Uma palmadinha no bumbum, na hora da birra, tudo bem, certo? “Afinal, não chega a ser uma surra”. Pensar dessa maneira é perigoso: os castigos físicos podem prejudicar o desenvolvimento da criança. Segundo a psicóloga Jonia Lacerda Felicio, da Universidade de São Paulo (USP), o pai e a mãe devem impor limites e aprender a dizer “não”. Mas, quando isso é feito através do tapa, o filho acaba entendendo que os desentendimentos são resolvidos apenas com o uso da força – uma interpretação que gera problemas em diversos aspectos. “Quando analisamos uma criança que sofre abusos físicos frequentemente, vemos que ela é agressiva na escola, por exemplo. Há ainda a possibilidade de deixá-la assustada ou humilhada”, afirma.
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Além disso, quando a garotada é punida com palmadas, não raro cria uma espécie de mecanismo de desligamento. Ou seja, ela se desconecta daquele momento para não sentir a dor. Só que muitas vezes essa estratégia é levada para outras situações do dia a dia, como na escola. A questão é que “desligar” em ocasiões desconfortáveis aumenta o risco de distúrbios de atenção e dificuldade de aprendizado. A alternativa mais adequada é utilizar o castigo comportamental, como proibir o videogame em casos de birra. Mas a ação deve ser imediata e durar pouco para o pequeno conseguir relacionar o comportamento negativo com a punição. “Quando o castigo é excessivo, deprime a criança”, comenta Jonia.
O bom e velho diálogo, claro, não deve ser menosprezado. E não estamos falando de longos sermões. As broncas precisam ser curtas e rápidas, sem partir para desabafos ou acabar em nervosismo. Nessas circunstâncias, manter a calma é essencial. Agora, se os pais forem dominados por estresse e raiva, Jonia sugere interromper a conversa e resolver o desentendimento em outra hora, de cabeça fria. Por outro lado, se quem ficar fora do controle for a criança, uma boa dica é segurá-la pelos pulsos, olhar no rosto e falar firme. Lembre-se: sempre é possível educar sem partir para a palmada.