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Uma pessoa morreu a cada minuto por doenças relacionadas à aids em 2022

Casos reduziram em comparação ao pico dos anos 1990, mas número de infecções pelo HIV aumentou na América Latina, segundo relatório divulgado pela Unaids

Por Lucas Rocha
Atualizado em 13 jul 2023, 10h08 - Publicado em 13 jul 2023, 10h05

O número de novas infecções pelo HIV no mundo caiu 59% desde o pico em 1995. Em 2022, foram registrados cerca de 1,3 milhão de casos, em comparação com 3,2 milhões naquele ano.

Desde 2010, o contágio diminuiu 38%, passando de 2,1 milhões para 1,3 milhão no ano passado. Os casos em crianças apresentaram queda de 58%, de 310 mil em 2010 para 130 mil em 2022.

Na América Latina, o número de mortes relacionadas à aids diminuiu 32% desde 2010, mas o número anual de novas infecções aumentou 8%. Ao menos dez países latino-americanos registraram aumento de casos nos últimos 12 anos.

Os novos dados são de um relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), divulgado nesta quinta-feira, 13.

Segundo o documento, no final de dezembro do ano passado, 29,8 milhões de pessoas faziam o tratamento antirretroviral no mundo, um aumento considerável em relação aos 7,7 milhões em 2010. O índice representa 76% das pessoas vivendo com HIV.

O recorte por idade e gênero aponta que 77% dos adultos com 15 anos ou mais vivendo com HIV tinham acesso aos medicamentos, assim como 57% das crianças de 0 a 14 anos.

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Além disso, 82% das mulheres com 15 anos ou mais fazem a terapia. No entanto, apenas 72% dos homens com 15 anos ou mais recebem os remédios. Entre as mulheres grávidas, 82% tomavam os antirretrovirais, o que previne a transmissão do HIV para o bebê.

+ Leia também: HIV: um olhar muito além do vírus

95 – 95-95 e o fim da aids

O relatório do Unaids destaca que as barreiras para acabar com a aids (síndrome da imunodeficiência adquirida) são uma ameaça à saúde pública. O caminho do enfrentamento inclui escolhas políticas e financeiras.

A Unaids propôs, em 2021, as metas “95-95-95”. A política visa que 95% das pessoas que vivem com HIV conheçam seu status sorológico, 95% dos indivíduos diagnosticados façam o tratamento antirretroviral e 95% das pessoas em terapia tenham a carga viral suprimida.

Carga viral é o nome técnico para a quantidade de vírus presente no sangue. Ou seja, quanto mais cópias o vírus produz durante a infecção, maior será a carga viral.

“Atingir essas metas é fundamental, uma vez que fazer o diagnóstico e começar o tratamento precocemente diminui a cadeia de transmissão. Assim, as pessoas se mantêm indetectáveis, e não transmitem o HIV para as suas parcerias sexuais”, afirma o médico infectologista Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

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O HIV não é transmitido por pessoas que realizam o tratamento antirretroviral e que estão há pelo menos seis meses com a carga viral indetectável nos exames clínicos. Indetectável = Intransmissível (I = I) é um conceito adotado pela comunidade científica e instituições de referência sobre HIV.

Nesse contexto, o tratamento do HIV é feito com a utilização de medicamentos que reprimem o processo de replicação. Os antirretrovirais têm como objetivo reduzir a carga viral a níveis indetectáveis pelos exames clínicos, evitando assim o enfraquecimento do sistema imunológico.

+ Leia também: Novo tipo de HIV é detectado

De acordo com o Unaids, países como Botsuana, Essuatíni, Ruanda, Tanzânia e Zimbábue já alcançaram as metas “95-95-95”. Outros 16 países, oito dos quais na África subsaariana, região que representa 65% de todas as pessoas vivendo com HIV, também estão próximos de alcançar os objetivos.

“O fim da aids é uma oportunidade para as lideranças de hoje deixarem um legado extraordinariamente poderoso para o futuro”, disse Winnie Byanyima, diretora-executiva do Unaids, em comunicado. “Essas lideranças podem ser lembradas pelas gerações futuras como aquelas que puseram fim à pandemia mais mortal do mundo. Podem salvar milhões de vidas e proteger a saúde de todas pessoas”.

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Medicamento utilizado no tratamento do HIV (Foto: Mariana Raphael/Agência Saúde DF/Divulgação)

Cenário da América Latina

O documento aponta que os países latino-americanos alcançaram progressos importantes na expansão do acesso ao tratamento, mas obtiveram menos ganhos no que diz respeito à prevenção.

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“Ainda falamos pouco sobre HIV, ainda mais sobre esses avanços, especialmente no conceito indetectável = intransmissível. São necessárias campanhas de conscientização fora dos períodos clássicos como Dezembro Vermelho ou Carnaval e aproveitar o papel de influenciadores digitais para falar sobre a doença”, afirma Furtado.

Na América Latina, o número anual de novas infecções aumentou 8% desde 2010. Separando por gênero, houve diminuição de 14% entre as mulheres, mas aumentou 17% entre os homens comparando o período 2010–2022. No ano passado, foram diagnosticados 110 mil casos, com cerca de 2,2 milhões de pessoas vivendo com HIV na região.

O número de mortes relacionadas à Aids diminuiu 32% desde 2010, mas ao menos dez países latino-americanos registraram aumento de casos nos últimos 12 anos.

+ Leia mais: Acabar com as desigualdades para superar a aids e futuras pandemias

A prevalência média de HIV entre pessoas de populações-chave é significativamente maior do que na população em geral, atingindo 9,5% entre gays e outros homens que fazem sexo com homens (dados de 12 países) e 14,7% entre pessoas trans (informações de nove nações).

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Em 2022, a porcentagem de pessoas em terapia antirretroviral aumentou para 72%, mas as lacunas de serviços dificultam o acesso a programas de tratamento e assistência em muitos países da América Latina.

Devido ao fracasso em obter o diagnóstico oportuno, ainda é comum que pessoas descubram a infecção já com sinais da doença. Em 13 países da região, pelo menos 25% dos novos diagnósticos são classificados como infecção avançada pelo HIV.

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Cuidados durante a gravidez previnem a transmissão do HIV para o bebê (Foto: Freestocks/Unsplash/Divulgação)

Respostas ao HIV

O relatório do Unaids também destaca o que está por trás do sucesso nas respostas ao HIV, como ter uma forte liderança política, por exemplo.

O documento menciona ações como o respeito à ciência, dados e evidências, enfrentamento das desigualdades, fortalecimento das comunidades e das organizações da sociedade civil, além da garantia de financiamento suficiente e sustentável.

Segundo o relatório, o progresso no combate à Aids tem sido mais significativo nos países e regiões que têm maior investimento financeiro.

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Na África Oriental e Austral, por exemplo, as novas infecções por HIV foram reduzidas em 57% desde 2010 e o número de pessoas em tratamento triplicou, passando de 7,7 milhões em 2010, para 29,8 milhões em 2022.

Com apoio e investimento no combate à Aids em crianças, 82% das mulheres grávidas e lactantes vivendo com HIV em todo o mundo tiveram acesso aos antirretrovirais em 2022, em comparação com 46% em 2010. O avanço levou a uma redução de 58% nas novas infecções em crianças de 2010 a 2022, o número mais baixo desde a década de 1980.

O Unaids destaca ainda que o fortalecimento do progresso na resposta ao HIV está associado à garantia de direitos humanos. Nesse contexto, vários países revogaram leis prejudiciais em 2022 e 2023, incluindo cinco (Antígua e Barbuda, Ilhas Cook, Barbados, São Cristóvão e Nevis e Singapura) que criminalizavam as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

Desafios para o fim da Aids

Uma pessoa morreu a cada minuto por doenças relacionadas à aids em 2022, com cerca de 630 mil óbitos no mundo.

Apesar dos números alarmantes, o índice foi reduzido em 69% desde o pico em 2004 (2 milhões de vítimas) e em 51% desde 2010 (1,3 milhão de vidas perdidas). Segundo o Unaids, a mortalidade diminuiu em 55% entre mulheres e em 47% entre homens desde 2010.

Cerca de 9,2 milhões de pessoas ainda não têm acesso ao tratamento, incluindo 660 mil crianças. Mulheres e meninas ainda são desproporcionalmente afetadas, especialmente na África subsaariana.

+ Leia também: Sim, precisamos falar da prevenção do HIV

Globalmente, 4 mil jovens mulheres e meninas foram infectadas pelo HIV a cada semana em 2022. Quase um quarto (23%) das novas infecções por HIV ocorreram na Ásia e no Pacífico, onde os índices estão aumentando em alguns países.

De acordo com o Unaids, aumentos acentuados de casos acontecem no Leste da Europa e na Ásia central (alta de 49% desde 2010) e no Oriente Médio e Norte da África (elevação de 61% desde 2010).

Essas tendências são principalmente devido à falta de serviços de prevenção do HIV para populações marginalizadas e às barreiras impostas por leis punitivas e discriminação social, segundo o Unaids.

Financiamento

O financiamento para o HIV diminuiu em 2022, tanto de fontes internacionais quanto domésticas (incluindo os setores público e privado), retornando ao mesmo nível de 2013.

Segundo o relatório, o investimento totalizou US$ 20,8 bilhões em 2022, abaixo da meta de US$ 29,3 bilhões necessários até 2025. No Brasil, houve uma queda drástica de investimento em campanhas de conscientização da doença. Em 2021, foram investidos apenas 0,6% do montante aportado em 1998 e o subfinanciamento dos programas de acesso a diagnóstico e tratamento preocupa.

“Estamos esperançosos de acabar com a Aids, mas não ainda o otimismo tranquilo que surgiria se tudo estivesse indo como deveria. Pelo contrário, é uma esperança fundamentada em ver que existem oportunidade de sucesso, mas que dependem de ação”, diz Winnie.

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