O funcionamento correto do coração depende de quatro válvulas cardíacas, que se abrem e fecham constantemente para coordenar a passagem do sangue pelo órgão. Entre elas, está a válvula aórtica. Em razão do próprio envelhecimento, essa estrutura pode sofrer uma obstrução ou estreitamento que dificulta a circulação, quadro chamado de estenose aórtica.
A estenose aórtica é uma doença que acomete 5% da população com idade acima de 75 anos e sua prevalência aumenta com a idade. Entre os sintomas da doença, estão cansaço, desmaios ou dor no peito. Sem o devido tratamento, 50% dos pacientes diagnosticados com a condição e sintomáticos morrem em um ano.
A única solução definitiva é realizar a substituição da válvula aórtica por uma prótese. Isso pode ser feito com a chamada cirurgia de “peito aberto”, em que o médico precisa abrir a caixa torácica do paciente, ou com um método minimamente invasivo, que agora foi incorporado no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Trata-se do TAVI – da sigla em inglês Transcatheter Aortic Valve Implantation –, técnica minimamente invasiva que realiza o implante por meio de um cateter introduzido na região da virilha, que segue até o coração, restabelecendo o fluxo sanguíneo. O procedimento é feito sem cortes, com uso de anestesia local e sedação leve.
Muitos pacientes, inclusive, recebem alta após um dia, enquanto os que fazem a cirurgia aberta têm um tempo médio de internação de uma semana. O TAVI surgiu como uma excelente opção de tratamento e mudou paradigmas da estenose aórtica, tendo resultados equivalentes ou até superiores à cirurgia e podendo ser realizado mesmo em pacientes muito idosos e com risco cirúrgico proibitivo.
Até recentemente, os pacientes de planos de saúde tinham de recorrer à judicialização para serem submetidos à TAVI. Com a incorporação, o cenário muda. Essa conquista foi fruto do trabalho da SBHCI (Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista), que luta por esta incorporação desde 2013.
Com a evolução das próteses (válvulas) e maior experiência dos operadores, houve melhora expressiva dos resultados da TAVI com redução da mortalidade por causas cardíacas e maior segurança do procedimento.
Há inúmeros estudos internacionais que provam os benefícios da técnica. No Brasil, realizamos um estudo no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, que apenas ajudou a comprovar a evolução do TAVI. Verificamos redução na mortalidade cardíaca em 4 vezes entre o início da experiência do procedimento e os dias atuais, com baixo risco de complicações e bom desfecho de segurança.
Enfim, não há como negar a importância desta incorporação, pois o TAVI veio para revolucionar o tratamento da estenose aórtica.
* Fernanda Marinho Mangione é cardiologista, diretora de Avaliação de Tecnologia em Saúde da SBHCI (Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista) e médica do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz