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Depressão causa câncer? Entenda a complexa relação entre as doenças

Estudo com mais de 300 mil pessoas mostrou que o transtorno depressivo não aumenta a incidência de tumores. Mas há um elo indireto entre os dois problemas

Por Ariel Kann, oncologista*
Atualizado em 14 set 2023, 10h46 - Publicado em 13 set 2023, 17h59
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A relação entre câncer e depressão existe, mas não é exatamente de causa e efeito (Nik Neves/SAÚDE é Vital)
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“Doutor, ele sempre foi muito nervoso, sempre guardou tudo para ele.”

“Você acha que este câncer pode ter surgido de uma grande mágoa?”

“Tá vendo? A culpa foi daquela briga com seu filho!”

Diariamente, os oncologistas lidam com estes argumentos de paciente e seus familiares no momento em que o câncer é descoberto.

Do ponto de vista científico, a minha resposta para eles é que as causas do câncer são múltiplas e algumas ainda desconhecidas. Depende do tipo de tumor, fatores genéticos e ambientais, além do envelhecimento.

Alguns destes riscos podem ser minimizados ao longo da vida, tomando medidas como não fumar, ter uma alimentação equilibrada, praticar atividade física, manter a vacinação em dia, evitar exposição solar excessiva etc.

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Já a associação entre câncer e depressão ou ansiedade traz à tona a discussão da causalidade.

Pacientes com câncer enfrentam um grande sofrimento emocional. Ansiedade e depressão estão presentes em 1 em cada 3 pacientes oncológicos, e o diagnóstico nem sempre é fácil.

Os sintomas relacionados com a doença e, muitas vezes, com o tratamento, podem mascarar um problema na saúde mental. Alguns pacientes já têm transtornos psíquicos antes, enquanto outros só o manifestam após o diagnóstico do tumor.

Estudos já demonstraram que a depressão em pacientes oncológicos aumenta o risco de mortalidade. Talvez por causas físicas, como a produção de mediadores inflamatórios ou alterações hormonais, mas também pela dificuldade em navegar pela complexa jornada de tratamento.

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E isso também tem o efeito oposto: a chance de o paciente acometido por depressão não aderir o tratamento é três vezes maior.

+ Leia também: A navegação na jornada de tratamento do câncer de mama

A relação entre câncer e depressão sob a luz da ciência

Sabemos que variáveis que cercam a depressão e ansiedade também são fatores de risco para o câncer. Por exemplo, sedentarismo, obesidade, tabagismo, etilismo e a menor procura à atenção médica.

Como, então, separar estas variáveis para entender se há alguma causalidade?

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Um recente estudo holandês realizou uma metanálise individual com mais de 300.000 voluntários da Holanda, Reino Unido, Noruega e Canadá, e não notou aumento de incidência dos tipos mais comuns de câncer ao longo dos anos em pessoas com ansiedade ou depressão.

Estatisticamente, houve um aumento na incidência para casos de câncer de pulmão e outros tipos relacionados ao tabagismo.

Porém, após ser feito um ajuste para questões sociodemográficas, foi visto que este resultado se devia às covariáveis (fatores de risco compartilhados) e não pela depressão ou ansiedade em si.

E agora?

Certamente, não estamos diante de um estudo definitivo. Comprovar cientificamente que hábitos, dieta ou doenças psíquicas são causas de um tumor é algo extremamente complexo.

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E vale lembrar que, quando o a assunto é câncer, não estamos falando de uma só doença. São centenas de tipos e subtipos – cada um com uma biologia, agressividade e resposta ao tratamento diferente.

Não devemos minimizar os efeitos das emoções para nossa saúde. Outras doenças, que não o câncer, podem ser deflagradas por estresses psicológicos ou sentimentos negativos extremos.

Além disso, o Brasil está entre os países com maior prevalência de ansiedade e depressão. A pandemia piorou estes números. Devemos buscar sempre o equilíbrio na vida pessoal, familiar e profissional, manter bons laços sociais e afetivos, lidar com a espiritualidade e buscar solucionar conflitos que tiram o nosso sono.

Por outro lado, estes resultados ajudam a combater a terrível culpa que aflige alguns pacientes oncológicos de forma injusta e inexplicável.

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O transtorno ansioso-depressivo não é uma escolha do indivíduo. E culpabilizar o doente não ajuda no enfrentamento da doença.

Seja com câncer ou com depressão ou ansiedade, o fato é que é preciso suporte, cuidado e motivação para seguir firme no tratamento.

* Ariel Kann é head do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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