Era pleno verão, janeiro de 2013. O programa daquele fim de semana tinha tudo para ser um passeio agradável no Parque Vitória, em Cascavel, no oeste do Paraná. Mas bastaram 10 minutos de caminhada para que os pulmões do jornalista paraense Jorge Bentes reagissem como se não estivessem gostando do passeio. Aos 31 anos, o rapaz se viu esbaforido. Seus joelhos travaram, como se reclamassem dos 150 quilos que eram obrigados a suportar. “Quando vivi todo esse mal-estar só por estar andando, eu pensei: ‘Opa, existe algo de muito errado aqui’”, conta Bentes.
No mundo inteiro, há milhões de indivíduos passando por situações semelhantes. No Brasil, 54,5% da população adulta apresenta sobrepeso, incluindo nesse grupo os 17,8% que, como Bentes, têm obesidade. Essa incidência foi apontada pelo último Vigitel, pesquisa periódica realizada pelo Ministério da Saúde. E o quadro, apesar de se tornar mais grave a cada ano, é muitas vezes menosprezado.
O peso da negligência
“Você não vê uma pessoa com diabetes receber o diagnóstico e sair do consultório sem a prescrição de um tratamento para controlar a glicose no sangue”, compara Raquel Coelho, endocrinologista e gerente médica de obesidade da Novo Nordisk.
“Quem tem excesso de peso, porém, muitas vezes vai embora sem receber orientação adequada, reforçando a impressão de que, em vez de uma condição de saúde, o excesso de peso é uma questão de indisciplina ou falta de força de vontade”, completa Raquel Coelho.
O preconceito e a confusão, quando não começam nos consultórios, se consolidam antes de ganhar as ruas. Ninguém enxerga uma pessoa com uma doença crônica e, sim, o preguiçoso comilão. “Quem tem obesidade é ofendido o tempo inteiro por olhares e brincadeiras. Ele vai pegar ônibus e teme o momento de passar na catraca. Ele faz alguma coisa diferente e vê o sorriso amarelo das pessoas. Ou, pior, nota o silêncio constrangedor à sua volta”, diz Bentes.
A pressão emocional pode ser descontada no exagero à mesa e faz crescer a vontade de ficar em casa, longe dessas pequenas violências. Sentindo-se mal, a pessoa com excesso de peso não quer enxergar o tamanho do que pensa ser o seu fracasso, pessoal e intransferível.
Aliás, o não enfrentamento de que se está doente é comum. Bentes, por exemplo, não sabia o seu peso até a ida ao parque. A doença que o acompanhava desde menino o fazia fugir da balança, cujos ponteiros podiam lhe apontar a verdade. Mas, graças ao acompanhamento de uma nutricionista e a sessões de atividade física, 80 dos 150 quilos foram embora logo no primeiro ano.
Os males por trás da gordura
A obesidade não caminha simplesmente lado a lado com as doenças do metabolismo. Provavelmente, ela é o empurrão para que outros problemas apareçam. Ora, quanto maior o índice de massa corporal, ou IMC (que é o resultado do peso, em quilos, dividido pela altura em centímetros ao quadrado), de um indivíduo, maior a probabilidade de ele ter hipertensão, colesterol alto ou diabetes.
Esses três fatores já são responsáveis por mais de 90% dos casos de infarto agudo do miocárdio no mundo. E vale lembrar: doenças cardiovasculares, como infartos ou acidentes vasculares cerebrais (AVCs), são responsáveis por sete em cada dez mortes por doença no Brasil.
Após analisar os dados de 4 milhões de pessoas ao redor do planeta, a Universidade de Cambridge, na Inglaterra, concluiu que nada corta mais anos da expectativa de vida do que a obesidade. “Ela favorece o aparecimento de doenças respiratórias, de inflamações no fígado, de certos tipos de câncer, de problemas nas articulações, entre outros.”
Com obesidade e feliz? Vale refletir
É importante, claro, combater toda e qualquer ofensa dirigida ao indivíduo que está com quilos a mais do que o ideal para a saúde. “Ele não precisa ser julgado, ele precisa ser ajudado”, resume Bentes, que compartilha sua experiência de emagrecimento saudável em um blog e nas redes sociais, nos quais soma mais de 300 000 seguidores. O que preocupa, porém, é que mesmo que a pessoa acima do peso esteja metabolicamente saudável naquele momento, ou seja, com todos os exames de sangue normais, o reflexo da obesidade será sentido no futuro.
Para esclarecer que a obesidade vai além das aparências, a Novo Nordisk criou a campanha “Obesidade É o Que Você Não Vê”, com o objetivo de conscientizar a população sobre o impacto do excesso de peso na saúde. A médica Raquel Coelho conta que o movimento é reforçado pelo site Saúde não se pesa com informações para a população em geral.
Neste ano, a campanha “Obesidade É o Que Você Não Vê” traz uma novidade: o “Desafio 10% – Troque 10% do seu peso por mais saúde na sua vida”. “Uma pessoa com 100 quilos precisa saber que, se ela perder 10 deles, a saúde como um todo já vai melhorar”, afirma Raquel. Quer ter uma ideia? Se eliminar 2 quilos, ou seja, passar para os 98 quilos, o risco de desenvolver diabetes tipo 2 já diminui.
Ao perder mais 3 ou 4 quilos, o colesterol e os triglicérides no sangue respondem positivamente. “É bom que todos saibam disso porque a meta fica mais viável e palpável”, diz ela. Jorge Bentes concorda. E aponta o fator psicológico, claro: “Quem tem obesidade quase sempre se acha incapaz. Ao atingir o objetivo inicial de 10% de quilos a menos, o indivíduo muda completamente”. Esses pequenos avanços podem até não aparecer no espelho, mas a saúde – e a autoestima – agradece.