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A cannabis medicinal no tratamento da epilepsia

Terapia demonstra resultados positivos na redução das crises convulsivas em pacientes com epilepsias de difícil controle

Por Flavio Rezende, neurologista*
Atualizado em 19 abr 2021, 19h53 - Publicado em 19 abr 2021, 10h18
ilustração de maconha saindo de uma cápsula
Medicamentos obtidos da cannabis (maconha) foram avaliados com sucesso no tratamento da epilepsia refratária. (Ilustração: Marcelo Garcia/SAÚDE é Vital)
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A epilepsia é uma das doenças cerebrais mais frequentes e com maior impacto na qualidade de vida, devido a suas consequências físicas, cognitivas, psicológicas e sociais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, somente na América Latina, tenhamos mais de 8 milhões de pessoas sofrendo com seus sintomas.

Caracterizada pela ocorrência de crises, algumas delas convulsivantes e recorrentes, a epilepsia tem causas congênitas — o indivíduo nasce, por exemplo, com uma malformação cerebral que o predispõe ao problema — ou adquiridas, decorrentes de situações como trauma de crânio, acidente vascular cerebral (AVC), infecções (meningite, encefalite…) ou uso abusivo de drogas. Embora várias causas genéticas tenham sido descobertas recentemente, ainda é comum deparar com casos sem uma razão estabelecida.

Os desafios em relação à enfermidade são imensos e começam pelo próprio diagnóstico. Mesmo nos dias de hoje, muitas pessoas não recebem orientações ou informações básicas sobre a doença. Outro ponto crítico é a garantia de que as pessoas receberão o tratamento adequado com seus direitos respeitados.

O uso dos medicamentos de forma correta, com acompanhamento médico regular e ajuste das doses, é a maneira inicial e constitui a melhor forma de manter o controle sobre a epilepsia. Interrupções no tratamento propiciam o retorno das crises em boa parte dos pacientes.

Já a abordagem cirúrgica só se aplica quando se detecta uma lesão no cérebro causando as crises. É uma opção para alguns casos e pode levar ao controle completo do problema.

Mas existem quadros de epilepsia de difícil controle. Uma parcela significativa dos pacientes não consegue domar a doença com os medicamentos habituais. A essa condição chamamos epilepsia refratária ou farmacorresistente. Do ponto de vista prático, pessoas com epilepsia que não ficam sem crises após o uso de duas ou mais medicações antiepilépticas se enquadram nessa definição. E isso pode acontecer em até 36% dos casos.

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A epilepsia refratária causa impacto ainda maior na qualidade de vida, não apenas pelas crises frequentes, mas por toda a situação envolvida, implicando em maior quantidade e doses de medicamentos, limitações sociais (para trabalhar, dirigir…) e até mesmo risco elevado de traumas e morte.

Não é por menos que muitos estudos têm sido realizados em busca de novas opções terapêuticas. E é assim que chegamos ao canabidiol, substância extraída da planta cannabis. Apesar de conhecido há anos, só recentemente a ciência demonstrou sua eficácia nesse contexto.

Hoje contamos com evidências sólidas a favor desse tratamento para a epilepsia refratária. Pesquisas conduzidas com todo o rigor mostram que, em algumas síndromes graves que causam epilepsia na infância (síndromes de Dravet e Lenox-Gastaut e esclerose tuberosa), o canabidiol ajuda no controle das crises.

Um estudo duplo-cego controlado por placebo englobando 30 centros clínicos e 225 pessoas com síndrome de Lennox-Gastaut com idades entre 2 e 55 anos demonstrou que os pacientes que receberam uma solução oral de canabidiol, em doses diárias durante 14 semanas, tiveram redução importante na incidência de crises convulsivas.

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Outro trabalho, também publicado no respeitado periódico médico The New England Journal of Medicine, envolvendo pacientes com a síndrome de Dravet, constatou que a média de crises convulsivas por mês diminuiu de 12 para 6 com a solução oral de canabidiol. O estudo contemplou 120 crianças e adultos jovens que apresentavam convulsões resistentes aos remédios convencionais.

Levando em conta as evidências disponíveis, produtos com canabidiol hoje são aprovados pela FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos, e também pelo EMA (European Medicines Agency), na Europa.

Podemos concluir, assim, que o avanço do conhecimento científico sobre a cannabis medicinal demonstra que essa nova abordagem terapêutica pode contribuir de forma significativa no controle das epilepsias graves (e de outras doenças).

* Flavio Rezende é mestre e doutor em neurologia, professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Health Meds

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