Uma pesquisa realizada pela Universidade de Glasgow, na Escócia, e a Sociedade Escocesa de Prevenção de Crueldade Animal (Scottish SPCA) com cachorros de centros de abrigo apontou uma diminuição do estresse entre eles após ouvirem reggae e soft rock. Esse e outros estudos reforçam o impacto significativo da música nos animais. Quem nunca ouviu falar das vacas que têm a produção de leite aumentada ao som de Beethoven?
Neste mês de janeiro, no qual salientamos a construção de uma cultura de saúde mental entre a população, é essencial falarmos também deles: nossos fiéis companheiros (leia-se aqui cães, gatos e demais pets). Vale entender o que terapias complementares, como musicoterapia, cromoterapia, acupuntura, florais, cannabis, dentre outras, podem fazer pela saúde física e psíquica dos nossos animais.
Desde que prescritas por profissionais especializados ou veterinários, essas terapias complementares podem reduzir ou até substituir medicamentos, sendo determinantes no alívio de males do corpo e da mente dos bichos.
Isso porque elas agem no tratamento de distúrbios físicos e psicológicos como depressão e pressão alta, além de ansiedade, insônia, febre, distúrbios digestivos, displasia e dores crônicas.
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E, quando uso o termo “complementares”, me refiro ao que pode ser feito juntamente com as medicações, ou como alternativas a elas, buscando resultados mais efetivos – ou a redução dos efeitos colaterais causados pelos alopáticos.
Em 2013, em especialização no Canadá, aprendi como essas terapias podem auxiliar meu trabalho como adestrador e proprietário de creche e hotel para pets. Afinal, preciso que o animal esteja relaxado e concentrado para absorver os comandos – e as terapias agem com excelência nessa área do foco.
Fora isso, como lidamos com diferentes raças em uma estrutura de hospedagem e day care, preciso saber acalmar aquele cão estressado ou arredio para que ele faça parte do dia a dia com os demais hóspedes.
Assim, mesmo sem conhecer outro modelo aqui no Brasil, na época anunciei para o mercado o serviço de musicoterapia, reproduzindo com os meus alunos caninos o que havia conhecido lá fora. Hoje em dia, felizmente vemos a prática em muitos lugares.
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A musicoterapia na prática
Ela pode ser feita diariamente. Geralmente, os animais reagem bem a sons de piano, sax e violino – ao contrário de sons agudos, metálicos e de percussão.
Porém, quando o animal é apático ou medroso, é preciso desenvolver algum outro estímulo de som. A altura da música deve ser levada em conta. Enquanto os humanos captam sons com até 20 e 20 000 hertz, os cães, por exemplo, são capazes de captar entre 26 e 40 000 hertz.
Em nossa rotina no hotel, todos os dias eles são reunidos durante 40 a 60 minutos, sempre depois do almoço, para as sessões de musicoterapia.
Nesse momento, também incorporamos a cromoterapia, conhecida como terapia das cores. Há uma sala preparada para as duas finalidades.
O relaxamento é tanto que, quando chega o horário, os cães que já frequentam a sala há muito tempo se dirigem sozinhos ao espaço e deitam nas caminhas que ficam prontas ali. Alguns capotam e chegam a roncar! Tem uns que ficam até de perninhas para o ar. E tem aqueles que ficam com aquele olhinho, sabe? Tipo: “não vou me render ao sono”. Uns 20 pets permanecem juntos tranquilamente.
Nos cachorros, geralmente as sessões começam a fazer efeito na 12ª execução. E os resultados são visíveis. Há cães que chegam parecendo criança: pulam e não deixam ninguém em paz. Passadas duas semanas, já estão dormindo com os outros pets. Tudo isso está muito relacionado à psicologia, pelo nível de aproveitamento em outras atividades. É também como um rendimento escolar.
Não faltam opções
Já com a prescrição de um veterinário ou profissional qualificado para realizar o tratamento, é possível recorrer ainda a florais, acupuntura ou cannabis. Acho muito importante frisar que alguns florais são receitados para o dono e para o cachorro.
Já o uso de cannabis para pets tem avançado muito – assim como na medicina humana. É que essa planta age onde muitos tratamentos não conseguem resultado. Isso porque atua diretamente no sistema endocanabinóide, por meio dos receptores CB1 e CB2 no sistema nervoso central (SNC), e no sistema nervoso periférico (SNP).
Os benefícios do tratamento abraçam o alívio de dores e inflamações e o equilíbrio da pressão intraocular e da energia do pet. Também é indicado para melhorar a imunidade e diminuir o estresse, o humor depressivo ou a ansiedade. Patologias mais sérias também são tratadas com óleo de cannabis, como câncer, artrose, epilepsia, esclerose tuberosa, entre outras.
Atualmente, há necessidade urgente de se regular o setor, a fim de que as prescrições e o uso sejam claramente amparados pela legislação e se incentivem os estudos e a disponibilização do tratamento no mercado brasileiro. Também é preciso garantir um trabalho constante de capacitação de profissionais para aumentar a base de prescritores.
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E a acupuntura? Bem, todos os pets podem e precisam vivenciar a experiência desse método milenar. Muitos perguntam como segurar um cão ou gato em uma sessão de agulhadas. Simples: condicionamento.
Muitos animais não deixam na primeira nem na segunda vez. Mas, com colo e muita paciência, eles vão relaxando. E vale muito a pena. A contribuição do método nos processos regenerativos é fabulosa, assim como na recuperação de cirurgias ou tratamentos para paralisias, AVCs, convulsões, tendinites, gastrites e cistites. A acupuntura ainda ajuda a amenizar sintomas da quimioterapia.
Todas essas terapias não possuem um prazo definido. Para muitos tratamentos, a média é de seis meses. Em casos mais complexos, é preciso continuidade. Sou a favor do acompanhamento, uma vez que só farão bem à saúde.
São terapias sérias, que geram resultado para o físico e para o emocional. E quem disse que devemos nos descuidar do corpo e da mente? Ainda não sei falar com animais, mas certamente eles concordariam comigo. E você?
*Cleber Santos é especialista em comportamento animal, adestrador, empreendedor e palestrante internacional. É CEO da Comportpet.