Cuidar da saúde bucal durante a internação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) melhora sua recuperação e reduz o risco de mortalidade durante a internação. Um estudo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, reforçou que a higiene bucal adequada associada ao tratamento odontológico desses pacientes diminuiu em 21,4% o risco de morte. Os resultados foram publicados no American Journal of Infection Control.
A odontologia hospitalar é reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia como área de atuação desde 2015, e está se consolidando cada vez mais como uma medida fundamental no tratamento dos pacientes internados, especialmente os entubados.
“É cada vez mais frequente a publicação de estudos que comprovam e reforçam a relação da saúde bucal com a saúde geral”, diz a cirurgiã-dentista Letícia Mello Bezinelli, coordenadora do Serviço de Odontologia Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein.
O estudo da USP Ribeirão foi realizado em duas UTIs: uma geral clínico-cirúrgica, que recebe pacientes com doenças crônicas descompensadas ou em pós-operatório, e outra especializada em emergências, que atende pacientes que sofreram algum politraumatismo, por exemplo.
De acordo com a pesquisa, na UTI clínico-cirúrgica, a mortalidade caiu de 36,28% para 28,52% com a adoção da odontologia hospitalar. Na UTI de emergência, a redução não foi estatisticamente significativa – segundo os pesquisadores, uma explicação seria a diferença do perfil dos pacientes atendidos.
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Porta de entrada de vírus e bactérias
A boca é uma das principais portas de entrada de vírus, bactérias e outros micro-organismos. Nos pacientes internados em UTI sob ventilação mecânica, a sedação e a presença do tubo orotraqueal propiciam a ocorrência de aspiração do conteúdo da cavidade oral para a árvore pulmonar, o que aumenta o risco de pneumonia associada à entubação.
Segundo Letícia, após um período no ambiente hospitalar a microbiota bucal muda e as bactérias se tornam mais patogênicas (com mais poder de causar doenças). No paciente de UTI, o risco de algum problema é maior porque as bactérias se adaptam muito bem à superfície do tubo.
“Se a higiene bucal não for feita de maneira adequada, o risco dele desenvolver uma pneumonia é altíssimo”, ressalta a cirurgiã dentista.
O que é avaliado?
Engana-se quem pensa que o atendimento odontológico hospitalar se resume à limpeza da boca ou dos dentes do paciente. Os dentistas avaliam, por exemplo, se o paciente tem doença periodontal, algum dente fraturado que possa ser aspirado e sangramentos. Além disso, avaliam a presença de fissuras que possam evoluir para alguma lesão nos lábios, se o paciente usa alguma prótese, se existe alguma cárie, entre outros fatores.
“Nem sempre as condições odontológicas do paciente são boas. E o nosso olhar tem o objetivo de identificar fatores que possam agravar a doença ou dificultar a recuperação do paciente. Por isso é fundamental que o cirurgião-dentista esteja devidamente capacitado”, finaliza Letícia.
*Este conteúdo é da Agência Einstein