Já se fez a pergunta “Quem cuidará de mim quando eu envelhecer”? Se a resposta for “Eu mesmo”, excelente, afinal, tudo que esperamos é chegar bem à velhice, mantendo a saúde e a autonomia, não? De fato, cada vez mais gente trilha a maturidade com independência ao se preocupar com um envelhecimento saudável e sustentável.
Ocorre que nascemos e morremos dependentes. Essa é a mais pura verdade. Sim, precisaremos, em algum momento lá na frente, de alguém que cuide de nós, e isso deve ser planejado desde sempre.
Reflita comigo: se hoje você necessitasse de cuidados, por estar impossibilitado de realizar sozinho suas atividades diárias (tais como tomar banho, se alimentar ou dar uma volta no quarteirão), teria alguém próximo para lhe dar apoio?
O fato é que hoje grande parcela da população idosa já precisa de suporte para o seu dia a dia. Circunstâncias como doenças crônicas resultam em incapacidades físicas ou mentais que demandam cuidados de longa duração. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estimou em 2016 que, a cada três idosos no país, um apresenta limitações funcionais. Em meio a esse público, 80% das pessoas podiam contar com familiares e os demais nem sequer tinham esse auxílio.
Se já era assim há três anos, como será que estamos agora, diante de um aumento contínuo no número de idosos brasileiros? Será que essa história será sustentável?
Não devemos esperar, pelo menos com base nos dados atuais, que mais idosos poderão contar com o apoio de um familiar como cuidador. Entre os fatores que justificam essa nova realidade estão a composição mais enxuta dos núcleos familiares, a presença de mulheres que estão no mercado de trabalho — as filhas a quem competia no passado a tarefa de cuidadoras — e o impacto do número reduzido de filhos.
Assim, diminui a perspectiva de que os familiares possam assumir esse papel. Nesse contexto, ganha relevância a figura do cuidador profissional.
Essa demanda já se revela tão pungente que, em 2018, segundo a Relação Anual de Informações Sociais do então Ministério do Trabalho, o ofício de cuidador de idosos foi o que mais cresceu no Brasil nos últimos dez anos. Eram 5 263 profissionais em 2007. Em 2017 já eram 34 051 pessoas com essa ocupação — um aumento de 547%.
Há sempre muitas dúvidas em relação à escolha e à necessidade desse tipo de cuidado. As famílias sofrem e têm receio de errar. Fomos criados em uma dinâmica cultural em que o cuidado é exercido majoritariamente pelos familiares (filhos, sobrinhos, netos…).
Para que possamos ter menos receio e acreditarmos ainda mais na importância do cuidador formal, devemos estar atentos às qualificações desse profissional, que, além da confiança da família, deve possuir um conhecimento teórico e prático e preparo psicológico. Ele tem que estar apto a atender às limitações e às especificidades do idoso.
O nível de dependência varia muito e há situações em que, devido à demência, por exemplo, o paciente pode apresentar comportamento agressivo ou inadequado. Acima de tudo, o bom cuidador deve transparecer preocupação, dedicação e amor.
A demanda cada vez maior por essa profissão já levou à criação de um Dia Nacional do Cuidador de Idosos, celebrado em 20 de março, e está atrelada a algumas missões que buscam sedimentar a importância do ofício nesse cenário de envelhecimento da população brasileira.
Juntos, devemos contribuir para a valorização do profissional e de seu papel na sociedade, conscientizar as pessoas sobre o cuidado ao idoso a fim de também combater a negligência e a violência contra esses cidadãos e difundir conhecimento para termos mais respeito e zelarmos ainda mais pela saúde física e mental de quem envelhece. Vamos nos cuidar e, se preciso, pedir o apoio a quem sabe cuidar de nós.