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Como tratar e detectar o câncer de ovário mais cedo

A doença, que acometeu a atriz Marcia Cabrita, esconde-se atrás de sintomas difusos e chega a escapar de exames. Saiba o que pode ser feito

Por Lígia Vasconcelos (colaboradora)
Atualizado em 28 fev 2023, 17h44 - Publicado em 6 Maio 2016, 16h01

No corpo humano, a nobreza de um órgão não depende do seu tamanho. Basta pensar num par diminuto abrigado na pelve das mulheres. Os ovários produzem os hormônios femininos e os óvulos, ou seja, os ingredientes que garantem a maternidade e o perpetuar da nossa espécie. Só que, da mesma forma que seu bom funcionamento tem uma tremenda repercussão, se eles viram alvo de um câncer o estrago é enorme. Trata-se do tumor ginecológico com maior taxa de mortalidade. No ano passado, ele atingiu mais de 5 mil brasileiras. E a estimativa é que três quartos dos casos chegam ao consultório em estágio avançado, quando o mal já se espalhou.

O atraso no flagra da doença não se restringe à pequena dimensão das glândulas. O problema é que os primeiros sintomas se confundem facilmente com os de outras encrencas. Para ter ideia de como as manifestações desse câncer confundem a cabeça, um levantamento do governo australiano aponta que menos da metade das mulheres reconhece seus traços mais comuns, como aumento do volume no abdômen, sensação de bexiga cheia e dificuldade para evacuar. “Por vezes, a pessoa acha que tem uma desordem intestinal e demora a chegar ao ginecologista, que seria capaz de fazer o diagnóstico”, diz a oncologista Alessandra Morelle, do Hospital Moinhos de Ventos, em Porto Alegre.

No que ficar de olho, então, diante de um cenário tão propenso a pegadinhas? Que tal mirar os genes, ou melhor, sua família? “Não é exagero dizer que analisar o histórico familiar da paciente pode salvar uma vida”, crava o oncologista Stephen Stefani, do Hospital Mãe de Deus, também na capital gaúcha. Se a mãe, a avó ou uma irmã teve a doença, já sabe: atenção ao máximo. “Quando há casos na família, indicamos um mapeamento genético”, conta o oncologista Oren Smaletz, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Testes desse tipo acusam, por exemplo, mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, que indicam alta possibilidade de desenvolver um câncer no ovário e nas mamas. E sinalizam a necessidade (ou não) de fazer um monitoramento frequente e até optar pela retirada preventiva das glândulas — caso da atriz Angelina Jolie, que corria um risco de 50% de sofrer com o mal.

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Leia também: 5 motivos que justificam a retirada dos ovários de Angelina Jolie

Além da hereditariedade, o acaso também conspira a favor da doença. E, nesse ponto, o alerta apita para as mulheres na menopausa ou que passaram dos 50 anos. É que, a cada ovulação, forma-se uma pequena ruptura na parede do ovário. E essa alteração, com o passar do tempo, pode abrir caminho a um tumor. Por essa razão, a pílula anticoncepcional parece reduzir o risco do perigo. Como ela suprime a ovulação, apareceriam menos lesõezinhas capazes de evoluir para algo pior.

Como o checkup ginecológico convencional não costuma denunciar a doença no início, se a mulher reúne fatores de risco, a postura no consultório muda. O acompanhamento deve se tornar mais assíduo e o médico indica dois exames semestrais: o ultrassom transvaginal e a medição dos níveis da CA125, proteína cuja abundância no sangue indica maior probabilidade de os estragos acontecerem. “Ainda assim, os resultados nem sempre são precisos e o tumor pode progredir”, diz o oncologista Fernando Maluf, diretor do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, em São Paulo. Não é à toa que os cientistas quebram a cuca em busca de um método certeiro.

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O fato de os exames atuais não garantirem ovários a salvo é justamente o que tem propulsionado, em uma parcela das mulheres com teste genético positivo, a realização de cirurgias para extirpar as glândulas e as tubas uterinas como precaução. Essa opção cobra muita conversa com o médico e não é recomendada para todas, mas… “Pode ser pertinente pensando na alta probabilidade de o tumor aparecer”, opina Maluf. Como na vida da atriz Angelina Jolie, que perdeu a mãe e a avó para o câncer.

Vamos à luta?

Felizmente, o tratamento dos tumores ovarianos avançou nos últimos anos. Se o diagnóstico for precoce, a ideia é cortar o mal pela raiz, e uma operação é indicada para remover a glândula comprometida. À medida que a doença progride, o outro ovário, bem como o útero e as tubas uterinas, entra na lista das estruturas a serem retiradas – e, aí, há que se pensar em alternativas à infertilidade causada pelo procedimento. “Quando a cirurgia é bem-sucedida, a paciente costuma ter muitos anos pela frente”, diz a oncologista Daniela de Freitas, do Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista. Em alguns casos, sessões de quimioterapia são solicitadas para assegurar que o problema foi mesmo erradicado.

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75% dos casos de câncer de ovário chegam ao consultório em estágio avançado

Já estágios mais avançados da enfermidade — quando ela se espalha pra valer — cobram químio mais intensa para diminuir o volume e a extensão do câncer, além de cirurgia e outros medicamentos. “O tratamento se aperfeiçoou e as pacientes estão vivendo mais e melhor”, afirma Smaletz. Agora, ainda que os centros de pesquisa continuem à caça de melhores soluções, um recado continuará valendo: quanto antes for o diagnóstico, maiores serão a expectativa e a qualidade de vida.

E quando eles estão cheios de cistos?

Diferentemente do que muitos imaginam, a síndrome dos ovários policísticos não aumenta o risco de um tumor maligno dar as caras ali. A presença do distúrbio, marcado por um baita desarranjo hormonal, até evitaria indiretamente o surgimento de um câncer. “Isso porque as pacientes são orientadas a tomar o anticoncepcional desde cedo, e ele é um fator de proteção”, esclarece Jesus Paula Carvalho, chefe da equipe de ginecologia oncológica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Como a pílula deixa as glândulas meio que dormentes, cai a frequência de alterações potencialmente perigosas que são fruto da ovulação.

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Fonte: Maria Del Pilar Estevez Diz, médica coordenadora da oncologia clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo

Sinais suspeitos

Quando eles persistem por um tempo, cabe uma investigação médica mais aprofundada

Abdômen mais cheinho

Como o tumor de ovário costuma crescer em ritmo acelerado, as células cancerosas conseguem escapar e chegar a outras regiões do abdômen. Liberadas ali, desencadeiam um processo inflamatório que acarreta o acúmulo de líquido. Daí o inchaço na barriga.

Intestino travado

O crescimento do câncer, bem como o depósito de líquido, pode pressionar o que está por perto. Nem o intestino escapa. Ao comprimir o órgão, os movimentos peristálticos ficam prejudicados, dificultando as idas ao banheiro. Há casos em que a passagem das fezes é interrompida por completo.

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Bexiga que nunca esvazia

Bate a vontade de fazer xixi, a mulher corre para o banheiro e, pouquíssimo tempo depois, a sensação de bexiga cheia persiste. Isso acontece porque, com a expansão do tumor, a estrutura que armazena a urina fica pressionada. Aí, o espaço disponível para o xixi diminui e a visita ao toalete acontece a toda hora.

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