Mesmo antes de pronunciar as primeiras palavras, o bebê inicia um processo de desenvolvimento que vai resultar na fala. É importante ter atenção desde cedo para a apraxia de fala na infância (AFI), um transtorno pouco conhecido e que atinge 2 em cada mil crianças no país.
A falta de visibilidade dessa condição dificulta o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento.
Os pais devem ficar atentos se a criança apresentar atraso e/ou dificuldades para desenvolver a fala. A apraxia atinge o planejamento e a programação das sequências de movimentos necessários para produzir o discurso. Nesta situação, o cérebro não envia os comandos adequados para as estruturas articuladoras (como os lábios e a língua), dificultando a produção das palavras.
É uma alteração funcional, que nem sempre é detectada em exames como ressonância e tomografia.
O diagnóstico deve ser realizado por um fonoaudiólogo que possua experiência em transtornos de fala e de linguagem, incluindo os transtornos motores de fala. O profissional será o responsável por avaliar, diagnosticar e determinar o melhor plano de tratamento.
O transtorno pode acontecer em conjunto com outras comorbidades, por isso é fundamental que as crianças sejam acompanhadas por uma equipe multidisciplinar.
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Sintomas da apraxia de fala
Existem alguns indícios que podem servir de alerta e informação para as pessoas buscarem avaliações e tratamentos, por exemplo:
- Bebês muito quietinhos, silenciosos ou que produzem poucos sons;
- Bebês que não balbuciam (“gugu”, “mama”, “dada”);
- Atraso no aparecimento das primeiras palavras (por exemplo, já completou 12 meses, e não emite nenhuma palavra);
- Produção inadequada da fala. Ou seja, falar apenas as vogais ou as sílabas isoladas, como “pa” no lugar de papai, ou conseguir falar os sons mais fáceis, como os do “p” e do “m”, mas ter dificuldade para falar as vogais: às vezes, o som do “é” sai como “a” ou “e”. Exemplo: “pa” se referindo a “pé”;
- Dificuldade para realizar os movimentos orais, como colocar a língua para fora ou fazer o movimento de bico com os lábios, não conseguir assoprar ou sopro fraco (dificuldade para assoprar uma vela, por exemplo);
- Falar corretamente uma palavra em um contexto e depois “perder” esta palavra. Ou tentar falar de novo e sair de um jeito diferente.
Além de tudo isso, a criança pode ter uma coordenação motora global não muito organizada, ou seja, ser desajeitada no correr ou no pular. Em alguns casos, a coordenação motora fina também está prejudicada, e ela não consegue segurar o lápis ou tem dificuldade com jogos de encaixe e outras atividades manuais.
A criança com apraxia, geralmente, compreende o que falamos com ela, mas não consegue se expressar bem. Não é raro que o quadro leve a dificuldades emocionais. Os pais percebem que o (a) filho (a) até tenta falar, mas não consegue, o que pode causar frustração, baixo autoestima. Algumas crianças ficam agressivas e irritadas.
É importante lembrar que ter um ou mais desses sintomas dessa lista não significa que a criança tenha AFI, por isso a importância do diagnóstico correto.
* Elisabete Giusti é fonoaudióloga infantil e Conselheira Técnica da Associação Brasileira de Apraxia da Infância
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