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Dexametasona contra a Covid-19: boa notícia que pede cautela

Médico celebra o potencial desse corticoide no tratamento do coronavírus, mas adverte para o uso sem orientação médica e os perigosos efeitos colaterais

Por Dr. Carlos Eduardo Barra Couri, endocrinologista*
Atualizado em 17 jun 2020, 17h42 - Publicado em 17 jun 2020, 12h20
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  • Finalmente uma boa notícia na luta contra o coronavírus! Pesquisadores britânicos divulgaram um estudo, ainda não publicado em periódicos científicos, com os excelentes resultados do uso da dexametasona no tratamento de formas graves de Covid-19.

    A dexametasona é um corticoide (mais especificamente, um glicocorticoide) já encontrado no mercado e que se mostrou capaz de reduzir significativamente o risco de morte em pessoas entubadas ou mesmo necessitando de oxigênio sem necessidade de entubação.

    O racional é o seguinte: a reação inflamatória de alguns pacientes diante do coronavírus é tão agressiva que chega a ser tão ou mais deletéria que a infecção em si. É essa resposta fora de proporção do organismo que leva tantos casos às formas mais graves de Covid-19, fenômeno conhecido como tempestade inflamatória.

    A dexametasona abranda a tempestade e permite que o organismo se recupere mais facilmente. No estudo, a medicação era usada na forma injetável ou via oral caso o paciente tivesse condições de engolir o comprimido.

    É importante destacar, porém, que, pelas pesquisas até o momento, o uso desse glicocorticoide diminuiu o risco de morte, mas não em todos os pacientes, e que não se constatou benefício nos quadros leves de Covid-19. O medicamento também não tem poder preventivo frente à infecção.

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    Daí meu aviso: nem pense ir à farmácia para comprar dexametasona ou outro corticoide sem indicação médica e pensando em evitar ou controlar em casa um eventual caso de Covid-19.

    Os riscos do corticoide

    Você sabia que nosso organismo produz, ele mesmo, glicocorticoides? Pois é, são hormônios fabricados pelas glândulas adrenais, localizadas acima dos rins, nos dois lados do corpo. A medicina aprendeu há décadas a imitar essas substâncias com drogas que simulam seus efeitos.

    Embora sejam utilizadas em diversos contextos como anti-inflamatórios, elas apresentam potenciais reações adversas, algumas bem críticas.

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    O uso em doses elevadas ou por longo período pode promover ganho de peso, pressão alta, colesterol e triglicérides elevados, diabetes, glaucoma, catarata, osteoporose, acne, crescimento de pelos… E chega até a levar à infertilidade. Quantos efeitos colaterais!

    E mais: quando empregado por muito tempo, o remédio não pode ser suspenso abruptamente, porque as glândulas adrenais não estão mais preparadas para produzir o hormônio naturalmente. Aí o desmame da droga tem de ser gradual.

    Existem, sim, pessoas que precisam utilizar a dexametasona ou outro glicocorticoide de forma crônica, mas aí esses pacientes precisam ser acompanhados e monitorizados pelo médico para flagrar e combater os eventos adversos.

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    Por isso tudo, na minha humilde opinião, remédios desse tipo deveriam ser vendidos, desde sempre, somente sob orientação e receita médica.

    Não faz sentido comprar dexametasona para prevenir ou tratar em casa um quadro de Covid-19. Por favor, não faça desse medicamento um veneno.

    * Dr. Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista e pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

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