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Alimentação à base de insetos é rica em proteínas e é mais sustentável

Além de proteicos, grilos, gafanhotos e formigas também são ricos em gorduras boas; mudança cultural é necessária para que a entomofagia seja aceita

Por Patrícia Figueiredo, da Agência Einstein*
6 fev 2023, 14h00

É difícil não torcer o nariz diante da imagem de um inseto na comida. Pensar neles como alimentos, então, é ainda mais repugnante para muitas pessoas. Apesar da fama de sujos e indesejados, esses animais podem se tornar, no futuro, uma alternativa alimentar importante para a dieta de milhões de pessoas pelo mundo. Pelo menos é o que avalia a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês).

Os esforços para popularizar a entomofagia, termo técnico usado para definir a alimentação com insetos, não são novos: desde 2013 a Organização das Nações Unidas (ONU) já propagandeia, em relatórios científicos, como essa prática pode ser uma estratégia para o combate à fome. Nos últimos anos, no entanto, uma avalanche de novos projetos pipocaram em universidades e centros de pesquisa na Europa.

É o que explica a pesquisadora Nanna Roos, uma das maiores especialistas no tema e coordenadora de projetos financiados pela União Europeia para tentar popularizar o consumo de insetos comestíveis.

“Houve uma explosão, uma empolgação, quando ficou claro que poderíamos produzir alimentos altamente nutritivos, em larga escala, sem muito impacto para o meio ambiente. Ainda mais em um momento em que estamos cada vez mais conscientes sobre as mudanças climáticas e os seus efeitos”, explica Roos, professora do Departamento de Nutrição, Exercício e Esportes (NEXS, na sigla em inglês) da Universidade de Copenhague, na Dinamarca.

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O país, onde a pesquisadora está baseada, é um dos pioneiros em iniciativas desse tipo. Até a família real dinamarquesa já demonstrou interesse no assunto: em setembro de 2022, o príncipe Frederik André Henrik Christian virou notícia ao provar um cookie feito com grilos durante um evento sobre alimentação sustentável. O doce em questão foi feito pela BugBox, empresa da Estônia que desenvolve tecnologias para a criação em larga escala de insetos comestíveis.

Valor nutricional

De acordo com a ONU, gafanhotos e grilos são uma ótima fonte de gorduras boas, e o percentual de proteínas nos alimentos à base desses insetos pode chegar a até 69% do total.

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Além disso, a entidade destaca que esses animais são ricos em micronutrientes como cobre, ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio e zinco, além de riboflavina, ácido pantotênico, biotina e, em alguns casos, ácido fólico.

“Além de ricos em proteínas e gorduras boas, estudos mostram que insetos comestíveis têm boa quantidade de fibras, vitaminas e, principalmente, sais minerais como cálcio, ferro e zinco”, afirma Fabiana Fiuza Teixeira, nutricionista da área de Saúde Populacional do Hospital Israelita Albert Einstein.

Por essas razões, em relatório publicado em 2013, a divisão da ONU dedicada à alimentação considerou que os insetos são “uma fonte de alimento altamente significativa para as populações humanas”. A publicação foi um pontapé inicial importante para o desenvolvimento desse setor.

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“Este documento acabou sendo o relatório mais baixado de todos os tempos entre os produzidos pela FAO. Logo em seguida, nós lançamos o primeiro projeto de pesquisa focado em insetos comestíveis da Universidade de Copenhague. Houve uma repercussão enorme e, desde então, há muito interesse no assunto”, afirma Roos.

Dos chapulines, pequenos gafanhotos temperados com pimenta e muito comuns no México, à formiga-saúva, usada por chefs como Alex Atala para finalizar pratos graças ao seu sabor cítrico, os insetos comestíveis ainda são tidos como iguarias em muitos lugares do mundo.

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Para aumentar a aceitação, uma das estratégias é transformar a aparência em algo “mais comum”, como prevê o projeto SUStainable INsect CHAIN (SUSINCHAIN, na sigla em inglês), que reúne instituições de vários países e é financiado com recursos da União Europeia.

Um dos estudos do SUSINCHAIN selecionou famílias de Copenhague com crianças de 8 a 10 anos para receber, toda semana, uma cesta com comidas feitas à base de insetos que replicam receitas famosas.

A ideia é que você não veja o inseto. Temos uma versão de carne moída, por exemplo, que é a base de um prato de macarrão à bolonhesa com grilos. Temos salsichas, temos pães, temos falafel”, exemplifica Roos.

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“O objetivo é tornar a comida à base de insetos algo realmente familiar. O que é importante para este projeto é fazer com que os insetos contribuam substancialmente, para que eles deixem de ser petiscos e se tornem uma parcela substancial da dieta”, diz a pesquisadora.

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Combate à fome

Com o crescimento da população mundial, que chegou à marca de 8 bilhões de pessoas em novembro de 2022, a pobreza e a insegurança alimentar estão aumentando. Neste cenário de demanda crescente por alimentos, tanto cientistas e governos quanto empresas privadas investem em alternativas que possam ser produzidas com menos recursos.

A ONU espera que a demanda global por produtos pecuários deve dobrar até 2050, chegando a 465 milhões de toneladas por ano. Para atender essa crescente procura será preciso “soluções inovadoras”, afirma a organização.

De acordo com Roos, as principais vantagens da produção de insetos comestíveis, em comparação com outras proteínas de origem animal, estão ligadas ao consumo de recursos.

“Nós temos que começar essa transição alimentar. Temos que passar por essa mudança para sermos mais sustentáveis, investindo menos em carnes, por exemplo. É neste contexto que os insetos comestíveis podem ser complementares”, avalia a pesquisadora.

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“Se produzirmos insetos de forma sustentável e controlada, eles são animais muito eficientes no consumo de recursos. Podemos produzi-los com muito menos emissões de gases do efeito estufa, mesmo comparando com alternativas que já são mais sustentáveis que a carne de boi, como aves, por exemplo”, explica a cientista.

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A produção de insetos também pode oferecer emprego e renda para milhões de pessoas, conforme essa indústria se desenvolve, segundo a FAO, agência da ONU dedicada à alimentação: “A coleta ou a produção de insetos pode oferecer empregos e geração de renda nos países em desenvolvimento, mas não apenas neles. Em muitos casos, essas atividades podem servir como uma estratégia de diversificação que fornece oportunidades de geração de renda para as famílias”.

Mudança cultural

Para vencer a rejeição entre os consumidores, ainda é preciso investir muito em campanhas de marketing para transformar a imagem desses alimentos, ainda muito associada a um contexto de escassez de recursos.

“O consumo de insetos ainda é muito marginalizado, principalmente em nossa cultura ocidental”, explica Fiuza. “Estratégias educativas mostrando as vantagens, mitos e verdades sobre o consumo de insetos podem ajudar numa melhor aceitação pela população”, avalia a nutricionista.

Para que eles se tornem uma alternativa alimentar no dia-a-dia, e não apenas uma especialidade exótica, a principal barreira a ser vencida é a cultural.

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Na Europa, vários pesquisadores têm dedicado seus estudos a explicar a rejeição humana aos insetos comestíveis. A alimentação com esses animais é “muitas vezes considerada uma prática primitiva, animalesca ou bárbara, e é tradicionalmente associada à fome e à pobreza”, explicam os autores do livro “Production and Commercialization of Insects as Food and Feed“.

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Os pesquisadores, no entanto, argumentam que essa perspectiva pode mudar com o passar dos anos, e defendem que essa barreira pode ser vencida com iniciativas de marketing de grande alcance. Eles lembram, por exemplo, que outros alimentos já foram considerados nojentos na cultura ocidental, mas se tornaram populares com o passar do tempo.

Uma pesquisa realizada com mais de 180 voluntários na Dinamarca tentou explicar o motivo dos humanos terem tanta rejeição aos insetos comestíveis – e como essa perspectiva pode ser alterada. No experimento, os participantes provaram diversos insetos comestíveis junto com amigos.

Após análise dos resultados, os cientistas concluíram que “as normas sociais desempenham um papel substancial” na dificuldade dos participantes em comer alimentos à base de insetos. Isto porque eles ficaram mais suscetíveis a experimentar insetos quando seus amigos estavam mais inclinados a provar também.

Essas “normas sociais” poderiam ser alteradas com o passar dos anos, de acordo com os pesquisadores Niels Holm Jensen e Andreas Lieberoth, autores do estudo. O título do trabalho – “Nós comeremos comidas nojentas, juntos” – resume a conclusão do experimento: se os alimentos à base de inseto virarem moda, a rejeição pode diminuir consideravelmente.

Esse texto foi publicado originalmente pela Agência Einstein

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