Em um momento em que a pandemia do novo coronavírus continua avançando no Brasil e no mundo, cresce a necessidade de realizarmos testes em massa para detecção da doença e conhecimento do verdadeiro número de infectados. O diagnóstico preciso e correto é fundamental para propor quaisquer medidas relacionadas à prevenção e ao prognóstico da infecção.
Embora os testes sorológicos não sejam recomendados como única forma de diagnóstico da doença, podemos considerá-los excelente alternativa para a triagem inicial e testagem em massa da população. Os resultados obtidos via teste rápido podem fornecer dados importantes para o entendimento e o rastreamento da infecção pelo novo coronavírus em toda a população brasileira.
A técnica padrão-ouro, considerada mais acurada para o diagnóstico, é a RT–PCR (sigla em inglês para transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase). Consiste na detecção de sequências do RNA viral, que identificam de forma precisa a presença do vírus na amostra analisada.
Esse teste molecular pode ser realizado em amostras retiradas da cavidade nasal, da garganta e das vias respiratórias inferiores. Seus resultados são excelentes entre o terceiro e o décimo dia pós-infecção. Resultados positivos não necessitam de qualquer contraprova. Em resultados negativos, sugere-se a repetição do teste e/ou nova coleta de amostra biológica do paciente.
Já os testes sorológicos detectam a presença de imunoglobulinas das classes M (IgM) e G (IgG), produzidas pelo organismo em resposta à infecção pelo vírus. A IgM é a principal imunoglobulina a ser formada após a infecção, e começa a ser detectada entre os dias 3 e 5 pós-contágio, com pico de detecção após o sétimo dia. Com o decorrer da infecção, os níveis de IgM diminuem e, em contrapartida, os níveis de IgG aumentam rapidamente, com pico de detecção após o 14º dia de contágio.
Os testes sorológicos por imunocromatografia, os chamados testes rápidos (TR), são preconizados pelo Ministério da Saúde como ferramenta complementar ao diagnóstico do vírus Sars-CoV-2. O TR consiste em uma membrana de nitrocelulose que contém a área de aplicação da amostra, áreas de ligação do anticorpo da amostra com os antígenos do vírus, além da região de controle e validação do teste.
O teste rápido pode ser realizado com amostras de sangue total, soro ou plasma e seu resultado sai em aproximadamente 15 minutos. A possibilidade de infecção, no entanto, não pode ser descartada por um resultado negativo. Isso porque a produção de anticorpos, no início da doença, pode não ter sido detectada pelo TR, ocasionando o falso negativo. Em casos assim, sugere-se a repetição do teste, para a confirmação, ou não, da ausência da infecção.
Resultados positivos mostram que a pessoa está infectada e pode transmitir o vírus, mesmo na ausência dos sintomas. Não há estudos científicos que comprovem a imunidade duradoura em indivíduos já curados pela doença. Pessoas com resultados IgG positivos, embora curadas de uma primeira infecção, talvez não estejam imunes a uma nova infecção.
Sabendo que estamos diante de um vírus até então desconhecido, passível de mutação e da necessidade do diagnóstico preciso, acredito que a melhor escolha para o atual momento é a união dos esforços em torno dos testes de diagnóstico, utilizando-os em conjunto e nos contextos adequados. Como disse o filósofo iluminista Denis Diderot: “O que não foi examinado imparcialmente não foi bem examinado. O ceticismo é, portanto, o primeiro passo em direção à verdade”.
* Dra. Renata de Cássia Pires é doutora em biologia pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e analista científica da B3B A VIDA, de comercialização de equipamentos e insumos médico-hospitalares