Que o iogurte traz diversos benefícios à saúde do organismo não é novidade. Já em 1908, o pesquisador russo Ilya Metchnikoff (1845-1916) recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina por observar que o consumo regular do produto estava relacionado ao aumento da longevidade. Bom, só essa descoberta já garantiria um lugar especial para o iogurte na nossa alimentação. Mas suas benesses não param por aí. Pesquisas apresentadas no Congresso Latino-Americano de Nutrição, em Santiago do Chile, revelam que esse produto lácteo é um aliado em outro front: no combate à gastrite.
Já se sabia que seu consumo ajudava o intestino. Mas a gastrite é uma inflamação que dá as caras em outro território do aparelho digestivo – na parede do estômago. E tem como principal agente incendiário uma bactéria diminuta, porém poderosa, a Helicobacter pylori. “No Brasil, 70% dos casos da doença estão relacionados com essa microbactéria”, diz a bioquímica Maricê Nogueira de Oliveira, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.
Mas o furor piromaníaco da H. pylori, como o micro-organismo é popularmente conhecido, pode ser amenizado com alguns goles de iogurte. A comprovação desse benefício específico vem de um estudo mexicano conduzido pelo Instituto Nacional de Salud Pública. Dos 464 voluntários que participaram do trabalho, os que ingeriram pelo menos uma porção semanal do alimento apresentaram maior resistência à bactéria. “O iogurte é capaz de afastar a gastrite ao manter o estômago saudável e os níveis de acidez sob controle”, justifica a epidemiologista Lizbeth Lopez Carrillo, uma das autoras.
Esse efeito protetor se dá graças à presença de bactérias, só que do bem, na receita do alimento. Esses verdadeiros bombeiros atendem pelos nomes de Lactobacillus bulgaricus e Streptococcus thermophilus. “Eles transformam a lactose, o açúcar do leite, em ácido lático, capaz de inibir a H. pylori”, explica Maricê.
A dupla Lactobacillus bulgaricus e Streptococcus thermophilus integra a tropa bacteriana dos probióticos, bichinhos que têm o dom de melhorar o funcionamento do sistema digestivo. “Quando ingeridos em quantidades adequadas, eles fornecem as ferramentas para o combate à H. pylori”, diz o gastroenterologista Dan Waitzberg, do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Além disso, incluir o iogurte na alimentação é importante para manter a microbiota do intestino regulada”, complementa.
Pesquisadores da Kyoto Womens University, no Japão, foram atrás de mais explicações para o poder antigastrite do iogurte. Por quatro semanas, eles acompanharam 42 voluntários com H. pylori. Quem consumiu o iogurte com probióticos apresentou uma queda considerável na atividade da bactéria por trás da inflamação estomacal.
Além do consumo diário de duas porções de iogurte, dose recomendada pela bioquímica Maricê, quem sofre com quadros recorrentes de dor de estômago deve fazer uma seleção caprichada à mesa. Segundo Dan Waitzberg, opções que alastram o fogo estomacal, como café e bebidas alcoólicas, estão proibidas. “Eles aumentam o suco gástrico, que é ácido e agrava a gastrite”, aconselha o gastro. “Além isso, é importante identificar os alimentos que pioram o desconforto para, em seguida, excluí-los da dieta.”
E o leite, o primo do iogurte? “Quem tem gastrite deve evitá-lo, porque ele aumenta a acidez do estômago”, sentencia a geneticista de bactérias láticas e probióticas Alda Lerayer, do Conselho de Informações sobre Biotecnologia. Para Waitzberg, o ideal é associar o leite a outro alimento, evitando consumi-lo isoladamente. “Mas sem dúvida, devido à fermentação, o iogurte é seis vezes mais fácil de digerir que o leite”, compara Waitzberg. Mais um ponto para ele.