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O médico e CEO do A.C. Camargo Cancer Center, Victor Piana de Andrade, e outros experts da instituição desfazem os mitos e compartilham as descobertas e inovações na prevenção, no diagnóstico e no tratamento do câncer
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O que realmente importa para fechar o cerco ao câncer de pulmão?

Nosso colunista explica o impacto de parar de fumar na prevenção da doença e o papel do rastreamento com exames em fumantes

Por Victor Piana de Andrade
Atualizado em 31 ago 2022, 11h41 - Publicado em 30 ago 2022, 11h51

Dois milhões de pessoas morrem por câncer de pulmão todos os anos pelo mundo. Embora este seja o segundo câncer em incidência, quando falamos em mortalidade nenhum tumor mata mais que ele. O Agosto Branco, mês de conscientização sobre a doença, é o momento de falar sério sobre o tema.

Precisamos falar sério sobre o câncer de pulmão. E sobre o que realmente funciona para controlá-lo. Resumiria dessa forma (e nessa ordem):

1. Não fume
2. Se fuma, procure ajuda e pare de fumar 
3. Se acumulou uma carga de fumo significativa na vida, entre em um programa de rastreamento para o câncer de pulmão
4. Se descobriu um nódulo no pulmão por exames de rotina, acompanhe com especialistas. Nem todo nódulo é câncer e nem todos precisam de broncoscopia, biópsia ou cirurgia
5. Se descobriu um câncer de pulmão, procure se informar sobre os subtipos, alterações moleculares, exames de estadiamento e tratamentos adequados para o seu caso. Isso faz muita diferença!

Agora vamos entrar nos detalhes. O câncer de pulmão é o segundo mais comum no mundo, após o câncer de mama, afetando 2,2 milhões de pessoas por ano. No Brasil, estimamos 30 mil novos casos anuais, estando entre os cinco tipos de câncer mais frequentes.

O problema é ainda mais grave nos países com mais fumantes, como China e Índia, e, nessa conta, entra qualquer tipo de tabaco, não apenas o cigarro tradicional.

Considerando que o fumo pode ser evitado e que existem exames capazes de rastrear a doença para diagnóstico precoce, são números alarmantes. Já vimos grandes movimentos pela mamografia e pelos exames voltados à próstata. O Outubro Rosa e o Novembro Azul são de amplo conhecimento mundo afora.

Por que não falar mais sobre o câncer de pulmão e maneiras de minimizar seu impacto na sociedade?

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O cigarro, principal fator de risco para a doença, carrega 5 300 compostos de diversas classes em sua fumaça, 70 deles reconhecidos como carcinógenos, ou seja, que causam inflamação crônica nas vias aéreas e danos cumulativos no DNA das células ao longo dos anos em todos os fumantes. O resultado é que parte deles vai desenvolver um câncer.

Além do pulmão, outros órgãos estão sujeitos a esses danos capazes de acarretar um tumor, entre eles a boca, a laringe e a faringe, a cavidade nasal, o esôfago, o pâncreas, os rins, o fígado, a bexiga e as vias urinárias etc. Quem já teve um câncer relacionado ao fumo precisa continuar se cuidando para evitar um segundo tumor ligado ao consumo de tabaco.

O risco de ter a doença aumenta com a carga cumulativa de fumo ao longo da vida. E reduz paulatinamente a cada ano após o indivíduo parar de fumar. 

Existem, sim, alguns tipos de câncer de pulmão que ocorrem em não fumantes, em especial em mulheres jovens. Sabemos que existem outros fatores de risco para o problema, como questões genéticas, infecções, radiação e poluição atmosférica. Ainda assim, pensando no câncer de pulmão em geral, o cigarro é a principal ameaça.

Campanhas antitabagismo no Brasil tiveram muito sucesso na redução da incidência de câncer de pulmão a partir de 2008, quando tínhamos 30 casos da doença a cada 100 mil habitantes. Passamos, em 2018, para 16 casos a cada 100 mil! O problema afeta mais homens, sobretudo à medida que envelhecem: a incidência chega a 209 casos a cada 100 mil entre pacientes masculinos acima de 70 anos.

O fumo não é coisa do passado, porém. Renasce agora com o hábito de fumar cigarros eletrônicos entre jovens. Embora nem todos fumem tabaco, esses dispositivos contêm substâncias químicas que podem causar inflamações agudas e crônicas nas vias aéreas.

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Não se deve usar cigarro eletrônico como meio de parar de fumar cigarro comum. A Organização Mundial da Saúde não reconhece o cigarro eletrônico como meio de tratamento seguro para parar de fumar o cigarro comum. E, no Brasil, ele não é liberado pela Anvisa.

Precisamos informar e educar nossas crianças e jovens: mais de 20% dos brasileiros já experimentaram algum tipo de cigarro aos 16 anos de idade. Quanto antes o hábito se inicia, maior o risco de vício, de se tornar um fumante crônico e de sofrer as graves consequências.

+ LEIA TAMBÉM: Cigarro eletrônico continua proibido no Brasil. Saiba por quê

Mas eu já fumo, doutor!

Se você ainda fuma, dá tempo de parar. Muitas empresas, instituições de saúde e o SUS oferecem tratamentos e grupos antitabagismo, que ajudam com suporte medicamentoso e emocional a largar o cigarro. Os ganhos para a vida são de curto, médio e longo prazo.

A cada ano sem fumar, o risco de câncer e de doenças cardiovasculares diminui sensivelmente. Então pare de fumar e, se for o caso, convença amigos ou familiares a fazer o mesmo. E continue realizando os check-ups periódicos.

É importante esclarecer que tumores iniciais não são percebidos em exames de raio-X comum. Fiar-se nisso pode retardar ainda mais o diagnóstico. O método recomendado hoje para fazer o rastreamento do câncer de pulmão é a tomografia computadorizada de baixa dose.

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Todos devem fazer? Não. As evidências científicas de benefício para o exame indicam que devem realizá-lo homens e mulheres com mais de 50 anos e história significativa de fumo.

Trata-se de uma tecnologia mais complexa e cara do que um raio-X, mas, aos poucos, surgem provas de que o investimento compensa, considerando os efeitos e os custos do câncer de pulmão para indivíduos, famílias e sociedade.

Nos últimos dias, foi publicada na Biblioteca Cochrane uma revisão sistemática de estudos clínicos prospectivos que, somados, avaliaram o sucesso e os eventos adversos do rastreamento por tomografia computadorizada de baixa dose em 94 945 fumantes acima de 40 anos (essas pessoas fumavam, em média, o equivalente a um maço por dia por 20 anos ou dois maços por dia por 10 anos).

Ficou demonstrado o benefício em se rastrear o câncer de pulmão em indivíduos fumantes por meio desse exame. Fazer tomografia reduziu a mortalidade por câncer de pulmão em 21%, comparado com o raio-X, e os pacientes que foram submetidos a ela viveram com mais qualidade de vida após o tratamento.

A cada 226 fumantes que passaram pela tomografia, uma morte foi evitada. As pessoas que fizeram o exame também descobriram mais lesões que levaram a biópsias, mas, ao fim, não eram câncer, apenas cicatrizes e inflamações pulmonares.

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Levando tudo isso em conta, a recomendação da tomografia de baixa dose se sustenta pelos benefícios gerados. Então, se você fuma ou fumou por um tempo, não espere sintomas para investigar. Busque entrar num programa de rastreamento com tomografia.

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Diagnóstico tardio, tratamento desafiador

Infelizmente, cerca de 80% dos tumores de pulmão são diagnosticados em fase avançada, só quando surgem sintomas como tosse com sangue, dor no tórax e dificuldade respiratória. Nessas condições, 60% dos pacientes já têm sinais de metástase em outros órgãos, isto é, a doença já não está mais confinada ao pulmão.

O triste é que, nessa altura, a probabilidade de o indivíduo sobreviver em cinco anos é ao redor de 10%. Muito diferente de quando a doença é diagnosticada em fase inicial, ou seja, é um nódulo pequeno, restrito ao pulmão e operável. A cirurgia tem altas chances de cura.

O tratamento do câncer de pulmão avançou muito na última década, talvez mais do que qualquer outro em oncologia. E vai muito além da cirurgia. Hoje temos medicamentos que miram moléculas alteradas nas células tumorais ou estimulam o sistema imune a destruir o câncer.

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São tecnologias inovadoras, que trazem esperança e aumentam a qualidade e a expectativa de vida, mas exigem alto grau de personalização no tratamento. Precisamos definir muito bem, com o apoio de exames, o momento de usar a medicação isolada ou mesmo combinada com a radioterapia ou a cirurgia.

De fato, a sobrevida melhorou bastante para quem pode ter acesso aos novos medicamentos, a radioterapias mais modernas e menos tóxicas, a cirurgias mais precisas e combinadas a um plano de tratamento integrado e a testes que permitem monitorar vestígios de DNA do tumor circulando pelo sangue a fim de se antecipar à recidiva da doença ou ajustar a terapia.

No entanto, o custo desse sucesso não é barato. Algumas das medicações em questão chegam a ultrapassar 40 mil reais a dose! E são doses prescritas muitas vezes por um período de dois anos (ou até mais). Poucos países conseguem oferecer essas inovações a todos os pacientes. No Brasil não é diferente: elas estão restritas por ora a0 setor privado.

Agora, se considerarmos o impacto social e econômico do câncer de pulmão (e de outras doenças resultantes do tabagismo), não há dúvida de que a ação mais custo/efetiva e importante é conscientizar as pessoas a parar de fumar e incluir o rastreamento da doença entre os fumantes.

Governo, empresas privadas, operadoras de saúde e healthtechs precisam atuar em conjunto para que isso seja possível. Para que tratar a doença seja cada vez menos necessário.

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