Quais seriam suas próximas atitudes depois de decidir modificar alguma parte do seu corpo, seja em um procedimento estético, seja em uma cirurgia plástica? O estudo O que há por trás de um nome? Uma predisposição implícita pode afetar a percepção do paciente sobre as habilidades de um cirurgião (em tradução livre), publicado no Journal of the American Society of Plastic Surgeons, aponta que as redes sociais se tornaram uma ferramenta comum e perigosa de avaliação dos profissionais procurados.
Na pesquisa, feita em 2020 por quatro pesquisadores residentes em Nova York, nos Estados Unidos, fotos de antes e depois de uma paciente que realizou uma cirurgia para aumento dos seios foram simuladas e postadas no Instagram. No experimento, foram contempladas simulações de profissionais de oito etnias diferentes, com nomes masculinos e femininos comuns de acordo com o censo americano — o nome do cirurgião foi a única variável.
A partir daí, os cientistas postaram e distribuíram questionários pela rede social pedindo para que as pessoas avaliassem a competência do cirurgião plástico cujo trabalho foi estampado na foto e a probabilidade de se tornar um paciente dele. Mais de 3 mil americanos responderam à pesquisa (55% homens e 45% mulheres).
Por incrível que pareça, os resultados demonstram que o perfil do profissional no Instagram está servindo de currículo e fator de escolha decisivo nesse contexto. Os usuários da rede social olham o perfil como um currículo imagético, com fotos e vídeos, mas não necessariamente observam informações relevantes (nem sempre colocadas ali), como formação, especialização e experiência.
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A cirurgiã americana Heather Furnas, especialista em rejuvenescimento facial, participou do estudo e declarou: “Temos diversas lições de casa para avaliarmos, como o fato de estarmos escolhendo um cirurgião de forma superficial, sem contar que as imagens de antes e depois eram falsas, e isso, de certa forma, diminui a veracidade do que é postado. Existem médicos que pegam fotos de outros nomes e postam como suas, algo que já aconteceu comigo.”
Na cirurgia estética e na cosmiatria, foram criados perfis profissionais que arrebanham milhares de seguidores. Para muitos, as mídias se tornaram uma ferramenta de seleção do médico e o seu respectivo número de seguidores se transformou em critério de competência e prestígio.
No entanto, reforço a importância de procurar por indicações médicas e uma boa pesquisa sobre formação e especialização do profissional. Existem regras muito rígidas na publicidade médica. Na cirurgia plástica, as pessoas pedem e gostariam de ver a publicação de fotos do antes e depois nas redes, mas isso é proibido pelo Código de Ética Médica, mesmo com a autorização do paciente.
Embora existam diferenças raciais e étnicas na tendência de buscar a cirurgia plástica, nossa especialidade deve continuar instigando os pacientes a consultar cirurgiões plásticos com base em seu treinamento, associação com sociedades médicas e experiência. As iniciativas de educação e extensão ao paciente devem enfatizar a tomada de decisões com base nesses pressupostos — não em posts e curtidas.
* Marcelo Sampaio é cirurgião plástico, integrante do corpo médico do Hospital Sírio-Libanês (SP), membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e correspondente internacional da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos