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BBB: preconceito contra transtornos mentais está enraizado na sociedade

Episódios como o do Big Brother Brasil deste ano resgatam a necessidade de abordar e combater a discriminação às doenças mentais

Por Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra*
14 fev 2021, 21h53
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  • A saúde mental ganhou holofotes globais neste cenário em que a população vive em isolamento social, home office e restrições de lazer. Mesmo antes da pandemia de Covid-19, o Brasil já liderava alguns rankings de transtornos mentais.

    Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) colocam o país na primeira posição em prevalência de ansiedade, com mais de 18 milhões de pessoas sofrendo do problema. Isso equivale a 9,3% da população brasileira. Os números são alarmantes, e tudo indica que no ano de 2020 esses índices tiveram um aumento significativo.

    Em estudo realizado recentemente pela Associação Brasileira de Psiquiatria, os médicos associados perceberam um aumento de até 25% nos atendimentos psiquiátricos e de 82,9% no agravamento dos sintomas de seus pacientes após o início da pandemia.

    Em paralelo ao crescimento nos casos de transtornos psiquiátricos, é notório o preconceito com quem sofre de algum tipo de doença mental. Tal preconceito ganha lentes de aumento com episódios do reality show BBB 21. No programa, participantes rotulam como loucos, insanos ou desequilibrados outros integrantes. O que ocorre no programa televisivo também costuma ser vivenciado na sociedade.

    A palavra “preconceito” é definida no dicionário como ato de julgar algo ou alguém antes de obter o conhecimento a respeito. Aqui a hostilidade e a intolerância são resultado da generalização apressada do senso comum. É contra esse preconceito que a psiquiatria combate há anos e nos direciona para outro termo: a psicofobia.

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    A psicofobia é o preconceito às pessoas que sofrem de transtornos e deficiências mentais. Popularmente, as doenças mentais são distorcidas para conotações negativas. A psicofobia existe quando o indivíduo é caracterizado como “louco” ou “doido” e quando a doença é negada por familiares, profissionais de saúde, pelo próprio paciente ou até mesmo pelo governo (municipal, estadual ou federal). A vergonha do diagnóstico, a recusa por tratamento medicamentoso e a aversão a psiquiatras também estão incluídas nesse tipo de discriminação.

    O estigma cultuado pela sociedade preconceituosa pode levar a consequências muito negativas em cidadãos com doenças mentais. O estereótipo injusto afeta a forma como os pacientes interagem com os serviços de saúde e com o mundo, uma vez que a doença passa a ser o aspecto central da sua identidade.

    O impacto do estigma na autoestima do paciente também deve ser levado em consideração, pois está associado a um maior risco de depressão e suicídio. Em outras palavras, o estigma mata. Mata por falta de acesso à informação, mata por não ter a atenção adequada e mata por total desassistência. O indivíduo enxerga como única solução atentar contra a própria vida.

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    A forma mais viável de combater o preconceito às pessoas com transtornos mentais é a disseminação da informação. Durante o ano de 2020, a saúde mental foi pauta na mídia e nas redes sociais, atingindo uma grande massa. Mas é essencial que todo e qualquer conteúdo sobre o assunto seja embasado em fontes como estudos e profissionais que assistem pessoas com esses problemas.

    A saúde mental também ganhou visibilidade com o tema da redação do último Enem. A proposta de escrever sobre “o estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira” levou adolescentes a refletirem sobre exclusões e conceitos distorcidos sobre os transtornos mentais. A temática da redação aplicada aos adolescentes torna-se ainda mais importante, uma vez que as mudanças e as incertezas dessa fase da vida podem ser um gatilho para o desequilíbrio mental.

    Em 2021, esperamos que, unidas, as esferas municipal, estadual e federal possam ofertar tratamento adequado para todos que padecem de doenças mentais. A situação da saúde mental da população é grave, e o descaso também. Nós precisamos mudar o cenário para termos uma população mais sadia, com melhores resultados tanto em seu ambiente corporativo quanto em suas relações sociais.

    * Antonio Geraldo da Silva é presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

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