Setembro é lembrado como o Mês Mundial do Alzheimer, sendo uma efeméride relevante não só para abordar a doença, seus sintomas e formas de diagnóstico e tratamento mas também o cuidado ao paciente, que precisa de acolhimento e afeto em sua jornada.
O Alzheimer é um dos inúmeros tipos de demência que, geralmente, afeta idosos, embora mais raramente possa acometer indivíduos mais jovens. Segundo o Ministério da Saúde, estimam-se mais 1,2 milhão de brasileiros com a doença, a maior parte deles sem diagnóstico. A causa do Alzheimer ainda não é totalmente conhecida, mas acredita-se em um fundo genético.
Felizmente, a medicina colhe avanços na detecção dessa doença neurodegenerativa. Recentemente, realizamos no Brasil o primeiro exame de imagem não invasivo para a detecção de placas beta-amiloide, que se agrupam no cérebro e são consideradas os principais marcadores da enfermidade. O teste, mais específico e eficaz para fechar o diagnóstico junto à avaliação clínica, foi feito no Laboratório CDPI, pertencente à rede Dasa.
Chamado de PET amiloide, o novo exame é capaz de medir o volume de placas beta-amiloide que, quando acumuladas, interferem no funcionamento das células cerebrais e são vistas como as digitais da doença. A primeira paciente a passar por ele, no Rio de Janeiro, teve identificadas tais placas marcadoras da condição.
Outro recurso que também detecta o nível de placas amiloides e chegou há pouco à rede privada brasileira é um exame de sangue que utiliza a espectrometria de massas para identificar moléculas que deduram a doença em pequenas concentrações. Com alta sensibilidade analítica, o método procura detectar dois tipos da proteína beta-amiloide.
+ LEIA TAMBÉM: Sete enfermeiros com ideias que fazem a diferença pelo mundo
Tanto o novo exame de sangue quanto o de imagem são recomendados para pessoas com comprometimento cognitivo leve ou com suspeita de demência. E ambos colaboram na conduta médica e evitam a realização da punção lombar para coleta do líquor, procedimento que é usado para estimar os níveis das placas amiloides hoje.
Tais inovações são essenciais uma vez que o Alzheimer tem um diagnóstico difícil e, até pouco tempo atrás, ele era eminentemente clínico, de acordo com a investigação da história do paciente e testes neuropsicológicos. Mas uma variedade de informações e sintomas pode gerar suspeitas, sobretudo quando pacientes mais instruídos passam a apresentar dificuldades antes incomuns no cotidiano, como a perda de cognição.
Nesse contexto, sabemos que o diagnóstico precoce possibilita desacelerar a progressão da doença e garante mais controle sobre os sintomas.
Além do surgimento de exames mais específicos, avança também a possibilidade do tratamento medicamentoso. Em 2021, foi aprovada nos Estados Unidos uma medicação capaz de remover as placas beta-amiloide do cérebro.
Uma vez identificada a presença dessas placas, portanto, é possível que esses pacientes sejam candidatos a uma nova terapia. Aí está a parte que nos dá esperança sobre a evolução no controle do Alzheimer.
Com o envelhecimento da população brasileira, governos, profissionais de saúde e a própria sociedade civil devem olhar com mais respeito para o idoso e pensar em mais estruturas para atender suas necessidades. Já somos um país de idosos e, em uma ou duas décadas, isso será muito marcante.
Além do acompanhamento especializado, o paciente que sofre de Alzheimer precisa de cuidados, como ambiente tranquilo, alimentação balanceada e uma rede de apoio que lhe traga segurança. Ao mesmo tempo, os familiares precisam receber também suporte psicológico e toda orientação necessária para aprender a lidar com os altos e baixos dessa doença.
Ainda bem que os progressos na medicina estão chegando até nós para propiciar mais qualidade de vida, tanto para o paciente quanto para quem convive com ele.
* José Leite é médico nuclear e coordenador do setor de PET-CT do CDPI e da Alta Excelência Diagnóstica, pertencentes à Dasa