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A hora é agora: precisamos olhar para o câncer apesar da pandemia

Os desafios impostos pela Covid-19 não podem gerar uma paralisia no diagnóstico e no atendimento de tumores

Por Luciana Holtz, do Instituto Oncoguia*
23 abr 2021, 18h29
Desenho de médico na parte superior, hospital na parte do meio e pacientes na parte inferior da imagem, com um fundo rosa
O atendimento ao câncer não pode parar durante a pandemia. (Ilustrações: Giovanna Antequera/SAÚDE é Vital)
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Acrise devastadora gerada pelo coronavírus não impacta somente quem é acometido pela Covid-19, mas todos os cidadãos. Com o colapso do sistema de saúde — ao qual, infelizmente, assistimos por todo o Brasil —, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de outras doenças são adiados e interrompidos, colocando tantas vidas em risco. Já perdemos mais de 300 mil brasileiros para a Covid-19. Quantos não irão falecer indiretamente com essa tragédia…

O leitor terá ideia do que está acontecendo agora na oncologia, por exemplo? Lançamos o Radar do Câncer, que analisa dados do SUS e mostra os efeitos da pandemia nesse contexto. O cenário é assustador: só em biópsias, importantes para a confirmação do diagnóstico, houve uma redução de quase 40%, comparando março a dezembro de 2020 com o mesmo período de 2019. Sem detecção, não há tratamento. Sem diagnóstico, a doença avança e caem as chances de cura. É uma bomba-relógio!

Temos plena consciência de que a Covid-19 exige olhares e esforços gigantescos. Mas não podemos deixar os pacientes oncológicos desamparados. É hora de criar uma força-tarefa, uma iniciativa coletiva para conceber e botar em prática um plano de retomada da assistência tendo em mente a contenção de riscos.

De um lado, precisamos manter a infraestrutura funcionando para ofertar, com segurança, todos os exames preventivos, biópsias e tratamentos capazes de conter o câncer. Lembremos que, a exemplo da Covid-19, essa é uma doença que desperta medo e insegurança. Assim, do outro lado, precisamos cuidar, inclusive psicologicamente, dos pacientes, para que se sintam devidamente acolhidos. O medo existe, mas não pode paralisar.

Esse plano de ação envolve, ainda, campanhas de conscientização, busca ativa de pacientes e, por que não, mutirões de biópsias, que podem salvar muitas vidas. Se, em um cenário sem pandemia, já tínhamos de batalhar para incentivar a prevenção e o diagnóstico precoce, agora esse esforço não precisa ser apenas mantido, mas intensificado. É triste projetar que, com ou sem Covid-19, vamos enfrentar um surto de tumores avançados, que deixaram de ser flagrados e tratados a tempo.

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Trazer esse debate em um momento em que as atenções, decisões e orçamentos se destinam à luta contra o vírus é um desafio. Mas, como quem representa e defende os pacientes com câncer no Brasil, não podemos deixar a tarefa para amanhã.

Ao longo da última década, promovemos anualmente um fórum nacional para discutir a assistência ao câncer no SUS e na saúde suplementar. Em 2021, de 4 a 7 de maio, realizaremos mais uma vez um evento virtual que reunirá pacientes, familiares, entidades de classe, sociedades médicas, gestores e governo.

A missão é encontrarmos, juntos, caminhos mais profícuos para seguir com os atendimentos oncológicos e evitar um futuro sombrio. Essa união, seguida de ações estratégicas e perenes, é crucial para que nenhum paciente deixe de receber o cuidado adequado — seja na pandemia, seja depois dela.

*Luciana Holtz de Camargo Barros é psico-oncologista e fundadora e presidente do Instituto Oncoguia

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