Além do DNA: o que as proteínas revelam sobre o nosso futuro?
Aliada ao conhecimento genético, a proteômica pode ajudar, no futuro, a prever doenças cardiovasculares, câncer e Alzheimer

O Brasil, assim como muitos outros países, enfrenta o crescente desafio do envelhecimento populacional que se associa com o aumento da incidência de demências, distúrbios cardiovasculares e câncer. Com uma população cada vez mais idosa, a busca por soluções de saúde preditivas e diagnósticas nunca foi tão urgente.
Se antes a ciência acreditava que o sequenciamento do genoma humano seria a chave para desvendar e curar doenças, hoje sabemos que a complexidade biológica exige um olhar ainda mais amplo. Uma fonte de resposta está nas proteínas, que desempenham um papel fundamental nos processos biológicos e são diretamente influenciadas por variações genéticas e ambientais.
Acontece que, até pouco tempo atrás, o estudo de proteínas em larga escala era algo difícil, não permitindo avaliar milhares de amostras como já tem sido feito com genomas humanos.
É nesse cenário que a medicina de precisão avança com tecnologias que permitem a nova geração de proteômica, nas quais é possível quantificar milhares de proteínas de maneira fácil e escalável. Esse avanço permite a ampliação dos estudos da proteogenômica – a ciência que une os estudos do genoma e das proteínas – e se mostra fundamental para prever doenças e aprimorar tratamentos.
Medicina preventiva e personalizada
A proteogenômica permite identificar biomarcadores proteicos que ajudam a diagnosticar e prever o desenvolvimento de doenças complexas, como Alzheimer, câncer e doenças cardiovasculares.
Estamos em uma verdadeira corrida científica sobre o tema e já existem tecnologias inovadoras como a da Olink, parte da Thermo Fisher Scientific, que quantifica milhares de proteínas de forma rápida e eficiente, o que viabiliza a análise em larga escala e em grandes populações.
Um marco recente para a proteogenômica foi o estudo UK Biobank Pharma Proteomics, que utiliza a plataforma Olink para medir mais de 5.400 proteínas em 600.000 amostras.
Parece número de outro planeta, mas a ideia por trás disso é simples: entender melhor como certas proteínas se relacionam com doenças para antecipar diagnósticos e tornar os tratamentos muito mais eficazes.
Este é o maior estudo populacional de proteômica da história, e seus resultados vão ajudar a identificar novos biomarcadores para doenças, abrindo caminho para um futuro em que a medicina será cada vez mais preditiva, personalizada e em larga escala.
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O check-up do futuro
Mas como isso pode impactar a nossa saúde no dia a dia? A resposta pode estar em um simples exame de sangue. A expectativa é que, um dia, a proteogenômica faça parte do check-up de rotina das pessoas.
Com apenas uma gota de sangue, será possível traçar um perfil proteico completo, como se fosse uma impressão digital, uma assinatura do seu estado de saúde atual e futuro. Essa assinatura vai permitir entender, por exemplo, a ‘idade biológica’ de cada um e até identificar predisposições a doenças antes mesmo de darem sinal.
Se, por exemplo, proteínas ligadas ao Alzheimer estiverem com níveis alterados, a pessoa pode adotar mudanças no estilo de vida e iniciar intervenções médicas mais cedo, pois isso indicaria um risco maior de desenvolver a doença.
Estamos vivendo o começo de uma revolução na ciência biomédica. A proteogenômica está mudando completamente nossa forma de entender as doenças e o envelhecimento, abrindo caminho para terapias mais eficazes, diagnósticos mais rápidos e intervenções preventivas mais certeiras.
Com o avanço das tecnologias e o aumento dos investimentos, o futuro da saúde será definido pela predição personalizada, trazendo uma medicina mais precisa e acessível para todos.
*Vitor Rezende, pós-doutoramento na Fiocruz-Minas, Doutor em Medicina Molecular, Bacharel em Bioquímica e Imunologia e Gerente de Marketing e Desenvolvimento de Negócios América Latina da Thermo Fisher Scientific