Existem dois tipos de diabetes. Em ambos, a ausência ou insuficiência de insulina faz com que a glicose não entre nas células e o açúcar fica de fora, sobrando na circulação. “A insulina é muito importante para a pele porque ajuda, por exemplo, no crescimento dos queracinócitos, as células da pele”, explica a dermatologista Flávia Ravelli, de São Paulo. Com o crescimento dos queracinócitos prejudicado, a cútis perde espessura e elasticidade, tornando-se, assim, mais fina e elástica.
A verdade é que a alta taxa glicêmica acarreta diversas consequências para a pele, como explicam, a seguir, Flávia e a endocrinologista Denise Reis Franco, de São Paulo.
Cicatrização lenta
A glicemia alta provoca uma reação inflamatória nos vasos sanguíneos. “Enquanto nos vasos grandes a possível consequência dessa inflamação é a doença cardiovascular, no caso dos vasos pequenos, que nutrem a pele, ela prejudica a irrigação”, explica Denise. Assim, a cicatrização de lesões é mais lenta.
Perda de sensibilidade
Os nervos, embebidos em glicose e sem irrigação sanguínea adequada, ficam mais macios e não funcionam perfeitamente. O efeito é a perda de parte da sensibilidade da pele, além de coceiras generalizadas e da sensação de agulhamento (como se a pele estivesse sendo espetada).
Infecções
“No diabético, o sistema imunológico não funciona corretamente, o que aumenta a chance de infecções”, diz Flávia. Elas podem ser causadas tanto por bactérias quanto por fungos, como é o caso das micoses e frieiras.
Acantose nigricans
Quando o organismo não consegue gerar insulina, paradoxalmente começa a produzir uma substância chamada fator de crescimento de insulina. Ela provoca a acantose nigricans, doença de pele na qual as regiões de dobras, como pescoço e axilas, ficam escurecidas.
Dermatites
A função de barreira para evitar a perda de água pelo organismo não funciona corretamente no diabético. O resultado é uma pele desidratada, propensa ao surgimento de dermatites.
Vitiligo
“Quem sofre de diabetes tipo 1 tem mais chances de desenvolver outro problema autoimune”, afirma Denise. É o caso do vitiligo, doença de pele na qual o próprio organismo ataca as células de pigmentação, causando manchas brancas pelo corpo.
Pé diabético
A pele do diabético, portanto, está mais propensa a sofrer lesões e infecções de todo tipo. A combinação desse fator com outro, a sensibilidade cutânea deficiente, pode culminar num problema gravíssimo: o pé diabético. “Uma simples pedra no sapato pode machucar a pele e a pessoa não percebe porque tem pouca sensibilidade nas extremidades”, explica Flávia. “A lesão evolui para uma infecção e, como a pele não recebe irrigação suficiente para recuperar o tecido lesionado, a infecção vai avançando até atingir músculo, gordura e até os ossos”. Quando a situação chega a esse ponto, o pé precisa ser amputado para que a infecção não se espalhe pelo corpo.
Como se prevenir
Examine a pele
A principal medida de prevenção é examinar a pele, sobretudo dos pés, pela manhã e à noite. Procure por micoses entre os dedos, pequenas lesões e feridas pelo corpo e, se encontrá-las, vá ao médico assim que possível.
Hidrate-se
Beba bastante água e use hidratan
te para a pele todos os dias para evitar a desidratação. “Um bom ritual diário é lavar os pés com água e sabão, secar bem e espalhar hidratante hipoalergênico, sem cheiro e dermatologicamente testado. Com esse procedimento, o diabético já vai acabar fazendo a inspeção da pele”, sugere Flávia.
Cuide dos sapatos
Use calçados confortáveis, de preferência os produzidos especialmente para diabéticos. Antes de calçar, cheque cada um em busca pedrinhas ou qualquer alteração na palmilha que possa machucar a sola dos pés.
Procure um podólogo
Se possível, contrate um serviço especializado para cortar as unhas. Um simples corte ou “bife” arrancado durante o processo pode acarretar em infecção.