O sexo desprotegido — inclusive o oral — leva ao aparecimento de diferentes doenças. Mas até câncer de boca? O leitor Adriano Lúcio Vieira nos mandou uma carta perguntando se existe uma relação específica entre o sexo oral e esse tipo de tumor.
Para tirar a dúvida, Veja SAÚDE conversou com o oncologista Augusto Mota, coordenador do Comitê de Tumores de Cabeça e Pescoço da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc). Ele contou que, ao contrário do que muita gente pensa, o sexo oral pode aumentar o risco de câncer de orofaringe, não exatamente de boca.
“As partes que constituem o que chamamos de boca são os lábios, as bochechas, a gengiva, o palato [parte da frente do céu da boca] e o assoalho [que fica embaixo da língua]”, explica o médico.
Já a orofaringe é aquela região do fundo da garganta. Ela inclui as amígdalas, a base da língua e o palato mole (o fundo do céu da boca). Parece uma diferença técnica, mas o fato é que são essas estruturas as mais afetadas pelo HPV, vírus que também é transmitido pelo sexo oral.
“Nenhuma das estruturas da boca propriamente tem associação com o câncer provocado pelo HPV”, reforça Mota. Esse agente infeccioso possui mais de 100 subtipos diferentes. Entre eles, 13 são mais ligados a tumores, como de colo do útero, ânus, vagina, vulva, pênis e orofaringe.
O risco de transmissão é praticamente o mesmo para homens e mulheres. Contudo, o sexo feminino sofre mais com suas consequências sérias na região genital.
Quais são as outras causas do câncer de orofaringe
O cigarro e as bebidas alcoólicas também desencadeiam a doença, porém o HPV é, atualmente, o principal responsável por ela.
Mota relata que nas últimas quatro décadas, sobretudo devido às campanhas maciças contra o tabagismo, a incidência de câncer de boca vem caindo. “O único tipo de tumor dessa região que continua aumentando em número de casos é o da orofaringe. Isso por causa da relação com o HPV”, conclui.
As complicações do tumor de orofaringe e como prevenir
Quando diagnosticado no início, ele é facilmente tratável com cirurgia e, dependendo do caso, radioterapia. “Normalmente, os sinais são de garganta inflamada, dor, dificuldade para engolir, lesões visíveis no fundo da boca ou caroço no pescoço”, relata Mota.
Porém, se detectada tardiamente, a enfermidade pode ter se espalhado pelo corpo, o que dificulta o tratamento e reduz as chances de cura. Por isso é tão importante prevenir.
“A palavra de ordem é evitar o sexo desprotegido e se vacinar contra o HPV antes de começar a vida sexual”, recomenda o oncologista da Sboc.
No Brasil, a rede pública oferece a vacina quadrivalente contra o HPV, que protege contra os principais subtipos cancerígenos (6, 11, 16 e 18). Meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos devem recebê-la. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) também disponibiliza as doses para homens de 9 a 26 anos com o sistema imunológico suprimido. E para mulheres de 9 a 45 anos vítimas da mesma condição.
Na rede privada, a vacina é aplicada dos 9 aos 45 anos. Além da versão quadrivalente, dá para adquirir a bivalente (que protege contra os tipos 16 e 18) e a nonavalente (que contempla os tipos 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58).