Projeto de inclusão digital vence Women’s Health Tech Weekend
Evento reuniu profissionais de diversas áreas para pensar em soluções tecnológicas que beneficiem a ala feminina
“Se as mulheres tivessem inventado a mamografia, será que doeria tanto?”, questiona Jaqueline Venturim, estudante de sistemas de informação. Ela compôs a equipe vencedora do primeiro Women’s Health Tech Weekend (WHTW), evento que se propõe justamente a incorporar a perspectiva feminina no desenvolvimento de tecnologias que beneficiem a saúde.
Promovido pela UP[W]IT e pela Crossing Connection Health, com apoio da Comnaction e do Merkaz, o evento aconteceu em formato de hackathon. Isso nada mais é do que uma maratona de programação em que profissionais de diversas áreas se reúnem para criar projetos e discutir ideias inovadoras. Iniciativas como essas podem demorar horas, dias ou até semanas.
No caso do WHTW, foram 30 horas de atividades intensas dentro de um clube da capital paulista — 80% dos participantes eram mulheres. Palestrante do evento, a psicóloga Isabella Quadros, sócia-diretora da Angatu Integração e Desenvolvimento Humano (SP), mencionou a relevância de incluir as idosas nesse contexto tecnológico. Segundo ela, a principal patologia da velhice é a concepção que temos dela. “A perda de autonomia, segundo o último Censo [de2010], é mais temida do que a própria morte. É preciso ter um projeto de vida para viver com significado na terceira idade”, afirmou, em sua palestra.
E o projeto campeão desse hackaton corrobora a fala de Isabella. Trata-se de um curso presencial, chamado EmpoderaMarta, para idosas aprenderem a utilizar tecnologias e de um site para que, depois do encontro, elas continuem progredindo por meio de tutoriais. “Percebemos que existem diversos aplicativos para as idosas, mas muitas vezes elas não conseguem usá-los por não saberem mexer com os aparelhos”, explicou Jaqueline, durante a apresentação do projeto às juradas.
A ideia do EmpoderaMarta surgiu porque Marta Ianovalli — mãe da Pamela, uma das integrantes do grupo — foi até o evento acompanhar a filha. E ela é justamente uma mulher que deseja se inserir no mundo digital, porém nunca teve contato próximo com ele.
Durante o WHTW, a equipe aproveitou para produzir um vídeo tutorial de como enviar imagens pelo WhatsApp e um esboço de como será o site. A ideia é estabelecer uma metodologia para que o curso possa ser replicado em qualquer lugar do país.
Mais propostas em destaque
Em segundo lugar ficou o projeto Transaúde, um site voltado para mulheres transexuais e profissionais de saúde que as atendem. Em resumo, ele pretende trazer informações, vídeos, artigos e até leis que contribuem tanto para a formação do especialista quanto para as pacientes. O protótipo ainda prevê uma rede de apoio às pessoas trans, que convivem com a discriminação quase diariamente.
A ideia surgiu a partir da palestra de Daniela Andrade, analista de sistemas da Thoughtworks, uma empresa de tecnologia. Mulher transexual, Daniela trouxe informações relevantes sobre deficiências do sistema de saúde no atendimento a populações vulneráveis. “Mesmo quando uma mulher transexual chega no pronto-socorro com uma dor na unha, acaba sendo encaminhada para o setor de doenças infecciosas ou para o ambulatório específico de atendimento para Travestis e Transexuais. Tudo por preconceito”, contou.
De acordo com ela, os profissionais raramente passam por um treinamento para lidar com as necessidades das pessoas transexuais. E, claro, isso dificulta demais o acesso a cuidados básicos.
Já a equipe que ficou em terceiro lugar se voltou para as gestantes. Seus integrantes criaram uma plataforma, batizada de CollabeCare, que traz informações para todas as fases da gravidez. O médico também pode ter acesso e fazer o acompanhamento da paciente à distância.
Mais seis projetos foram apresentados para a banca de juradas, entre as quais estava a editora da Revista SAÚDE (da Editora Abril), Thaís Manarini. “As ideias são muito relevantes. Só é preciso ter cuidado para que a origem das informações que alimentarão as plataformas seja confiável”, atentou a jornalista, em seu discurso.
Outra jurada, a jornalista Fabiane Leite, produtora do programa Bem-Estar, parabenizou os temas escolhidos: “Os grupos direcionaram o trabalho para questões realmente sensíveis. Fiquei feliz em ver que estão com o pé na realidade”.
Os três primeiros colocados ganharam, entre outras coisas, cursos individuais e orientação personalizada para dar continuidade aos seus projetos. Que iniciativas como a do WHTW coloquem a mulher no centro do palco da saúde.