Uma doença tem gerado preocupação nas autoridades sanitárias e na população em geral, acendendo um alerta para aprimorar o que aprendemos no combate à Covid-19. O vírus da monkeypox nos remete à varíola humana (smallpox), doença que foi um flagelo para a humanidade mas felizmente acabou erradicada em 1980 graças à vacinação.
Hoje conhecemos um grupo viral, o Orthopoxvirus, com patógenos aparentados que provocam lesões semelhantes em mamíferos selvagens e de criação. Eles recebem o nome da espécie onde foram identificados: cowpox (vaca), camelpox (camelo), rabbitpox (coelho), monkeypox (macaco)…
Ocorre que nem sempre a espécie em que o vírus foi descoberto é a hospedeira natural. Isso é ilustrado pelo monkeypox: ele não infecta macacos na natureza, mas consegue saltar entre espécies diferentes. É encontrado, na verdade, em roedores do continente africano. E aprendeu a infectar o homem — o que acontece na África há algum tempo.
Há duas linhagens principais, a Centro Africana, mais letal, e a Oeste Africana, responsável pelo fenômeno global, com letalidade muito mais baixa.
Surtos anteriores comprovaram que a doença é transmitida de pessoa para pessoa. A forma mais comum e eficiente é o contato com as lesões, pois elas carregam uma quantidade enorme de vírus. Na crise do momento, é recorrente o acometimento da região genital, tornando evidente a predominância da transmissão sexual. Estamos estudando se houve mutações no vírus que ampliaram essa via de disseminação.
O fato é que o monkeypox se espalhou pelo mundo e, com mais de 31 mil casos, já possui transmissão comunitária — que não depende de viajantes contaminados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou uma emergência internacional para evitar uma nova pandemia. É uma oportunidade de aplicarmos as lições da Covid.
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Na prevenção, existem duas medidas essenciais. A primeira é evitar contato próximo com indivíduos com lesões — embora o vírus possa ser transmitido por via respiratória, isso só ocorre em contatos próximos e longos.
A segunda é vacinar. Por enquanto, existem vacinas disponíveis em pequenas quantidades, que empregam o vírus da varíola humana na forma atenuada e não replicante, priorizadas para pessoas em maior risco de contrair o monkeypox — a produção de imunizantes está sendo retomada diante da demanda.
No diagnóstico, o lema é identificar quem está com as lesões e isolar até seu restabelecimento. Parece simples, mas na prática outros agentes infecciosos causam feridas que podem confundir. A ideia é que o teste de PCR, feito com material colhido das lesões, seja realizado só em indivíduos com sintomas.
Em relação ao tratamento, não existe nenhuma medicação específica até agora, mas o antiviral tecovirimat, aprovado para a varíola na Europa e nos EUA, vem sendo utilizado de forma emergencial (inclusive no Brasil) e é objeto de estudos clínicos para monkeypox.
O futuro da doença depende de nós. Temos as condições de controlá-la, orientando a prevenção, testando casos suspeitos, usando vacinas e buscando acesso a medicamentos eficazes, o que também ajuda a conter a disseminação do vírus.
* José Eduardo Levi é virologista, pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da USP e superintendente de Pesquisa & Desenvolvimento da Dasa