscientização sobre a doença celíaca. Vários locais pelo mundo são iluminados de verde para divulgar essa condição.
Neste ano, o Movimento Celíacos do Brasil convidou o Shopping Light, o Centro Cultural FIESP, o Cristo Redentor e a Usina de Itaipu para representarem o Brasil nessa ação. Esses locais serão iluminados de verde.
Mas queremos mais, muito mais.
*Eduardo Vidal é empresário e idealizador do Movimento Celíacos do Brasil