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CAR-T Cell: a cura de cânceres do sangue?

É cedo para falar em cura, mas os resultados são promissores. E o Brasil, que antes só dispunha de CAR-T Cells do exterior, começa a dominar a tecnologia

Por Sidney Klajner
13 dez 2023, 16h12
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  • Apontada como revolucionária, a terapia com CAR-T Cell (receptor de antígeno quimérico de células T) faz jus ao adjetivo pelos resultados que vêm sendo registrados no tratamento de cânceres hematológicos, como alguns tipos de linfomas, leucemias e mieloma. Embora não se fale em cura, o fato é que no exterior, onde sua aplicação começou, há pacientes em remissão da doença (sem sinais de células doentes no organismo) há quatro ou cinco anos. 

    Quadros de evolução semelhante têm sido observados no Brasil, que está dando um passo importante: o desenvolvimento de tecnologia nacional de manufatura das CAR-T Cells, até recentemente feita apenas em laboratórios estrangeiros.  

    Aqui, o Einstein foi pioneiro na obtenção da autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para realizar pesquisas clínicas com células T made in Brazil – a primeira paciente tratada nesses ensaios, com linfoma não Hodgkin, está em remissão desde maio, quando foi feita a infusão. 

    +Leia também: CAR-T expõe dificuldade de acesso a terapias genéticas nos planos de saúde

    O objetivo dessa terapia é fazer com que o próprio sistema imunológico combata a doença.  Para isso, linfócitos T (células de defesa) são extraídos do sangue do paciente por um processo chamado leucoférese e modificados geneticamente em laboratório para que “aprendam” a atacar as células cancerígenas. Depois, são multiplicados e reinseridos na pessoa.  

    O “pulo do gato”, como define o Dr. José Mauro Kutner, gerente médico do Departamento de Hemoterapia e Terapias Avançadas do Einstein, está justamente na reprogramação genética das células, a etapa de manufatura. 

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    Nesse processo, é usado um vetor viral (no caso, um lentivírus, um vírus que não causa doença em humanos). Esse agente é modificado geneticamente e acoplado às células T para reprogramá-las. 

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    Assim, elas passam a ter em sua superfície o receptor que as torna capazes de identificar e combater as células cancerígenas. Multiplicadas em milhões de células CAR-T no laboratório, elas são infundidas por via venosa no paciente. Antes, a pessoa passa por uma quimioterapia leve para diminuir a imunidade, para que o organismo não rejeite as novas células.

    Atualmente no Brasil, dois produtos de Car-T Cell (vindos de fora) podem ser comercializados para doenças linfoides, enquanto se aguarda um produto para mieloma já aprovado pela Anvisa, mas ainda não disponível no mercado. Os demais são aplicados apenas em pesquisas clínicas.

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    Importância da produção nacional

    Hoje, quase todas CAR-T Cells dependem de gigantes da indústria farmacêutica, ou seja, hospitais de todo mundo mandam para esses centros os linfócitos T para serem modificados e multiplicados. E os recebem de volta congelados para serem infundidos nos pacientes. 

    Esse é um dos fatores que limitam ganhos de escala e explicam os preços altíssimos dessa terapia. A produção nacional, além da importância de dotar o país de tecnologia de ponta, contribui para modificar esse cenário, ampliando o acesso a essa tecnologia, principalmente a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

    No Einstein, de acordo com o Dr. Nelson Hamerschlak, coordenador do Programa de Hematologia e Transplante de Medula Óssea, outros projetos de pesquisa clínica estão em andamento, usando CAR-T Cell (comercial e não comercial) para tratamento de mieloma múltiplo, leucemia linfoide e linfomas. 

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    Perspectivas promissoras

    E podemos esperar ainda mais dessa tecnologia. Estão em curso estudos de uso de CAR-T Cell para outros cânceres hematológicos, como doença de Hodgkin, leucemia linfocítica crônica e leucemia mieloide aguda; para tumores sólidos, como o de mama e o neuroblastoma; e para doenças autoimunes graves. 

    O Einstein também já está iniciando pesquisas de aplicação dessas e outras terapias inovadoras em tumores sólidos. 

    No âmbito do processo de manufatura, os pesquisadores estão empenhados em desenvolver novos vetores e aumentar a potência e eficácia dos já existentes, além de entregar vetores com mais de um alvo químico para uma mesma doença, o que ajudaria a evitar a rejeição. 

    Também está no foco reduzir o tempo de manufatura. O Einstein já obteve um bom resultado ao produzir a CAR-T Cell em 12 dias. Mas a ideia é conseguir fazer isso em um ou dois.

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    Outra fascinante frente de estudos é a criação de CAR-T alogênica. Eu explico: hoje, elas são autólogas, produzidas especificamente para cada paciente, usando suas próprias células T para a reprogramação genética. 

    Já no modelo alogênico, os pacientes poderiam receber infusões de CAR-T Cells geradas a partir dos linfócitos T de outro indivíduo. Qual a vantagem disso? O uso imediato de um produto pré-fabricado.  

    Caso a ciência consiga transformar esse projeto em realidade, os pacientes teriam à disposição células CAR-T “de prateleira”.

    Pelos resultados que já apresenta e pelas perspectivas que temos no horizonte, a CAR-T Cell promete fazer cada vez mais válida sua definição como uma terapia revolucionária no tratamento do câncer. Uma tecnologia que, assim como outras, deverá ter custos gradativamente reduzidos com ganhos de escala. E as CAR-T Cells made in Brazil fazem parte dessa revolução.

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