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Dieta gordurosa do pai contribuiria para câncer de mama na filha

Um estudo brasileiro premiado sugere que a ingestão excessiva de gordura pelo homem favorece o surgimento de tumores na próxima geração

Por Thaís Manarini
Atualizado em 20 out 2017, 19h38 - Publicado em 20 out 2017, 19h28
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  • Você já deve ter lido por aí como hábitos da mãe (fumar, beber, comer mal…) interferem na saúde do feto, tornando-o mais suscetível a doenças ao longo da infância e vida adulta. Mas pouco se falava sobre o pai. Bem, isso começou a mudar. Um estudo conduzido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo abriu os olhos de pesquisadores do mundo todo para a influência da alimentação paterna no bem-estar de seus herdeiros – especialmente quando o assunto é câncer.

    O trabalho é assinado pela bióloga Camile Castilho Fontelles, que atualmente faz pós-doutorado na Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos. Primeiro, ela separou ratos machos em três grupos. Para um, ofertou uma dieta turbinada com banha de porco, representando a gordura saturada, vista como mais traiçoeira para a saúde. A segunda turma recebeu uma alimentação com doses extras de óleo de milho, fonte de gorduras poli-insaturadas – essas são encaradas como benéficas. O terceiro grupo, o controle, ficou na dieta básica, contendo todos os nutrientes essenciais para o crescimento adequado dos bichos.

    Os animais foram cruzados com fêmeas alimentadas de forma padrão. A prole resultante desse cruzamento também comeu o necessário para se desenvolver de maneira saudável. “A ideia era realmente isolar a dieta do pai”, explica Camile. Com 50 dias, induziu-se o câncer de mama na prole feminina.

    Inicialmente, a pesquisadora esperava que as duas dietas com alto teor de gorduras aumentassem o risco de o tumor se desenvolver. Mas isso aconteceu só nas filhotes dos machos que receberam a gordura de origem animal – ou seja, a saturada da banha de porco. “Já na prole dos que ingeriram a gordura vegetal, vinda do óleo de milho, notamos menor número de tumores e taxa de crescimento mais lenta. Isso sugere um efeito protetor”, relata Camile.

    Por que a saturada foi pior

    De acordo com a autora da experiência, os pais que abusaram dessa versão de gordura apresentaram mais adiposidade principalmente na área do testículo e do epidídimo, tubo no qual o esperma é armazenado. “E isso interfere na qualidade dos espermatozoides”, descreve Camile. Essa é uma das hipóteses consideradas capazes de explicar por que a prole desses animais acabou prejudicada.

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    Para o professor Thomas Ong, do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center), orientador do projeto, não significa que, a partir de agora, todos devem se entupir de óleo de milho. “Ele pode exercer outras alterações metabólicas. O que aprendemos é que não podemos classificar todas as gorduras da mesma maneira”, reflete. “Esperamos que os estudos avancem até o ponto em que a gente entenda qual a combinação ideal dessas substâncias para favorecer a saúde de pais e filhos”, comenta.

     

     

    O pai em foco

    Além de ter recebido o Prêmio Tese Destaque da USP 2017 na área de Ciências Agrárias, a pesquisa de Camile ganhou repercussão internacional. Faz sentido: até então, muito se falava sobre a influência da mulher na saúde dos filhos. “O que é compreensível. Afinal, a interação feto-mãe é profunda”, reconhece Ong. Ora, além dos nove meses passados dentro do útero, o bebê ainda é amamentado após vir ao mundo. “Mas o que precisamos descontruir é o conceito de que o pai tem papel neutro”, reforça.

    Segundo Thomas Ong, a ciência está percebendo que os hábitos do homem no momento da pré-concepção (nutrição, tabagismo, sedentarismo e por aí vai) podem afetar a forma como os espermatozoides são produzidos. “Esse processo envolve um fenômeno epigenético”, diz. Oi? O expert está se referindo a modificações que podem ser transmitidas para as próximas gerações, mas que não alteram o DNA em si. Elas basicamente interferem nas ordens que o código genético dá para o corpo – podem desligar um gene ou, por outro lado, superativar outro.

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    Mas nem tudo está perdido

    Calma: dá para reverter os estragos. “Ao melhorar a nutrição de um homem obeso, por exemplo, é possível normalizar as alterações epigenéticas no esperma”, informa Ong. “Ou seja, não é definitivo. Dá para agir e se cuidar”.

    Embora a pesquisa tenha sido feita com animais – a ideia é avançar para estudos com humanos –, ela deixa mensagens importantes. Uma é que existe uma janela de oportunidade para começar a prevenir o câncer (e outras doenças) bem no início da vida. “A outra é que, antes de engravidar, seria interessante que tanto a mulher como o homem se cuidassem mais. Hoje, esse papel fica muito mais restrito a elas”, aponta Ong.

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