No mundo todo, a comunidade médico-científica trabalha incansavelmente na busca de soluções para a cura dos diversos tipos de cânceres, doença considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das principais causas de morte precoce no mundo.
O câncer infantojuvenil, quando descoberto precocemente, alcança índices gerais de cura acima de 70% – desde que tratado em centros especializados como o Hospital do GRAACC, inaugurado em 1991 para oferecer esse índice em um momento em que as chances de cura do câncer pediátrico na cidade de São Paulo eram de 41%, de acordo com o Ministério da Saúde.
Porém, há uma lacuna que necessita ser preenchida dentro deste cenário de tratamentos e possibilidades de cura, que é a faixa conhecida no mundo como AYA, ou seja, adolescent and young adult – são os adolescentes e os adultos jovens.
Há pouco consenso sobre o limite de idade para essa faixa intermediária em relação ao câncer, mas, no Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) já publicou estudos com a divisão dos 15 aos 29 anos como a fase de transição de tumores com características biológicas da pediatria para os da fase adulta.
É importante destacar que em cada fase a doença tem sua especificidade. O câncer infantil é mais raro, e os tratamentos são diferentes dos do adulto em diversos aspectos.
Enquanto na infância as leucemias representam cerca de 25% dos 8 460 novos casos anuais, o tipo mais comum em adultos, de modo geral, é o de pele não melanoma, com 28% dos 625 mil casos novos anuais.
Na sequência aparecem os tipos de cânceres mais frequentes em mulheres (mama) e homens (próstata), com média de 66 mil casos por ano para ambos. Os números são do Instituto Nacional de Câncer (INCA), para o triênio 2020/2022.
Apesar dos avanços em pesquisas e estudos, não existem protocolos definidos especificamente para a faixa do adulto jovem. No cenário internacional, os países mais desenvolvidos já estão se movimentando para preencher essa lacuna.
Nos Estados Unidos e em alguns países europeus, quando o adulto jovem é diagnosticado com um câncer comum da infância ou da adolescência – como tumores cerebrais, leucemias, osteossarcoma, sarcoma de Ewing ou tumores de testículo ou ovário –, geralmente é tratado em centros de oncologia pediátrica.
Da mesma forma, câncer de mama, melanomas e carcinomas, entre outros, são tratados com base em protocolos de câncer adulto.
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Uma característica dessa faixa etária é a demora para procurar um serviço médico, o que prejudica o diagnóstico precoce da doença e, consequentemente, o início do tratamento adequado.
Além disso, a literatura médica oferece poucos subsídios sobre o tema, o que acaba gerando dúvidas cruciais para atuar especificamente com esse público.
Um levantamento feito pelo INCA apontou que o tempo médio entre o diagnóstico da doença e o início do tratamento no adulto jovem é de 27 dias, isto é, quatro vezes maior do que o de pacientes com até 14 anos (7 dias). Em 75% dos casos em jovens adultos, o tempo médio foi de 67 dias em comparação com 30 dias no grupo de até 14 anos, uma diferença de mais de 100%.
No Brasil, sabemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido, principalmente com mais estudos e levantamentos de números e informações envolvendo essa faixa etária.
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O Hospital do GRAACC, referência no tratamento de câncer infantojuvenil de alta complexidade, que há 30 anos não mede esforços para combater a doença, também trabalha com esse objetivo.
Queremos desenvolver protocolos de tratamento específicos para o jovem adulto que ampliem expressivamente as chances de cura desses pacientes, com um olhar personalizado para suas especificidades.
Entre intercâmbios, pesquisas e atualizações constantes sobre a jornada desses pacientes, o Hospital promoverá seu 1º Congresso Internacional de Oncologia Pediátrica que reunirá diversos profissionais do setor e renomados convidados internacionais para discutir, entre outros temas relevantes, diversas questões que envolvem câncer em adultos jovens, tais como anticoncepção, preservação da fertilidade, adesão ao tratamento, transtornos psiquiátricos, dentre outros.
Com uma ampla troca de conhecimentos entre especialistas do Brasil e do mundo, queremos jogar luz nesta temática tão importante e urgente.
Só com envolvimento pleno da comunidade científica e da esfera governamental conseguiremos suprir as demandas terapêuticas desse público e ampliar as perspectivas de tratamento e cura de nossos adultos jovens.
*Monica Cypriano é oncologista pediátrica e diretora médica assistencial do Hospital do GRAACC