Há 50 anos, quando me formei na Escola Paulista de Medicina, a atual Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a principal causa de mortes entre os brasileiros eram as doenças infectocontagiosas. Elas atingiam principalmente as crianças, mas também os idosos.
As mais prevalentes eram as infecções intestinais e as broncopneumonias nos mais novos e as infecções pulmonares nas pessoas mais velhas.
Esse perfil epidemiológico de mortalidade mudou no decorrer do tempo, com o desenvolvimento e a popularização das vacinas, o avanço no tratamento da água e do esgoto e a descoberta de novos medicamentos.
Calcula-se que o país tenha hoje 37,7 milhões de pessoas com mais de 60 anos, segundo pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A pirâmide etária vem se alterando com rapidez e, de acordo com estimativas elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos deverá aumentar ainda mais. Por volta de 2050, haverá, no Brasil, 73 idosos para cada 100 crianças, numa população de aproximadamente 215 milhões de habitantes.
As doenças infecciosas não saíram de cena, mas a principal causa de adoecimento e morte hoje no Brasil são o que chamamos de doenças crônicas e degenerativas, frequentemente associadas ao envelhecimento.
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No topo da lista estão as doenças cardiovasculares, entre elas a hipertensão, a aterosclerose, o infarto e o AVC, tantas vezes também atreladas ao diabetes e aos problemas renais. Como segunda causa, temos os tumores malignos. E, em terceiro lugar, as mortes violentas (homicídios e acidentes de trânsito), que atingem sobretudo os mais jovens.
Fora as enfermidades citadas, outras patologias estão à espreita dos idosos, e destaco as doenças respiratórias, os reumatismos e as causas de demência, como o Alzheimer.
Diante desse quadro epidemiológico, o sistema de saúde brasileiro, público e privado, teve que ir se adaptando para atender a uma enorme demanda, que exige estrutura mais complexa, prolongada e custosa a fim de contemplar assistência médica ambulatorial, hospitalar e especializada, oferta de medicamentos e programas de orientação do estilo de vida.
Nosso sistema de saúde, em especial o SUS, que atende 75% dos brasileiros, avançou bastante, só que ainda está bem longe de garantir uma assistência integral e de qualidade aos idosos. As causas são muitas, mas as principais são: o desfinanciamento do sistema e os problemas graves de gestão que geram desperdício e desvio dos poucos recursos.
Por isso, o Coletivo Velhices Cidadãs lançou um Manifesto à Nação direcionado ao povo brasileiro e uma Carta de Compromisso aos candidatos a cargos no Executivo e no Legislativo neste ano. Nossa pauta é o envelhecimento ativo e saudável no Brasil.
O bem-estar do idoso, que é um direito do cidadão, está na ordem do dia na política do país.
* Gilberto Natalini é médico e ambientalista e membro do Coletivo Velhices Cidadãs