A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Público de Saúde (Conitec) aprovou a inclusão no SUS do primeiro remédio indicado especificamente para asma grave. Produzido pela farmacêutica Novartis, o omalizumabe é um medicamento biológico e será disponibilizado nos hospitais públicos de referência a partir do final de junho de 2020, segundo o Ministério da Saúde.
Antes de falarmos sobre a ação dessa droga (já disponível no sistema privado), é necessário entender o que é a asma grave. De acordo com a alergologista Yara Arruda Marques Figueiredo Mello, da Associação Brasileira de Asmáticos (Abra), ela pode ser definida como uma versão da doença que não é controlada mesmo quando seu portador segue todo o tratamento e as recomendações do médico. Os sintomas mais intensos e frequentes (e podem levar à morte).
Para quem não sabe, a asma é uma enfermidade inflamatória sem cura que acomete os pulmões. Durante uma crise, o indivíduo apresenta sintomas como tosse, chiado no peito e falta de ar.
Estima-se que 300 milhões de pessoas são asmáticas no mundo, sendo 20 milhões brasileiras. De 5% a 10% dos casos possuem asma grave.
Yara conta que alguns portadores da asma até sofrem com crises mais fortes, porém conseguem evitar essas repercussões ou ao menos amenizá-las consideravelmente se mantiverem o tratamento em dia. E sim: esse problema respiratório exige medicação constante, inclusive quando os sintomas somem.
“Mas existe uma parcela pequena de pacientes que não responde à terapia-padrão adequadamente. A gente faz tudo conforme os protocolos, a pessoa adere ao tratamento e, mesmo assim, fica difícil controlar”, relata a especialista. “Há estratégias mais modernas e diferenciadas que só recomendamos para esse grupo específico, que tem asma grave”, afirma. É aí que entra o omalizumabe.
Como o omalizumabe age contra a asma grave
O tratamento para essa encrenca se divide em dois. Há os medicamentos utilizados durante a manifestação dos sintomas para tentar aliviar a crise e os de uso contínuo. É nessa segunda categoria que entra o omalizumabe.
Seu diferencial, no entanto, é ser um anticorpo monoclonal anti-IgE. Oi? Calma que vamos explicar.
Entre os vários componentes do nosso sistema imunológico, existe o anticorpo IgE, que, em doses normais, ajuda a combater infecções. O problema é que, em gente com alergia, o simples contato com ácaro, poeira, fumaça de cigarro e outras substâncias alérgenas promove um aumento expressivo da produção de IgE. É como se o organismo reconhecesse esses componentes como grandes inimigos e desencadeasse uma reação desproporcional.
Na asma, essa superativação das nossas defesas naturais afeta o funcionamento dos brônquios. A função do omalizumabe, portanto, é bloquear a ação do anticorpo IgE. Com isso, há uma queda no risco de o contato com substâncias alérgenas gerar essa resposta exagerada do organismo. O medicamento é aplicado com uma injeção a cada 15 ou 30 dias e os efeitos colaterais são mínimos.
Para Yara, a novidade traz ganhos na qualidade de vida por diminuir as crises de asma grave e minimizar sua intensidade. “Falando em repercussão socioeconômica, esses pacientes oneram o sistema, porque são internados muitas vezes. Embora a medicação também tenha um custo alto, o impacto econômico será positivo”, opina a profissional.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o preço máximo de venda ao governo do omalizumabe varia de R$ 694,46 a 1736,16 por frasco, dependendo da concentração do princípio ativo e do estado. Segundo Yara, cada paciente usa um frasco ou mais por aplicação, que, como dissemos, pode ser refeita a cada 15 ou 30 dias.