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Descortinando o papel da vitamina D na Covid-19

Uma especialista traz o que se sabe até agora sobre o efeito da vitamina D na prevenção e no tratamento de infecções como a Covid-19

Por Marise Lazaretti Castro, endocrinologista da Sbem*
Atualizado em 16 mar 2023, 16h48 - Publicado em 1 dez 2020, 19h40

Uma das coisas que aprendemos nestes meses de pandemia é que o novo coronavírus (Sars-CoV-2) tende a provocar mais complicações em certos grupos da população. Estamos falando de idosos, obesos, diabéticos, asmáticos, portadores de outras doenças crônicas… E aqui há um fato curioso: os mesmos grupos que desenvolvem a forma grave da Covid-19 são também os de maior risco para deficiência da vitamina D.

Antes de abordar esse fato e suas repercussões, vamos conhecer essa substância mais de perto. Produzida na nossa pele quando tomamos sol, ela foi inicialmente identificada há cerca de 100 anos atrás como sendo fundamental para a saúde dos ossos. Sua deficiência grave leva a uma doença chamada de raquitismo (osteomalácea), que é a falta de mineralização dos ossos. Isso causa deficiência de crescimento e encurvamento dos ossos nas crianças, dor óssea, fraqueza muscular e fraturas nos adultos.

Como a vitamina D é escassa nos alimentos, nós dependemos da exposição solar para uma produção suficiente. Por esse motivo, suas concentrações no sangue apresentam uma sazonalidade. Isto é, são maiores durante os meses de verão e mais baixas nos meses de inverno.

Os idosos compõem o principal grupo de risco para essa deficiência. Entre outras coisas, a pele envelhecida não é tão eficiente para promover a produção de vitamina D e os mais velhos tendem a ficar em ambientes fechados e usar roupas mais pesadas, deixando pouca superfície de pele exposta para captar os raios solares.

Os obesos, diabéticos e doentes crônicos em geral também costumam se expor menos ao sol. E possuem características próprias de suas condições que propiciam o aparecimento da deficiência de vitamina D.

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Além da já reconhecida importância para a saúde do esqueleto, sabemos hoje que a vitamina D é importante para o funcionamento do sistema imunológico, o responsável pela defesa do corpo contra vírus, bactérias e outros agentes infecciosos. Estudos antigos já associavam os surtos sazonais de gripe a uma possível deficiência de vitamina D que ocorre durante os meses de inverno, especialmente nos países de clima temperado. Nesses locais, as epidemias de influenza aparecem durante os períodos frios, e praticamente desaparecem no verão.

E mais: descobriu-se que o pulmão é um órgão-alvo para a vitamina D. Sua suplementação é capaz de melhorar a capacidade respiratória e reduzir a inflamação nos indivíduos com deficiência. Lembre-se de que o coronavírus afeta os pulmões.

Um trabalho publicado em 2017 fez uma coletânea de estudos anteriores (meta-análise) e concluiu que a correção da deficiência de vitamina D diminuiu em cerca de 12% o número de infeções respiratórias agudas. Quando a deficiência era inicialmente mais grave (concentrações de 25 hidroxivitamina D menores do que 10 ng/mL), a reposição reduzia as infecções respiratórias agudas em 70%!

Foi com base nesses conhecimentos prévios que diversos pesquisadores europeus, americanos e até mesmo brasileiros começaram a avaliar o status de vitamina D nos seus pacientes com Covid-19. Eles observaram que a maioria dos casos graves possuía concentrações baixas de 25 hidroxivitamina D. Mas atenção: no caso específico do coronavírus, não sabemos se a correção da deficiência modificaria o curso da doença ou o risco de contágio. Vários estudos clínicos estão sendo conduzidos no momento — em breve os resultados devem ser publicados.

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Enquanto isso, um pequeno estudo espanhol, realizado em um único hospital de Córdoba e publicado recentemente, notou que a correção rápida da deficiência de vitamina D em pacientes internados melhorou a evolução da insuficiência respiratória. Entre quem possuía uma carência da substância, 50% precisou de UTI. Nos tratados com vitamina D, a taxa foi de apenas 2%. De novo: vale destacar que os dados promissores são oriundos de um estudo pequeno, e que os resultados precisam ser reproduzidos por outros centros e em grupos maiores de voluntários antes de confirmarmos um papel protetor.

Entretanto, com base nos dados publicados até agora — e que estamos apresentando no 34º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia —, é prudente recomendar que se evite a deficiência de vitamina D. Isso pode ser feito com as doses padrões estabelecidos pelas tabelas nutricionais, que variam entre 800 e 2 mil unidades internacionais (UI) por dia para adultos e idosos. Essas doses são seguras e suficientes para evitar deficiências graves. Converse com um profissional de saúde.

Mas atenção: a Sociedade de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) alerta para os riscos das chamadas megadoses de vitamina D, muitas vezes divulgadas pela internet inclusive para tratamento da Covid-19. Elas não devem ser utilizadas por riscos de intoxicação grave e por falta de evidências científicas que as justifiquem.

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*Dra. Marise Lazaretti Castro é diretora do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e professora adjunta de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

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