Também conhecida como bronquite crônica e enfisema pulmonar, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) representa um desafio nacional de saúde pública.
Trata-se da quarta causa de óbitos no país, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). A estimativa é de que 7 milhões de pessoas no Brasil vivem com DPOC. Onde e como estão essas pessoas?
Estamos falando de uma doença altamente subdiagnosticada, sem cura, progressiva e incapacitante, que pode levar à falta de ar em pequenos esforços. Estamos falando de muitos pacientes para poucos médicos especialistas e centros de referência. Estamos falando ainda de uma doença desconhecida.
A pesquisa “Retrato da DPOC na Visão dos Brasileiros”, conduzida pela VEJA SAÚDE com o apoio da farmacêutica Chiesi, indicou que a falta de conscientização culmina em piores cuidados e perda da qualidade de vida.
Segundo o levantamento, 26% da população em geral não sabe o que significa a sigla DPOC e mais da metade não procura atendimento quando tem sintomas relacionados à ela.
É um cenário de desconhecimento, subdiagnóstico e consequente dificuldade de acesso a especialistas e a tratamento.
Eis alguns desafios para superar o quadro atual: dar visibilidade à DPOC na Atenção Primária no Sistema Único de Saúde (SUS); promover o acesso à espirometria, exame necessário para o diagnóstico; qualificar profissionais de saúde não especialistas para que possam reconhecer e cuidar dos portadores; expandir e desburocratizar o acesso a tratamento no SUS.
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Ainda, não podemos falar de DPOC sem mencionar que o tabagismo é uma das principais causas da doença. Os cigarros eletrônicos, usados principalmente pelos mais jovens, podem levar ao crescimento de casos de DPOC na população brasileira, um alerta que tem sido feito por diversas instituições.
Combater qualquer forma de fumar também é um dos desafios para cuidarmos melhor da saúde pulmonar da nossa população.
As organizações de pacientes têm muito a contribuir nesse cenário de desafios, dialogando com os médicos, participando da discussão sobre a elaboração de políticas públicas e protocolos ou estabelecendo canais de atendimento à população, para oferecer informações sobre locais de tratamento, centros de referência e direitos dos pacientes.
Na Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas (Abraf), recebemos pessoas que estão perdidas na rede do SUS, com dificuldades para fechar seu diagnóstico ou de obter consultas com especialistas.
Para quem já tem o diagnóstico, temos outros entraves que dificultam a adesão ao tratamento. Seja porque pacientes precisam ir a mais de uma farmácia da rede pública para conseguir todos os medicamentos necessários; seja porque o uso de dispositivos inalatórios não é simples e muitos pacientes saem com dúvidas dos consultórios médicos.
No SUS, o tratamento é estabelecido pelo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de DPOC aprovado em âmbito federal em 2021. Mas a realidade da implementação e regulamentação dessas diretrizes varia consideravelmente entre os estados, o que gera desigualdades no atendimento.
Como vimos, são muitos os desafios para cuidarmos bem de quem tem DPOC. Desde aumentar a conscientização, promover acesso a diagnóstico e permitir que os pacientes recebam tratamento adequado e multidisciplinar.
Mas, assim como são vários os obstáculos, há muita gente disposta a somar nessa caminhada. Que possamos colocar os pacientes no centro e unir esforços!
Flávia Lima, jornalista, pós-graduada em Saúde Coletiva e em Comunicação em Saúde pela Fiocruz Brasília. É Presidente da Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas (Abraf)