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Câncer: precisamos curar as crianças desse mal milenar

Hoje é Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, data que marca a necessidade de dar acesso a tratamentos de ponta a populações vulneráveis

Por Sidnei Epelman, oncologista pediatra*
Atualizado em 23 nov 2022, 14h11 - Publicado em 23 nov 2022, 14h11
câncer infantil
Todas as crianças precisam ter acesso a tratamentos de qualidade contra o câncer. (Foto: National Cancer Institute/Unsplash/Divulgação)
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Câncer é o nome geral que se dá às doenças que, segundo definição da OMS (Organização Mundial da Saúde), se caracterizam por crescimento descontrolado de células que se espalham de uma parte do corpo para outras.

Embora a cura de alguns tipos de cânceres não esteja à vista em qualquer futuro próximo, as chances de a pessoa se ver livre da doença aumentam quando o diagnóstico ocorre em fases iniciais. O mais importante é que, quanto mais se conhece a doença e mais avançados forem os tratamentos à disposição, as chances de cura são ainda melhores.

Embora a doença inspire um senso de urgência em todos os pacientes, essa sensação é potencializada quando falamos de crianças.

No Brasil, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) projetava, no início deste ano, que em 2022 o número de casos de câncer infantojuvenil chegaria a 8 460. A doença já representa a primeira causa de óbitos por doenças na faixa etária de 1 a 19 anos no país — aproximadamente 8% do total.

São informações que, além de impressionarem por se tratar de uma doença agressiva como o câncer, afligem ainda mais porque as vítimas são crianças.

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Não é por acaso que, em 2008, foi instituído por lei o Dia Nacional do Combate ao Câncer Infantil – lembrado em 23 de novembro de cada ano desde então.

Nos últimos 40 anos, tivemos um avanço significativo no tratamento do câncer na infância e na adolescência – tanto que, se diagnosticados correta e precocemente e tiverem acesso a um tratamento multidisciplinar individualizado, cerca de 80% das crianças e dos adolescentes podem ser curados e viver com qualidade de vida.

Entre esses avanços estão os tratamentos com base nas características genéticas dos pacientes – que progridem a partir das pesquisas sobre marcadores moleculares ligados ao câncer infantil. Novas técnicas neurocirúrgicas e radioterápicas, além das pesquisas sobre marcadores genéticos, permitiram uma caracterização molecular mais refinada de vários tipos de tumores cerebrais.

+ Leia também: Novas fronteiras no cerco ao câncer

Mas tudo isso conta apenas uma parte da história. Outra diz respeito ao acesso a tratamentos inovadores e técnicas sofisticadas de terapias e diagnósticos.

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Não é para todo mundo, mas deveria ser

Os custos desses tratamentos de ponta são consideráveis, o que restringe o acesso de populações em situação de vulnerabilidade social.
Isso jamais deveria impedir que crianças tivessem acesso às melhores opções desenvolvidas pela ciência moderna.

Para que criança alguma fique para trás no tratamento de câncer precisamos de investimentos e envolvimento da sociedade civil como um todo.
Em São Paulo, por exemplo, desde 2018 existe o Laboratório de Patologia Molecular, uma parceria entre TUCCA (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer) e Faculdade e Hospital Santa Marcelina. A ideia é oferecer exames e diagnóstico molecular para algumas neoplasias primárias – exames esses para os quais não há financiamentos do governo, e que, portanto, não são cobertos pelo SUS.

O trabalho dessa parceria teve seu foco inicial no meduloblastoma, e resultou no Protocolo de Diagnóstico e Tratamento de Meduloblastoma. Para esse resultado, colaboraram instituições de saúde de diversos Estados brasileiros e de países como Uruguai, El Salvador, Chile, Equador e México.

+ Leia também: Como vírus podem ser usados no combate ao câncer

O meduloblastoma é o tipo de tumor cerebral sólido mais comum em crianças com menos de 15 anos, e o segundo mais comum de todos os cânceres pediátricos do sistema nervoso central.

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Através dessa iniciativa podemos oferecer gratuitamente a classificação molecular do meduloblastoma, ou seja, o tumor é subdivido em quatro grupos. Essa classificação, proposta pela OMS e amplamente aceita na comunidade científica mundial, é obtida por meio de uma análise genética do tumor.

Por meio dessa análise, define-se a estratégia clínica a ser adotada para cada caso. Ela também possibilita o uso de terapia baseada em alvo molecular, mais conhecida como terapia-alvo – são drogas que atuam somente no tumor, poupando as áreas saudáveis do organismo.

O câncer é um mal que acompanha a humanidade há muito tempo. O documento mais antigo de que se tem conhecimento em que se descreve casos de tumores ou úlceras para os quais não havia tratamento tem mais de mais de 5 mil anos, e vem do Antigo Egito.

Hoje, dispomos de recursos e tecnologia para combater a doença desde seus primeiros sinais – e impedir que ela avance entre as crianças tem um caráter ainda mais fundamental.

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Trata-se de preservar a vida dos que estarão aqui para tentar fazer do mundo um lugar melhor. Cuidar da saúde das crianças é uma das maiores provas de que se acredita no futuro. Como teria dito o escritor russo Fiódor Dostoiévski, “a alma é curada ao se estar com crianças”.

*Sidnei Epelman é oncologista pediatra, diretor do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital Santa Marcelina, presidente da TUCCA (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer) e membro do board internacional do INCTR (Associação Internacional para Tratamento e Pesquisa do Câncer, na sigla em inglês)

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