Acolher e nutrir o embrião no ventre materno. Essa é a função do endométrio, o revestimento uterino que descama em forma de menstruação quando a fecundação não acontece. Mas ele pode se desenvolver fora da cavidade uterina, avançando sobre outros órgãos, o que gera uma intensa inflamação, conhecida como endometriose.
Cerca de 85% das mulheres que têm a doença sentem algum grau de dor, variando de leve a incapacitante. Essa dolorosa realidade, que acomete de 5% a 10% das mulheres em idade fértil, segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, resulta da combinação de fatores genéticos, emocionais e ambientais.
Mas resignar-se à dor crônica não é a única opção para as pacientes de endometriose. Fisioterapia, acupuntura e eletroestimulação podem aliviar os sintomas da doença. “Os tratamentos fisioterápicos são eficazes e podem ser usados sozinhos ou em associação com o tratamento clássico”, diz o médico Paulo Giraldo, presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo.
Um estudo premiado no XX Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, em 2015, comprovou a eficácia da eletroestimulação (TENS) no tratamento complementar da endometriose.
Aos 53 anos, Maria Helena Nogueira é prova de que a eletroestimulação ajuda no alívio da dor. Há 30 anos, ela convive com uma endometriose severa e, mesmo após 12 cirurgias, suas dores só melhoraram com o uso de um aparelho TENS portátil. “No ano passado, pela primeira vez passei o Natal sentada à mesa com a minha família, e não na cama”, diz Maria Helena, presidente da ONG Endometriose Mulher, de São Paulo.
Como a tecnologia TENS funciona
Sem drogas e sem efeitos colaterais, a Neuroestimulação Elétrica Transcutânea (TENS) age por meio de pulsos elétricos que impedem o estímulo da dor de chegar ao cérebro. As ondas têm efeito analgésico e diminuem a sensibilidade do local mesmo após o uso.
A técnica estimula a produção, pelo organismo, de opioides endógenos, uma espécie de analgésico natural e, por isso, contribui de forma significativa para a melhora das dores. “Dependendo da dor, a mulher não responde bem a medicamentos”, diz a fisioterapeuta Ticiana Mira. “Com o TENS, ela passa a ter maior controle sobre o corpo.”
Desde os anos 1980, as clínicas de fisioterapia utilizam a eletroestimulação. A novidade é a chegada de um aparelho simples, portátil e autoaplicável, que minimiza as dores de diversas causas, como ginecológicas, musculares, reumáticas e fibromialgia.
No caso da endometriose, ele ajuda a mulher a ter uma vida mais saudável. “Dores extremas e que persistem além dos seis meses geram incapacidade funcional e comprometem a qualidade de vida da mulher”, afirma o médico Paulo Giraldo.
Pesquisas mostram que em 65% dos casos a endometriose afeta a atividade profissional das mulheres: 16% param de trabalhar e 6% são forçadas a se aposentar.