Ao menos 5,6 bilhões de pessoas, cerca de 71% da população mundial, estão protegidas por pelo menos uma política pública voltada ao combate do tabaco.
O número é cinco vezes mais alto do que em 2007, de acordo com um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado nesta segunda-feira, 31.
As taxas de tabagismo caíram no mundo nos últimos 15 anos devido às medidas de controle preconizadas pela instituição. A OMS estima que, sem esse declínio, haveria cerca de 300 milhões de fumantes a mais no mundo neste momento.
O documento da OMS sobre a epidemia global de tabaco, apoiado pela Bloomberg Philanthropies, concentra-se na proteção contra o fumo passivo, destacando que quase 40% dos países agora têm locais públicos internos totalmente livres de fumo.
Cerca de 1,3 milhão de pessoas morrem anualmente devido ao fumo passivo, estima a OMS.
Para reduzir estas estatísticas, a Convenção Quadro para o Controle do Tabagismo (tratado da entidade) tem em seu escopo a criação de ambientes livres de tabaco.
“Evidências robustas apontam que a exposição involuntária ao tabaco aumenta riscos de eventos cardiovasculares, doenças respiratórias e câncer na população em geral, e outras complicações para grávidas e fetos”, destaca o médico pneumologista Gustavo Prado, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Prado alerta que crianças expostas à fumaça têm mais sintomas respiratórios, infecções, crises de asma e menor desenvolvimento dos pulmões. Adultos podem ter o risco de infarto e câncer aumentados em 30% em comparação àqueles que não são expostos.
Histórico e conquistas recentes
O primeiro tratado internacional de saúde pública da OMS, que tinha como foco o controle do tabagismo, foi adotado em 2003 e entrou em vigor em 2005, já com o Brasil como signatário.
O relatório atual avalia o progresso do combate ao fumo e mostra que mais dois países, Maurício e Holanda, alcançaram o nível de melhores práticas em todas as medidas recomendadas pela entidade. Até agora, apenas Brasil e Turquia haviam alcançado esse patamar.
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“Os dados mostram que lenta, mas seguramente, mais e mais pessoas estão sendo protegidas pelas políticas de melhores práticas baseadas em evidências da OMS”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
Os espaços públicos livres de fumo são apenas uma das políticas no conjunto de medidas para controle do tabagismo, que incluem ainda restrições à propaganda e taxação de impostos, entre outras.
Além da proteção contra o fumo passivo, estes ambientes motivam as pessoas a interromper o hábito e ajudam a impedir que os jovens comecem a fumar ou usar cigarros eletrônicos.
“Se não fosse essa medida, os não fumantes sujeitos a manifestar as mesmas doenças que os tabagistas, apenas por permanecer nos mesmos espaços, mesmo que não ao mesmo tempo”, diz Prado.
Impactos para a saúde
Os mais conhecidos pela população são os malefícios para o pulmão e o risco de câncer. “Na combustão do tabaco, temos diversas substâncias que são cancerígenas e que inflamam a via área pulmonar, com risco de destruição de estruturas, podendo levar a problemas como bronquite e enfisema”, afirma o médico pneumologista José Rodrigues Pereira da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP)
Mas não é só isso. O tabagismo está relacionado ao surgimento de diversas doenças e problemas de saúde, incluindo diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC), tuberculose, impotência e infertilidade.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o fumo provoca a maior parte de todos os tumores de pulmão no país. Mesmo os produtos que não fazem fumaça, como o tabaco inalável ou mascado, podem levar ao desenvolvimento de câncer de cabeça, pescoço, esôfago e pâncreas, além de doenças que afetam a boca e os dentes.
Embora as taxas de tabagismo tenham diminuído, o tabaco ainda é a principal causa de morte evitável no mundo, segundo a OMS.
E o progresso é ameaçado pela ascensão dos cigarros eletrônicos, que também fazem mal à saúde, incluindo o risco de problemas respiratórios agudos, e são atraentes em especial para o público jovem.
A OMS também alerta que as emissões dos “vapes” geralmente contêm nicotina e outras substâncias tóxicas que são prejudiciais aos usuários e fumantes passivos.
Incidência no Brasil
A prevalência de tabagismo no Brasil é de 11,8%, incluindo o uso de cigarro convencional, de palha, de papel, charuto e cachimbo.
Os dados são do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), que ouviu 9 mil pessoas, de todas as regiões do Brasil, entre janeiro e abril.
De acordo com a pesquisa, quem mais fuma são os homens (15,2% deles são fumantes, ante 8,7% das mulheres), pessoas do Sul do país (15,8% dos moradores da região fumam) e indivíduos com idades entre 45 e 54 anos (15,2% das pessoas nessa faixa têm o hábito).
O Programa Nacional de Controle do Tabagismo busca reduzir a prevalência de fumantes e a mortalidade relacionada ao consumo do tabaco e seus derivados no Brasil.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamentos gratuitos às pessoas que desejam parar de fumar por meio de medicamentos como adesivos, pastilhas, gomas de mascar (terapia de reposição de nicotina) e bupropiona, além do acompanhamento médico.