Depois de décadas sem grandes novidades, o câncer de bexiga ganhou um novo inimigo no Brasil: o medicamento pembrolizumabe, da farmacêutica MSD. Esse tratamento, que se encaixa na chamada imunoterapia, aumentou as chances de sobrevivência após quase dois anos de acompanhamento – não à toa, acaba de ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Para ser mais exato, a medicação é voltada especificamente para os tumores uroteliais de bexiga. “É o subtipo mais comum desse câncer, representando 95% de todos os casos”, relata o oncologista Fernando Maluf, da BP – Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
A droga vai entrar em cena apenas nos estágios avançados, quando a doença acometeu boa parte do órgão ou se espalhou para outros cantos do corpo. E só quando a quimioterapia tiver falhado.
Os benefícios do tratamento
Em comparação com uma segunda dose de quimioterápicos nos pacientes com câncer de bexiga avançado, o pembrolizumabe reduziu em 30% o risco de morte. Isso ao longo de 22,5 meses, tempo de duração do estudo que serviu de base para a aprovação na Anvisa.
“O interessante é que, em alguns pacientes, a resposta é especialmente positiva”, afirma Maluf. Como assim? “Ela dura por bastante tempo, o que dá sobrevida com qualidade”, responde o especialista.
Além disso, esse remédio imunoterápico é mais tolerado. Ou seja, apresenta menos reações adversas do que a quimioterapia. “O desafio, hoje, é saber quais indivíduos responderão melhor ao tratamento e quais infelizmente não se beneficiariam dele”, pondera Maluf. “Se tivéssemos uma forma precisa de separar esses grupos, otimizaríamos os resultados e não gastaríamos recursos desnecessários”, completa.
Pois é: como esse tratamento é bem caro, o ideal seria usá-lo apenas em quem vai tirar mais proveito dele.
Como o remédio funciona
A lógica é a mesma de outros imunoterápicos. Ou seja, o pembrolizumabe ajuda o corpo a enxergar o câncer como uma ameaça. Com isso, as nossas próprias células de defesa atacam o inimigo em vez de deixa-lo crescer numa boa.
É um mecanismo considerado revolucionário, porque, ao contrário de todas as outras linhas de tratamento, não foca diretamente a doença, mas o sistema imune. Até por isso, a imunoterapia foi eleita como avanço do ano pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica – e abre as portas para que uma mesma medicação seja usada contra alguns tipos diferentes de tumor.
O pembrolizumabe, por exemplo, também já é usado no Brasil contra o melanoma (um câncer de pele bem agressivo) e para tumores de pulmão.
O câncer de bexiga em si
Em 2017, são esperados quase 10 mil novos casos dessa enfermidade, segundo o Instituto Nacional de Câncer. A encrenca é mais prevalente em homens por volta dos 65 anos e o tabagismo aumenta em três vezes o risco de sofrer com ela. O principal sintoma é o sangramento na urina.
Se detectado em estágios iniciais, o câncer de bexiga tem boas chances de cura. “Podemos utilizar a cirurgia ou a radioterapia para lidar com ele nesse contexto. E, às vezes, até mesmo a químio”, explica Maluf.
De novo: é só em situações mais graves que a imunoterapia vira uma opção.