VSR: 10 perguntas e respostas sobre o vírus que ataca bebês e idosos
O vírus sincicial respiratório é especialmente perigoso a quem está nas extremidades etárias. Resolva suas dúvidas sobre essa infecção, dos sintomas à vacinação

Até os 2 anos de vida, praticamente toda criança terá contato com o vírus sincicial respiratório, conhecido pela sigla VSR. Embora ele não provoque sintomas em muitos casos, é capaz de disparar problemas sérios, como a bronquiolite.
Mas a ameaça não se restringe a crianças pequenas. O patógeno também é um perigo para os idosos, podendo disparar complicações pulmonares.
Ao menos existem formas de prevenir a doença e impedir que o quadro provoque danos mais sérios. Diante de um inimigo tão contagioso, VEJA SAÚDE preparou um guia com 10 perguntas e respostas para ajudar você a resguardar toda a família.
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O que é o VSR e por que ele tem preocupado os especialistas?
Trata-se de um vírus da família Pneumoviridae, que tem dois subtipos: o A e o B (ambos muito semelhantes quanto aos problemas que geram). Como o nome de família sugere, o VSR agride especialmente o sistema respiratório.
Ele acessa o organismo pelo nariz ou pela boca e, uma vez lá, infecta as células, replicando-se rapidamente. Suas cópias, então, podem avançar até chegar aos pulmões, disparando uma inflamação local.
“O vírus sincicial respiratório se espalha através de gotículas expelidas, por exemplo, ao falarmos ou espirrarmos. E ele é especialmente resistente em superfícies”, conta a infectologista Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Isso significa que também é possível pegá-lo ao passar a mão em uma objeto contaminado – como um corrimão – e, então, colocá-la na boca. Ah, e dá para ser infectado várias vezes na vida.
Por mais que chame menos atenção do que gripe ou covid-19, em 2024 o VSR liderou os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil – expressão que reúne os episódios severos de infecções que acometem os pulmões.
Dos casos de SRAG reportados no Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 33,8% decorreram desse agente.
A covid-19, a título de comparação, ficou com 19,6%. Importante destacar, no entanto, que o Sars-CoV-2 foi responsável por 52,6% das mortes por SRAG. Ou seja, a covid-19 mata mais que o VSR. Mas o vírus da bronquiolite impacta um número de pessoas especialmente alto, com complicações que comprometem a qualidade de vida.
Por que idosos e crianças são os mais afetados pelo VSR?
Principalmente em pequenos menores de 2 anos, o sistema imunológico ainda está bastante imaturo. Já nos idosos, as tropas de defesa do organismo perdem parte de sua capacidade de proteção. Em ambas as situações, fica mais fácil para o vírus sincicial respiratório crescer e aparecer.
Nessa mesma linha, pessoas imunocomprometidas merecem uma atenção especial. É o caso de certos pacientes em tratamento contra o câncer ou com doenças que comprometem o sistema imunológico, a exemplo da aids. Controlar essas enfermidades reduz o risco de o VSR gerar complicações.
Mas, que fique claro, o VSR também infecta jovens e adultos – e eles inclusive podem repassá-lo a terceiros. Só que, nesses públicos, dificilmente o micróbio provoca sintomas, especialmente os críticos.
Quais as características da infecção em crianças?
Até 75% dos casos de bronquiolite e 40% das pneumonias em crianças são resultado do VSR. E 24,7% dos óbitos por SRAG em 2023 entre menores de 1 ano decorreram por causa do patógeno.
A bronquiolite é uma inflamação dos bronquíolos dos pulmões, as menores ramificações dos brônquios, que levam o ar até os alvéolos, onde o oxigênio será levado para o sangue. O quadro gera um chiado típico, que ajuda o médico a diferenciar essa infecção de outras respiratórias, como a gripe. Além disso, causa falta de ar, cansaço, tosse, congestão nasal, coriza, febre…
“A criança fica amuada e irritável”, observa a infectologista Eliana Bicudo, assessora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
No médio e longo prazo, o quadro eleva o risco de o pequeno apresentar chiado com regularidade, o que é popularmente chamado de síndrome do bebê chiador. Há ainda uma probabilidade aumentada de asma e de danos mais prolongados nos pulmões, que geram falta de ar.
Quais os riscos para os idosos?
Entre 2020 e 2022, o risco de morte em casos de SRAG por vírus sincicial respiratório alcançou 21% em pessoas acima de 60 anos. “Mas esse número passava despercebido porque, nos idosos, os sintomas não são facilmente distinguíveis de outras infecções respiratórias”, esclarece Eliana.
Nos mais velhos, a doença começa com manifestações como:
● Febre
● Nariz entupido ou escorrendo
● Indisposição
● Tosse ou espirro
Ou seja, sem exames, é praticamente impossível diferenciar o VSR de outros vírus prevalentes. Mas, assim como uma gripe, o idoso corre o risco de apresentar falta de ar, confusão mental e pneumonia. Dependendo da situação, ele perde parte da capacidade respiratória de forma permanente.
Diante de uma infecção como essa, doenças crônicas pré-existentes também podem se descompensar. Isso significa que asma, diabetes e problemas cardíacos – entre outros – às vezes aproveitam a brecha para colocarem o organismo em apuros.
O vírus sincicial respiratório dá as caras em algumas épocas do ano?
É possível se infectar o ano todo, porém há períodos em que ele se espalha mais. E isso varia dependendo do local em que você está no Brasil. Confira, a seguir, os meses com maior incidência da infecção, por região:
● Região Norte: de fevereiro a junho
● Nordeste: março a julho
● Centro-Oeste: março a julho
● Sudeste: março a julho
● Sul: abril a agosto
Diante disso, autoridades públicas buscam se preparar para esses momentos. Cada vez mais elas possuem armas modernas para esse objetivo, caso de vacinas.
Quais são os exames e os tratamentos disponíveis hoje?
Para o diagnóstico, existem testes rápidos que confirmam a presença de proteínas do vírus através de uma coleta no nariz. Há também exames moleculares, como o RT-PCR, que podem ser empregados.
Em certas situações, uma única coleta serve para avaliar a presença de diferentes patógenos, como influenza, Sars-CoV-2 e o próprio vírus sincicial respiratório. Mas, em crianças, muitas vezes o quadro é diagnosticado com base nos sintomas, especialmente aquele chiado típico.
Uma vez confirmada a infecção por VSR, não existe um antiviral específico contra o patógeno. O que os profissionais fazem é adotar medidas para confortar a pessoa e deixar o corpo forte. Isso envolve medicamentos para aplacar sintomas, hidratação abundante, repouso…
Dependendo da gravidade, uma internação é necessária para receber oxigênio e suporte para outras complicações. No mais, os médicos ficam de olho mesmo depois da alta para lidar com eventuais sequelas.
O que são os anticorpos monoclonais e qual seu papel contra o VSR?
Quando uma pessoa é atacada por um vírus – ou recebe uma vacina –, o sistema imunológico é estimulado a produzir anticorpos contra essa infecção específica, capazes de debelá-la. Daí os cientistas pensaram: por que não criar um anticorpo já pronto para enfrentar o VSR e, então, infundi-lo em pacientes com maior risco de complicações?
Em 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o palivizumabe, o primeiro anticorpo monoclonal feito para bloquear a ação do vírus sincicial respiratório. No caso, o bebê recebe até cinco doses mensais, o que reduz consideravelmente o risco de o VSR conseguir infectar o organismo e provocar estragos.
Já em 2023, desembarcou no Brasil outro anticorpo monoclonal com essa função: o nirsevimabe. Em um estudo, ele reduziu o risco de bronquiolite e outros problemas pulmonares provocados pelo VSR em 74,5%.
Isso com a vantagem de garantir uma proteção de cinco meses com apenas uma dose à criança.
Existe vacina contra o vírus sincicial respiratório?
Sim, e isso é relativamente novo! A primeira vacina contra essa infecção chegou ao nosso país em 2023, com foco específico nos idosos.
Produzida pela farmacêutica GSK, ela possui pedacinhos (antígenos) de um tipo do vírus, o B. De acordo com a infectologista Nancy Bellei, entretanto, sua eficácia se estende para o tipo A, porque ambos são parecidos. Além disso, conta com um adjuvante – uma substância que potencializa a resposta imune do corpo.
“Isso é positivo, porque os mais velhos tendem a responder menos a vacinas. Com o adjuvante, esperamos que desenvolvam defesas contra o VSR”, esclarece a geriatra Maisa Kairalla, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Já em 2024, chegou ao país outra vacina contra o VSR, essa da farmacêutica Pfizer e voltada principalmente a idosos e gestantes. Mas, no caso das grávidas, a ideia é principalmente proteger seus filhos. Ora, os anticorpos produzidos passam para o bebê pela placenta – ao nascer, ele conta com esses aliados por cerca de seis meses.
O imunizante em questão possui antígenos contra os tipos A e B, e nenhum adjuvante. Ele também pode ser indicado para adultos jovens, desde que apresentem comorbidades que favoreçam a doença.
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O que está disponível no SUS?
O palivizumabe está disponível na rede pública para bebês muito prematuros ou para menores de 2 anos com doença pulmonar crônica ou uma cardiopatia congênita grave. No entanto, recentemente o governo anunciou que disponibilizará novas tecnologias a fim de ampliar o número de brasileiros protegidos.
O niservimabe, aquele anticorpo monoclonal de dose única, é uma delas. Prematuros ou crianças menores de 2 anos com comorbidades terão acesso a ele sem gastar um tostão. Segundo o governo, 300 mil crianças a mais terão acesso aos anticorpos monoclonais com o novo protocolo.
Quanto às vacinas, o produto da Pfizer será incorporado especificamente para as gestantes, com potencial de beneficiar 2 milhões de nascidos vivos, de acordo com o Ministério da Saúde. Não há informações sobre uma possível incorporação para os mais velhos.
Há outras medidas que a gente pode tomar para reduzir o risco da infecção?
Verdade seja dita, o VSR é extremamente contagioso, então é praticamente impossível não entrar em contato com ele alguma vez na vida. Mas, para além das vacinas e dos anticorpos monoclonais, existem estratégias para cruzar menos com ele ao longo do caminho.
Não há segredo. O risco de pegar esse vírus é menor ao lavar as mãos com frequência, manter distância de pessoas infectadas, evitar grandes aglomerações dentro do possível, higienizar as superfícies… Quem apresenta sintomas de uma infecção respiratória, por sua vez, pode ficar em casa (ou no hospital, se necessário) e usar máscara para não espalhar tanto a doença.
Fora isso, recomenda-se ter um estilo de vida saudável, com exercícios físicos, alimentação balanceada, boas noites de sono e práticas que aliviem o estresse. Quanto mais forte estiver o corpo, maior a chance de ele expulsar o VSR do corpo sem você nem dar conta disso.