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A vacina que previne o câncer: eficiente e segura, mas subutilizada

A imunização contra HPV ainda enfrenta resistência na América Latina, apesar de proteger contra um vírus que causa tumores de colo de útero, entre outros

Por Angélica Nogueira Rodrigues, oncologista*
Atualizado em 8 dez 2020, 14h53 - Publicado em 25 set 2019, 16h17
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  • Os programas de vacinação contra o HPV na América Latina correm o risco de repetir a trajetória do exame preventivo de Papanicolaou: uma ferramenta muito eficiente, mas que, subutilizada, não atinge o seu potencial. Embora a região tenha um histórico de sólidos programas nacionais de imunização, com alta cobertura vacinal, as doses contra o HPV esbarram em falta de conhecimento, na associação infundada com a iniciação sexual precoce e na dificuldade de alcançar crianças e adolescentes que já não frequentam os postos de saúde regularmente, como é comum na primeira infância.

    O alerta é importante em um cenário em que os tumores relacionados ao HPV continuam a ser uma das principais causas de câncer na América Latina, principalmente o do colo do útero, terceiro tipo mais frequente no Brasil. A prevalência de infecção pelo vírus na região é duas vezes maior que a da média mundial e está associada a mais de 68 mil novos casos de tumor cervical por ano.

    Como a doença afeta, em sua maioria, mulheres jovens, ela representa a maior causa de anos de vida perdidos como resultado do câncer em países de baixa e média renda.

    A falta de conhecimento sobre a relação entre o vírus e os tumores está entre as principais barreiras para a vacinação contra o HPV. Vários estudos já mostraram que, uma vez informados de que essa injeção evita a doença, pais e profissionais de saúde são mais propensos a indicá-la. A adesão à imunização também tem sido menor do que a esperada pelo pouco conhecimento da população sobre a comprovada segurança da vacina.

    Os aspectos culturais são outro fator que influenciam os programas contra o HPV, assim como impactaram as iniciativas voltadas para os exames de Papanicolaou na América Latina. O conservadorismo e a natureza desse vírus como uma infecção sexualmente transmissível prejudicaram a comunicação e a educação sobre ele.

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    Ora, há um desconforto geral de falar sobre sexo e existe a crença, infundada, de que essa vacina adiantaria a atividade sexual dos adolescentes. Mas um estudo da Sociedade Americana de Pediatria confirmou que a vacinação contra o HPV não está associada à iniciação precoce da vida sexual, tampouco ao aumento da atividade sexual na adolescência.

    Por fim, a dificuldade em garantir o cumprimento do esquema vacinal completo e a falta de revisão das estratégias de implementação de programas públicos de imunização são outros fatores que influenciam a aderência à vacinação contra o HPV. A necessidade de políticas que ampliem a cobertura vacinal é evidente.

    Em países onde altas taxas de adesão foram atingidas, a infecção por alguns subtipos de HPV mais relacionados ao câncer caiu quase 70% a partir do primeiro ano após a introdução da vacina. Como ocorreu no início da imunização contra o HPV no Brasil, em 2014, a vacinação nas escolas, junto ao endosso de sociedades médicas de que a vacina é segura e eficaz, parecem ser o melhor caminho a ser seguido para a redução dos índices de câncer cervical.

    *Angélica Nogueira Rodrigues é doutora em oncologia pelo INCA, com pós doutorado em Oncologia Global pela Harvard University. É presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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